A Suíça está "determinada a prosseguir as negociações, tendo em consideração preocupações dos Estados Unidos", indicou o executivo num comunicado divulgado no final de uma reunião de crise.
Esta reunião realizou-se após o anúncio por Washington, na semana passada, da imposição de uma sobretaxa de 39% aos produtos suíços importados para os Estados Unidos (EUA) a partir de 7 de agosto, em vez dos 31% anunciados no início de abril - um verdadeiro golpe infligido ao país alpino.
A decisão surpreendeu a Confederação Helvética, que desde o início optara pela via da negociação com os Estados Unidos, depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, proclamar o "Liberation Day" ("Dia da Libertação") no início de abril.
Segundo a presidente do Conselho Federal (Governo) suíço, Karin Keller-Sutter, Trump tem a impressão de que a Suíça está a "roubar" os Estados Unidos, tendo em conta um défice comercial de quase 40 mil milhões de francos suíços (42,8 mil milhões de euros), o que esta rejeita, considerando tal posição como "absurda", noticiou a Radio Télévision Suisse.
Na abertura de hoje, a Bolsa suíça sofreu o impacto, perdendo 2% nas primeiras transações, antes de operar uma recuperação gradual.
Às 13:17 TMG (14:17 de Lisboa), o SMI, o índice de referência da bolsa suíça, perdia 0,45%, para 11.782,54 pontos, com certa agitação entre os grandes valores do índice, que evoluíam de forma errática.
Esta sobretaxa, muito mais elevada do que os 15% impostos aos concorrentes da União Europeia, constitui um grande desafio para a economia suíça, sendo a grande incógnita o tratamento reservado aos produtos farmacêuticos, que representam "mais de metade" das exportações da Suíça, sublinhou o professor de Economia Hans Gersbach, citado pelas agências internacionais.
Segundo o académico, diretor-adjunto do Centro de Investigação Conjuntural da Escola Politécnica Federal de Zurique, tarifas aduaneiras de 39% podem custar entre 0,3% e 0,6% do crescimento anual da Suíça, mas o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) poderá subir até "pelo menos 0,7%", dependendo da solução adotada em relação aos produtos farmacêuticos, até agora isentos de tarifas.
Trump está também a tentar pressionar as grandes empresas farmacêuticas a baixarem o preço dos medicamentos, o que acrescenta mais uma incógnita.
Numa nota de mercado, os analistas da Vontobel salientam que esses 39% afetam particularmente certos setores, como a relojoaria ou parte dos fabricantes de máquinas.
Segundo os analistas, "ainda há esperança de que um acordo" possa ser concluído para reduzir as tarifas aduaneiras para um nível "mais próximo dos 15%" aplicados a outros países.
"No entanto, se esses direitos aduaneiros de 39% permanecerem em vigor", os lucros das empresas desses setores poderão ser "substancialmente afetados", alertam.
A Chocosuisse, organização patronal dos fabricantes de chocolate, considera as tarifas de 39% "um duro golpe" que aumenta o risco de os produtos suíços desaparecerem das prateleiras nos Estados Unidos e de os que permanecerem "verem os seus preços aumentados", pelo que instou o Governo a "não desistir" e a "prosseguir com determinação as negociações".
Entre os instrumentos negociais, a imprensa de domingo referiu o comércio de ouro, que tem o efeito de aumentar o excedente comercial da Suíça em relação aos Estados Unidos.
A Suíça alberga muitas refinarias onde são fundidos lingotes importados, na maioria do Reino Unido, para serem refundidos de acordo com as normas norte-americanas.
Essas transações de ouro causam uma distorção estatística no comércio, segundo o jornal dominical Sonntag Zeitung, que sugere recordar que dão a impressão de que a Suíça exporta mais para os Estados Unidos do que realmente exporta.
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