O possível desaparecimento do plâncton colocaria em perigo grandes áreas da vida marinha, incluindo os peixes que dependem destes organismos para se alimentarem, noticiou na quarta-feira a agência Efe.
Uma equipa liderada pela Universidade de Bristol (Reino Unido) comparou, num estudo publicado na Nature, a resposta do plâncton na última vez em que a Terra aqueceu significativamente, há cerca de 21 mil anos, com o que é provável que ocorra em condições semelhantes no final deste século.
Os resultados são "alarmantes, pois mesmo com as previsões climáticas mais conservadoras de um aumento de 2 graus, é claro que o plâncton não consegue adaptar-se suficientemente rápido ao ritmo muito mais rápido de aquecimento que estamos a experimentar agora e que parece continuar", alertou o autor principal da investigação, Rui Ying, da Universidade de Bristol.
Ying lembra que o plâncton "é a força vital dos oceanos, uma vez que sustenta a cadeia alimentar marinha e o armazenamento de carbono".
O especialista alertou que pôr em perigo a sua existência representará uma ameaça sem precedentes, que irá perturbar todo o ecossistema marinho, com consequências devastadoras e de grande alcance para a vida marinha e também para o abastecimento de alimentos aos seres humanos.
A equipa desenvolveu um modelo para analisar como o plâncton se comportava há cerca de 21 mil anos e como poderia agir com base nas projeções climáticas futuras.
Ao concentrar-se num grupo específico de plâncton que existe ao longo dos séculos, o trabalho de modelação ofereceu conhecimentos e níveis de precisão sem precedentes.
Os registos geológicos mostraram que o plâncton já se tinha afastado dos oceanos mais quentes para sobreviver.
Mas, utilizando o mesmo modelo ecológico e climático, as projeções mostraram que as taxas de aquecimento atuais e futuras eram demasiado elevadas para que isso fosse possível novamente, potencialmente exterminando organismos preciosos.
O Acordo de Paris estabelece o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2 graus acima dos níveis pré-industriais e esforça-se por limitá-lo a 1,5.
Um relatório das Nações Unidas alertou no mês passado que o mundo enfrentará um aquecimento de até 3,1 graus se os governos não tomarem mais medidas para reduzir as emissões de carbono, recordou a Universidade de Bristol.
Se estas tendências preocupantes se agravarem, "haverá consequências muito reais para os nossos ecossistemas e para os meios de subsistência das pessoas, incluindo as comunidades piscatórias", destacou Daniela Schmidt, também signatária da investigação.
Para a cientista, a mensagem é clara: "Todas as nações devem redobrar os seus esforços e medidas, coletiva e individualmente, para reduzir ao mínimo o aquecimento global".
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