"Teremos neste sábado [domingo pela hora de Portugal continental] uma missa de Ação de Graças na qual Chiclayo e a sua região metropolitana unir-se-ão para orar pelo nosso Santo Padre e pedir pelo seu pontificado. Será um encontro jubilar para que todos os que conviveram com ele desde que chegou à nossa cidade", disse à Lusa a autarca Janete Cubas, presidente da Câmara de Chiclayo, a cidade à qual Robert Francis Prevost chegou em 2014.
A presidente da Câmara coordena a instalação de três ecrãs gigantes para transmitir às 20 horas locais (02:00 de domingo em Lisboa) uma missa a céu aberto com transmissão para todo o país. Se os habitantes de Chiclayo consideram o Papa Leão XIV um chiclaiano, o Peru considera que o Vaticano é agora liderado por um Papa peruano.
Em redor da praça, aguarda-se uma multidão em euforia pela chegada do seu cidadão mais famoso, que citou o nome desta cidade durante o seu primeiro discurso como Papa eleito pelo conclave, colocando esta desconhecida localidade no centro das atenções do mundo.
"Será uma missa extraordinária porque, pela primeira vez, será fora do templo. Estamos a acabar de construir um grande palco. Vamos receber as autoridades municipais e nacionais. Também muitas instituições do país, colégios religiosos, universidades, grupos paroquiais. Tudo para homenagear aquele que nos deu o exemplo de humildade e de amor pelo próximo", contou à Lusa Alicia Effio, do Conselho Paroquial da Catedral e coordenadora da homenagem.
Em frente à Catedral na qual o então bispo Robert Prevost rezava uma missa todos os domingos às 19:00, foi montado um grande palco para a apresentação de grupos musicais e para a missa conduzida pelo atual bispo Edinson Farfán Córdova, substituto de Robert Prevost desde 2023.
"As homilias do padre Robert eram excelentes. Eu as adorava. Sempre muito bem enfocadas, chegado direto ao coração. É uma pessoa muito erudita, culta, que nos fazia refletir com o objetivo de chegarmos ao perdão, ao amor pelo próximo e aos valores cristãos. Com essa lógica de priorizar os mais pobres, os mais necessitados e de abrir a Igreja a todos, vejo uma continuidade com o ministério do Papa Francisco", acredita Marta Vázquez, fiel assídua das missas do então padre Robert.
"Quando era bispo, ele criou vários grupos paroquiais juvenis para atrair a juventude às missas. Veremos muita presença de jovens que o conheceram", afirma.
Alicia Effio contou que desde a chegada do padre Robert a Chiclayo, as missas de domingo mudaram de perfil. Se antes, na melhor das das hipóteses, as bancas ficavam repletas na sua capacidade máxima de 400 pessoas sentadas, durante as homilias do padre Robert, a Catedral transbordava de pessoas em pé até a entrada.
"As missas dominicais passaram a ter o triplo dos participantes. Era entusiasmante como ele convocava naturalmente [as pessoas] com a sua forma de ser. Víamos o conceito da humildade praticado. Era contagiante passar a ver todos como iguais. Ele dava a missa e depois conversava conosco. Despedia-se com um beijo no rosto. Às vezes, uma pessoa tem um cargo pequeno e já fica 'inchada'. Ele tinha um cargo grande e tinha os pés na terra como qualquer um de nós", comparou.
A jovem Ángela Navarrete, de 20 anos, vive agora em Lima, onde trabalha como engenheira. Quando tinha 15 anos, recebeu o crisma do bispo Robert Prevost. Todas as primeiras comunhões e todas os crismas dos alunos do colégio San Agustín de Chiclayo eram ministradas pelo bispo. A Ordem de Santo Agostinho é a do novo Papa.
"Além do crisma, eu assisti a algumas missas. As reflexões dele sobre o Evangelho eram muito interessantes porque me chegavam ao coração. Ele sabia como explicar de forma clara. Para nós, peruanos em geral e chiclaianos em particular, é um verdadeiro orgulho porque ele está no país há 40 anos, dos quais oito aqui em Chiclayo", disse Ángela à Lusa.
Essa forma humilde de relacionar-se e a iniciativa de naturalizar-se peruano já eram motivo de orgulho local. Depois de tornar-se Papa, o exemplo tem despertado o interesse de vários peruanos de aproximarem-se da Igreja.
"Muitos dos meus amigos que se formaram no mesmo colégio religioso tinham deixado de praticar ou tinham deixado de acreditar em Deus, decepcionados com a Igreja. Vários tornaram-se completamente ateus. Agora, pelo facto de termos um Papa peruano, sobretudo, chiclaiano, com hábitos como os nossos e com exemplos de conduta, sinto que muitos começaram a reaproximarem-se da Igreja", observou Ángela.
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