O ministro da Defesa israelita avisou hoje que vai assegurar que o Exército cumpre as decisões políticas sobre a Faixa de Gaza, após a divulgação da oposição do chefe do Estado-Maior à ocupação total do enclave palestiniano.
"Assim que a liderança política tomar as decisões necessárias, a liderança militar, como fez em todas as frentes de guerra até à data, implementará profissionalmente a política determinada", declarou Israel Katz, durante uma visita a uma base militar na "zona tampão" da Faixa de Gaza.
As palavras de Katz surgem no dia em que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manteve uma reunião de cerca de três horas com o chefe das forças armadas, Eyal Zamir.
O encontro sucede depois de a imprensa israelita ter noticiado a oposição do líder militar aos planos do Governo para uma ocupação completa da Faixa de Gaza, onde permanecem cerca de 50 reféns israelitas, 20 dos quais vivos.
Nas suas declarações de hoje, Katz insistiu que a derrota do grupo islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza e a criação de condições para o regresso dos reféns são "os principais objetivos da guerra" no território e que cabe ao Exército cumprir as instruções do executivo para os alcançar.
"O meu papel como ministro da Defesa responsável pelas Forças de Defesa de Israel é garantir que isso acontece, e é isso que farei", advertiu.
Durante a visita à "zona tampão", o governante israelita alertou também que a segurança das comunidades que fazem fronteira com a Faixa de Gaza apenas pode ser garantida com uma "presença permanente" de tropas numa "zona de segurança periférica em pontos estratégicos" do enclave palestiniano.
Só assim, referiu, podem ser evitados ataques às comunidades e o contrabando de armas para a Faixa de Gaza.
Na reunião com o chefe das forças armadas, que teve também a participação de Israel Katz e do ministro dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, que lidera a equipa de negociação com os mediadores para um acordo de cessar-fogo com o Hamas, foram discutidas opções para a continuação da campanha militar na Faixa de Gaza.
"As Forças de Defesa de Israel estão preparadas para implementar qualquer decisão tomada pelo gabinete político e de segurança", indicaram num breve comunicado os serviços do chefe do Governo israelita.
De acordo com um alto responsável israelita que informou os meios de comunicação social hebraicos na segunda-feira, Netanyahu pretende propor ao gabinete de segurança, que toma decisões sobre a ofensiva na Faixa de Gaza, "a continuação dos combates e a sua expansão para áreas onde há receio de reféns", além da "ocupação total" do enclave.
No entanto, o primeiro-ministro enfrenta resistências no Exército, que está relutante em operar em locais onde há reféns, temendo que as milícias palestinianas os executem com o avanço das tropas (como já aconteceu no final de agosto de 2024 com seis pessoas em cativeiro, encontradas em 01 de setembro).
Além das dúvidas dos militares, o tema também parece provocar divisões no Governo e o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Saar, expressou hoje o seu apoio a Zamir nas redes sociais.
"O chefe do Estado-Maior deve expressar a sua opinião profissional de forma clara e inequívoca à liderança política", escreveu o chefe da diplomacia israelita.
O conflito na Faixa de Gaza foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 61 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.
Além disso, o enclave tem estado sujeito a um bloqueio por Israel, acumulando-se relatos de fome entre a população, que foi agravada pelo afastamento das agências da ONU e organizações não-governamentais de ajuda humanitária.
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