"O Ministério dos Negócios Estrangeiros observa o desaparecimento das condições para a manutenção desta moratória unilateral sobre o envio desta armas e está autorizado a declarar que a Federação Russa já não se considera vinculada às limitações que impôs a si própria no passado", segundo um comunicado hoje divulgado.
Moscovo sublinha que, após manter esta limitação, propôs à NATO e aos seus parceiros na região da Ásia-Pacífico que declarassem uma moratória semelhante, de forma a evitar uma corrida ao armamento global.
"No entanto, devemos notar que a iniciativa russa não obteve reciprocidade. Os Estados Unidos e os seus aliados não só anunciaram abertamente os seus planos para implantar mísseis de curto e médio alcance em diferentes regiões, como também fizeram progressos significativos na implementação prática das suas intenções", referiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
A declaração acusa Washington de, nos últimos anos, ter procedido à realização de testes, ao início da produção em série destas armas e à preparação das infraestruturas para a sua futura implantação.
O comunicado sublinhou que, desde 2023, os Estados Unidos implantaram um número sem precedentes de sistemas na Europa capazes de transportar mísseis de curto e médio alcance para testar estas armas durante exercícios militares que têm "um claro pendor antirrusso".
Especificamente, foi destacado o uso de lançadores de mísseis Mk70 fabricados pela Lockheed Martin durante manobras na Dinamarca, enquanto os sistemas de mísseis de médio alcance Typhon foram enviados para a Austrália e Filipinas.
Outros fatores mencionados por Moscovo são os planos de aliados da Casa Branca para adquirir mísseis terrestres norte-americanos ou desenvolver as suas próprias armas com um alcance de 500 a 5.500 quilómetros.
Todas estas medidas do Ocidente, alerta o comunicado oficial, estão a conduzir à formação, perto das fronteiras da Rússia, de um míssil com um potencial desestabilizador que "cria uma ameaça direta --- de natureza estratégica --- à segurança do país".
A suspensão da moratória é uma medida de resposta que visa "combater as ameaças que ressurgiram" e manter o "equilíbrio estratégico", afirmou ainda o comunicado.
A Rússia anunciou a moratória em setembro de 2019, um mês depois de se ter retirado, juntamente com Washington (um dia antes), do Tratado para a Eliminação de Mísseis de Alcance Intermédio e Curto (INF), assinado em 1987 pelos Estados Unidos e pela União Soviética.
Na quinta-feira, o Governo russo apresentou um projeto de lei à Duma (câmara baixa do parlamento) para denunciar o tratado, que previa a conversão de plutónio militar em combustível nuclear destinado a uso pacífico.
Este acordo, que tinha sido ratificado pela Rússia em 2011, foi suspenso em outubro de 2016, após acusações de que os Estados Unidos tinham incumprido os seus compromissos por questões financeiras.
"Gastámos dinheiro e construímos uma central [de conversão]. Somos mais ricos do que os Estados Unidos?", comentou na altura o Presidente russo, Vladimir Putin, acusando Washington de optar pela reciclagem de material radioativo em vez da destruição industrial, de forma a poder reutilizar o plutónio para fins militares "a qualquer momento".
O tratado comprometeu os dois países a converter 34 toneladas de plutónio militar utilizado no fabrico de bombas atómicas em combustível pacífico MOX, uma mistura de óxido de urânio e óxido de plutónio.
A retirada deste entendimento representa mais um revés para a cooperação em matéria de desarmamento, após a retirada de Moscovo e de Washington do Tratado INF sobre mísseis de curto e médio alcance, do Tratado Antimíssil e do Tratado sobre o Regime de Céus Abertos.
O único acordo de desarmamento ainda em vigor é o Novo START (START III), temporariamente suspenso pela Rússia em 2023 e com vencimento previsto para 2026.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na sexta-feira a deslocação de dois submarinos nucleares para "zonas apropriadas", que não especificou, em resposta a comentários que considerou provocatórios do ex-presidente russo Dmitri Medvedev (2008-2012).
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, advertiu hoje que "não há vencedores" numa guerra atómica, recomendando cautela, embora tenha referido que os dois submarinos norte-americanos anunciados por Donald Trump "já estão em serviço" de forma permanente.
O porta-voz observou que é Vladimir Putin quem define a política externa de Moscovo e o único interlocutor válido para o líder norte-americano, uma clara alusão a Medvedev.
A ordem de Trump foi dada um dia depois de Medvedev o ter criticado por ter feito um ultimato a Moscovo para acabar com a invasão da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
O ex-líder russo considerou o ultimato como "uma ameaça e um passo para a guerra" com os Estados Unidos e advertiu Washington de que a Rússia "não era Israel, nem tão pouco o Irão".
Trump disse que ordenou o posicionamento dos submarinos para o caso de as "declarações idiotas e inflamatórias" de Medvedev serem mais do que meras palavras.
Apesar do aumento das tensões, Trump anunciou a visita do enviado presidencial Steve Witkoff a Moscovo na quarta ou na quinta-feira, numa fase em que a Rússia mantém uma elevada pressão militar sobre a Ucrânia, ao fim de três anos e meio de guerra.
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