De acordo com um relatório de campo do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), em julho os confrontos entre grupos armados e as forças de segurança moçambicanas resultaram no deslocamento de 56.215 pessoas.
"O número de incidentes registados aumentou de 72 em junho para 82 em julho. Uma mudança significativa também foi observada na distribuição geográfica da violência, que se expandiu para o sul, para Ancuabe, Chiúre [Cabo Delgado] e Eráti [Nampula]", refere-se no documento.
A província de Cabo Delgado, no norte do país, rica em gás, enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humanitária, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
De acordo com aquela agência da ONU, essa expansão restringiu agora ainda mais o acesso rodoviário a Macomia ao longo da estrada Número 380 [N380], tanto do norte quanto do sul: "o OCHA estima que mais de 208.122 civis foram afetados --- direta e indiretamente --- pela violência".
No documento avança-se que em julho foram relatados um total de 47 ataques contra civis, abrangendo assassínios, sequestros, extorsão e saques, que resultaram em "pelo menos 29 mortes e 69 sequestros" e na interrupção de meios de subsistência, além de terem provocado deslocamentos e reforçarem um "clima de medo".
"Chiúre e Macomia registaram o maior número de incidentes, seguidos por Ancuabe e Muidumbe. Além disso, o estabelecimento de nove postos de controlo informais de veículos ao longo da N380 e da Estrada Número 14 restringiu significativamente o acesso humanitário, atrasando a assistência a mais de 85 mil pessoas em Macomia e Muidumbe", explica-se.
A agência da ONU avança ainda que os conflitos entre os Grupos Nacionais de Apoio e as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas, incluindo forças locais, intensificaram-se em Chiúre, no litoral de Macomia e em Muidumbe.
"Em Macomia, os combates nas áreas costeiras e no norte desestabilizaram ainda mais a região, levando ao deslocamento de 1.545 pessoas afetadas (309 pessoas desabrigadas) para duas áreas de reassentamento recém-estabelecidas em Macomia Sede. A ameaça de dispositivos explosivos improvisados persistiu, com dois incidentes relatados em Mucojo, distrito de Macomia, visando veículos militares", refere.
Em julho, os grupos armados não estatais também aumentaram os esforços de divulgação junto das comunidades locais em Quissanga, Macomia e Naquidunga, com a realização de aulas religiosas, refeições comunitárias, visitas a centros de saúde e reuniões para incentivar os moradores a manterem as rotinas diárias, "enquanto simultaneamente aumentavam as taxas de coleta".
"Em 29 de julho, antes de deixar a aldeia de Pangane (Mucojo), os grupos armados colocaram bandeiras do Estado Islâmico nas entradas da aldeia. Em 12 de julho, atacaram e saquearam uma 'minivan' de passageiros e um caminhão de carga perto de Xitaxi (Muidumbe). Pelo menos nove incidentes semelhantes foram relatados durante o mês, com pedidos de resgate variando de 10.000 [133,4 euros] a 300.000 [4.000 euros] meticais", descreve.
Em resposta às "crescentes ameaças", a polícia retomou as escoltas armadas entre a sede de Macomia e a localidade de Oasse, em Mocímboa da Praia, para garantir o acesso humanitário, contudo, "atrasos administrativos" continuam a dificultar as operações humanitárias, acrescentou o OCHA.
Só em 2024, pelo menos 349 pessoas morreram em ataques de grupos extremistas islâmicos no norte de Moçambique, um aumento de 36% face ao ano anterior, segundo um estudo divulgado pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), uma instituição académica do Departamento de Defesa do Governo norte-americano.
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