O Governo militar do Mali começou na segunda-feira a devolver os manuscritos históricos de Timbuktu, levados quando a cidade foi ocupada por militantes ligados à Al-Qaida há mais de uma década, noticia hoje a Associated Press (AP).
Segundo as conclusões de uma missão de especialistas das Nações Unidas, radicais islâmicos destruíram mais de 4.000 manuscritos, alguns datados do século XIII, depois de tomarem Timbuktu, a lendária cidade do Mali, em 2012.
Os especialistas da ONU referem, ainda, que os radicais islâmicos destruíram, também, nove mausoléus e a porta de uma mesquita - todos os edifícios, exceto um, que constavam da lista do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
A maioria dos documentos que datam do século XIII - mais de 27.000 - foram salvos pelos guardiões malianos da biblioteca de Timbuktu, que os transportaram para fora da cidade ocupada em sacos de arroz, em carroças puxadas por burros, em motocicletas, em barcos e em veículos com tração nas quatro rodas.
O primeiro lote de manuscritos foi levado para Timbuktu de avião a partir de Bamako, disseram as autoridades, acrescentando que o retorno era necessário para protegê-los das ameaças da humidade da capital.
O carregamento consistiu em mais de 200 caixotes e pesava cerca de 5,5 toneladas. O restante será enviado nos próximos dias, adiantam as autoridades.
A cerca de 706 quilómetros (439 milhas) de Bamako, Timbuktu fica na borda do deserto do Saara e tem um clima seco. Durante anos, as autoridades municipais e religiosas locais pediram a devolução dos manuscritos.
Diahara Touré, vice-presidente da Câmara de Timbuktu, disse que os famosos documentos são importantes para a população local, pois "refletem a nossa civilização e herança espiritual e intelectual".
"Esta é a primeira etapa" da devolução, disse Bilal Mahamane Traoré, um funcionário local.
Em fevereiro, o Governo militar comprometeu-se a devolver os manuscritos, de acordo com Bouréma Kansaye, ministro da Educação Superior do Mali, que descreveu os documentos como um "legado que testemunha a grandeza intelectual e a encruzilhada da civilização" da cidade de Timbuktu --- "uma ponte entre o passado e o futuro".
"Agora temos a responsabilidade de proteger, digitalizar, estudar e promover esses tesouros para que continuem a iluminar o Mali, a África e o mundo", disse Kansaye, durante a cerimónia de devolução na segunda-feira.
Os manuscritos, que a UNESCO designou como parte do Património Cultural Mundial, abrangem uma quantidade grande e indeterminada de assuntos, desde teologia e jurisprudência islâmicas, astronomia, medicina, matemática, história e geografia. São um testemunho da rica herança cultural dos impérios do Mali e Songhai na África Ocidental.
O Mali, juntamente com os vizinhos Burkina Faso e Níger, luta há muito tempo contra uma insurgência de militantes armados, incluindo alguns aliados da Al-Qaida e do grupo Estado Islâmico. Após dois golpes militares, a junta governante expulsou as tropas francesas e recorreu à Rússia para obter assistência em matéria de segurança.
Ainda assim, 13 anos após a ocupação de Timbuktu, a situação de segurança no Mali continua precária e os analistas afirmam que piorou nos últimos meses. Embora a cidade esteja novamente sob o controlo do Governo, os militantes continuam a atacar os arredores.
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