As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) apresentaram, esta sexta-feira, os resultados de uma investigação à morte de sete funcionários humanitários às suas mãos – depois de a comunidade internacional ter pressionado (e condenado) Telavive por um ataque que definiu como "erro trágico".
A investigação foi feita durante três dias e, de acordo com o exército, aconteceu na sequência de um conjunto de erros que levou à morte destes funcionários da World Central Kitchen, que estavam em Gaza a ajudar a combater a fome provocada pelo conflito entre o Hamas e Israel.
“Os resultados da investigação indicam que este incidente não devia ter acontecido”, sublinham os responsáveis, que dão conta de que dois oficiais superiores vão ser afastados das suas funções e que outros dois serão repreendidos.
“Os soldados acreditavam que os veículos tinham armas do Hamas […] e as IDF avançaram com o ataque porque achavam que estavam os carros tinham sido apreendidos pelo Hamas”, explica Telavive.
The conclusion of the investigation regarding the incident in which @WCKitchen employees were mistakingly targeted by IDF forces was presented to IDF Chief of the General Staff LTG Herzi Halevi yesterday.
— Israel Defense Forces (@IDF) April 5, 2024
Measures taken following the tragic incident include: the dismissal of the… pic.twitter.com/mw4U8gjA71
Mas... como se passou tudo?
De acordo com as informações dadas pelo exército numa conferência no ministério da Defesa, onde a imprensa internacional esteve presente, houve neste caso não só falta de comunicação, como falsos pressupostos.
Que operação era esta?
Esta operação foi combinada com Israel, e detalhes sobre a operação – que trazia 300 toneladas de comida do Chipre para Gaza. Segundo o que é conhecido, Telavive conhecia a identidade dos funcionários que participavam nela, assim como detalhes dos veículos (excluindo as matrículas), assim como sabia quais seriam os seus movimentos. Segundo a investigação, esta identificação “foi feita da forma correta”, mas tudo correu mal a partir daí.
Como é que tudo se passou? E a que horas?
O Coordenador de Atividades Governamentais nos Territórios (COGAT) era o organismo que conheceria todos os detalhes da missão, mas a comunicação com as IDF "parou algures" de funcionar.
22h: Camiões seguiram para sul, em Gaza, até um armazém;
22h08: Um operador de drone diz ter visto uma pessoa armada em cima de um dos camiões. O COGAT foi notificado pelas IDF e tentou contactar os funcionários da organização humanitária, mas sem sucesso. Tentaram, depois contactar a sucursal na Europa, mas também sem sucesso.
22h28 - 22h47: A escolta chega ao armazém;
22h46: Um segundo homem armado junta-se ao primeiro e foi aí que as IDF assumiram que eram membros do Hamas. Ainda assim, não se deu ordem para atacar devido à missão humanitária. “À vista do operador havia homens armados; mas havia a ordem para não disparar por causa de estarem juntos a uma escolta humanitária”, explicaram os responsáveis.
22h55: Quatro veículos deixam o armazém (e dois drones armados a pairar);
Segundo a IDF, um destes veículos desviou-se para norte, alterando o trajeto combinado.
Um drone controlou a chegada deste veículo a um outro hangar, e quatro pessoas saíram do carro – pessoas estas que se julgaram ser do Hamas. Segundo a Sky News, que obteve imagens deste momento, refere que estas não são conclusivas, mas que “estão a ser transportados objetos que podem ser interpretados como armas”.
Os outros três veículos, onde estavam os funcionários, viajaram para sul depois de deixaram o armazém. O operador de drone disse que acreditava ter visto uma pessoa armada a entrar num dos carros e que os trabalhadores tinham ficado no armazém.
“Pareciam alvos”
Segundo as IDF, houve nesse momento um erro de classificação, com o operador a identificar duas pessoas com armas, que "aos operadores pareciam alvos”.
Sendo de noite, pouco antes da meia-noite, a hipótese de as armas terem sido confundidas com “um saco ou algo semelhante” é colocada em cima da mesa. “Não sabemos”, refere a IDF.
Também o logótipo da organização, nos tejadilhos dos veículos, não era identificável pelos drones. “É uma lição que precisamos de aprender. As câmaras não conseguiram identificar as marcas – não são visíveis à noite. Foi um fator-chave", explicaram.
Nesta altura, o operador de drone e a brigada pensam que há combatentes do Hamas nos veículos, que os funcionários ficaram no hangar e que a missão humanitária acabou.
O ataque
23h09: É lançado o primeiro míssil. Duas pessoas são vistas a fugir para o segundo carro;
23h11: Sem uma nova ordem para continuar o ataque, um segundo míssil é lançado, e o carro anteriormente referido é atingido. Ainda há sobreviventes, que correm para o terceiro carro;
22h13: Um terceiro míssil é disparado, atingindo o terceiro carro, e matando os sete funcionários.
Segundo as IDF, foi a decisão de lançar os dois últimos mísseis que violou o “procedimento operacional”.
“É uma tragédia, um erro, algo sério pelo qual somos responsáveis”, disse o porta-voz das IDF. Mas no meio de incertezas, o responsável garantiu: “De uma coisa temos a certeza. Não houve intenção de fazer mal aos funcionários da World Central Kitchen ou quaisquer outros civis”.
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