Entre os requisitos, o organismo militar responsável por supervisionar a entrega de ajuda no território cercado, o COGAT, está a exigência de fornecer informações sobre os seus trabalhadores, para, segundo Israel, evitar que o grupo islamita Hamas, que controla o enclave, beneficie da distribuição.
O organismo militar reagiu assim a um comunicado assinado por mais de uma centena de ONG -- entre elas a Plataforma Portuguesa das Organizações Não-Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD), Cáritas, Oxfam ou os Médicos Sem Fronteiras (MSF) -- em que denunciam que Israel não lhes permitiu entregar um único camião com abastecimentos desde março.
"O alegado atraso na entrada de ajuda, segundo as organizações signatárias, só acontece quando estas decidem não cumprir os requisitos básicos de segurança, concebidos para evitar o envolvimento do Hamas", afirmou o COGAT nas redes sociais.
Estes "requisitos" dizem respeito a uma nova regulamentação, aprovada no início de março pelas autoridades israelitas, que obriga as organizações internacionais a registar informações sensíveis sobre os seus trabalhadores palestinianos.
No comunicado, as ONG alertaram que este registo pode pôr em risco os seus funcionários e recordaram que 98% dos trabalhadores humanitários mortos em todo o mundo são palestinianos.
Segundo o COGAT, o processo de registo assenta em "critérios profissionais e de segurança claros", concebidos para impedir "a infiltração de elementos terroristas", numa referência a membros do Hamas. Israel acusa, sem apresentar provas, este grupo islamita de se apropriar da ajuda humanitária que entra em Gaza.
"A recusa de algumas organizações internacionais em fornecer informações e cooperar com o processo de registo levanta sérias dúvidas sobre as suas verdadeiras intenções", acrescentou o organismo militar israelita.
Desde o início da ofensiva israelita contra Gaza, após os ataques do Hamas de 07 de outubro de 2023, foram mortos no enclave 508 trabalhadores humanitários: 346 da ONU, 51 do Crescente Vermelho Palestiniano, quatro do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e 107 de outras organizações, segundo dados do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
No comunicado, as 102 organizações não-governamentais afirmaram que as autoridades israelitas impõem efetivamente restrições à entrada de ajuda na Faixa, ao contrário do que defende Israel, e que milhões de dólares em alimentos, medicamentos e água estão retidos em armazéns na Jordânia e no Egito "enquanto os palestinianos passam fome".
O COGAT afirmou, por seu lado, que na quarta-feira entraram em Gaza 380 camiões com ajuda humanitária; outros 400 foram recolhidos e distribuídos no enclave pela ONU e outras entidades, e 119 paletes de alimentos foram lançadas por via aérea por seis países.
De acordo com as organizações humanitárias, deveriam entrar na Faixa pelo menos 500 camiões por dia, cada um com cerca de 25 toneladas de carga. Dados oficiais israelitas indicam que, em junho, entravam diariamente entre 50 e 100 camiões.
Desde o final de julho, quando foram anunciadas pausas humanitárias, começaram a entrar 200 por dia, número que subiu para cerca de 300 atualmente, enquanto o Governo de Gaza diz que o total não ultrapassa os 100.
Na declaração, as ONG denunciaram que Israel ameaçou proibir a atuação das principais organizações de ajuda humanitária nos territórios palestinianos, numa altura em que se agrava a fome na Faixa de Gaza e expressaram "alerta e repúdio" face à decisão israelita de banir as grandes organizações internacionais de ajuda humanitária de Gaza, ao mesmo tempo que a fome se agrava no enclave palestiniano.
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