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Um ano do ataque em Uvalde. O que aconteceu e os relatos da tragédia

Um ano depois de Salvador Ramos, de 18 anos, ter matado 19 crianças e dois adultos numa escola primária em Uvalde, no Texas, recordamos o que se passou. Da cronologia à inação das autoridades, das críticas aos relatos das vítimas - e das suas famílias.

Um ano do ataque em Uvalde. O que aconteceu e os relatos da tragédia
Notícias ao Minuto

16:50 - 24/05/23 por Notícias ao Minuto

Mundo Uvalde

Foi há um ano que Salvador Ramos, entrou numa escola primária em Uvalde, no estado norte-americano do Texas, e matou 21 pessoas, das quais 19 crianças, e dois professores. As crianças tinham entre nove e 11 anos.

O tiroteio, considerado um dos mais mortíferos da última década em escolas nos Estados Unidos (EUA), deixou não só a comunidade norte-americana em choque como também todo o mundo.

Um ano depois, a investigação continua, e 'abriu' a porta para a consciencialização e para mudanças no que diz respeito ao uso e porte de armas. São vários os casos de tiroteios em escolas que se têm vindo a registar em escolas nos EUA.

Quem era o atirador?

Salvador Rolando Ramos acabara de completar 18 anos, a 16 de maio do ano passado, e estudava na Escola Secundária de Uvalde, na cidade onde também residia. 

Já na altura, Pete Arredondo, chefe da polícia do Distrito Escolar Independente de Uvalde, revelou que Salvador “agiu sozinho durante este crime hediondo” e morreu durante o tiroteio, no entanto, não adiantou pormenores acerca das circunstâncias da morte. 

Já o governador do estado do Texas, Greg Abbott, esclareceu de início que o jovem foi abatido pela polícia. Uma investigação preliminar apontou que Salvador “abandonou o seu carro e entrou na Robb Elementary", em Uvalde, com uma pistola.

O 'aviso' deixado pelo atirador

Meia hora antes do massacre, Salvador Ramos, escreveu no Facebook que ia disparar sobre a avó. Poucos minutos depois, o atirador deixou uma outra mensagem em que dizia que já tinha disparado contra a avó, que ficou gravemente ferida, e, numa terceira mensagem, publicada quinze minutos antes do massacre no estabelecimento de ensino, indicava que estava a preparar-se para atacar uma escola.

Todas estas mensagens, segundo a Meta, terão sido enviadas de forma privada para outro utilizador, e, portanto, não visíveis para os restantes internautas ou para a própria empresa.

"As mensagens que o governador Greg Abbott [que denunciou a situação] descreveu eram privadas, de utilizador para utilizador, e foram descobertas após a terrível tragédia. Estamos a cooperar estreitamente com a polícia na sua investigação", assegurou Andy Stone, porta-voz da Meta, no dia seguinte ao ataque.

O ataque

Depois de muitas críticas por parte da comunidade quanto à atuação da polícia, nomeadamente, em relação ao tempo que demoraram a travar o atirador, as autoridades revelaram as imagens de segurança que mostram os agentes no edifício e também o atirador. 

A ação policial demorou, no total, 77 minutos. Pouco mais de um mês depois do ataque, Pete Arredondo, chefe da polícia, foi afastado das suas funções, sendo colocado em licença administrativa

As reações

Os amigos e a mãe do atirador

Numa entrevista a uma filial da CNN Internacional, a mãe do atirador, Adriana Martinez, em lágrimas, expressou confusão pelas ações do filho.

"Não tenho palavras. Não sei o que ele estava a pensar. Ele tinha as suas razões para fazer o que fez, por favor não o julguem. Só quero que as crianças inocentes que morreram me perdoem", disse a mulher, que pediu também que perdoassem o filho, assim como a ela.

Adriana Martinez acrescentou que o jovem era uma pessoa "muito calada" e "não incomodava ninguém", apesar dos relatos de colegas de turma que disseram que Salvador os ameaçava.

Ao Washington Post, alguns dos amigos do atirador contaram como ele era. Salvador não teve um vida fácil na escola, revelou à publicação Stephen Garcia, um dos amigos. O jovem seria vítima de bullying e chegou a ser alvo de comentários homofóbicos por ter publicado uma fotografia em que usava lápis preto nos olhos.

"Era o miúdo mais simpático, o mais tímido. Só precisava de sair da sua concha. Era uma pessoa como todos nós - era um bom amigo", disse Garcia, que em tempos foi amigo do atirador do Texas. 

“Jogávamos, ele ia buscar lanches à escola, bebíamos granizados e comíamos Takis”, recordou Stephen sobre essa fase ao mesmo jornal: “Éramos miúdos normais, só dois miúdos preguiçosos”.

"Perdi o meu amigo há muito tempo", lamentou Stephen Garcia. No início do secundário, Stephen e a família mudaram de cidade, e tudo mudou entre os amigos. "Ele começou a ser uma pessoa diferente", disse. "Ele continuava a piorar cada vez mais e eu nem sei".

Santos Valdez, outro amigo, diz que o comportamento de Ramos se deteriorou nos últimos anos e que também por isso se afastaram. Jogavam videojogos como 'Fortnite' e 'Call of Duty'. Mas depois Ramos mudou, disse Valdez ao mesmo meio. 

Um dia, recordou, Salvador apareceu com cortes na cara. Disse que tinha sido um gato mas, mais tarde, admitiu que tinha autoinfligido os cortes. 

Mas se a vida social do atirador sofreu um golpe, a vida familiar não era melhor. Ruben Flores, 41 anos, vivia ao lado de Salvador Ramos e da sua mãe e tentou ser para o jovem uma espécie de figura paterna. Tinha "uma vida bastante dura com a mãe", revelou.

As famílias das vítimas

Há também vários relatos das famílias das vítimas. Após terem sido divulgadas as imagens das câmaras de segurança, Kimberly Rubio, mãe de Lexi, uma menina morta a tiro, afirmou que o vídeo não deveria ter sido partilhado antes de os pais terem tido a oportunidade de o ver.

"Vejo-o a assassinar a minha filha de 10 anos", lamentou Kimberly, ao dizer que o vídeo a deixou "perturbada". Nas imagens vê-se, Lexi Rubio, de 10 anos, filha do County Sheriff Deputy de Uvalde, Felix Rubio, a chorar e a pedir ajuda através de gestos.

Um dos professores que esteve no local também falou. Arnulfo Reyes confessou que se sentiu "abandonado" pelos agentes. De acordo com o professor, os agentes deveriam tê-lo protegido a ele, assim como a todas as crianças. "Depois de tudo, o que me deixa mais zangado é que vocês tinham um colete à prova de bala e eu não. Eu não tinha nada", afirmou, durante uma entrevista ao programa 'Good Morning America', cerca de 15 dias depois do ataque.

Quem recebeu as vítimas

Uma das cirurgiãs pediátricas que recebeu sobreviventes do tiroteio, deu uma entrevista onde falou a várias publicações norte-americanas, como a CNN ou a CBS News.

Lillian Liao explicou que nesse dia, "tão difícil para toda a América", todos os cirurgiões, anestesistas e restante equipa médica se mobilizou depressa e soube como agir, em grande parte porque esta não era a primeira experiência do género. "Tristemente, estávamos aptos para isso e pensávamos que íamos receber mais pacientes do que aquele que recebemos", confessou à CBS News, referindo-se às quatro crianças que deram entrada no serviço de trauma do hospital de San António.

Depois das pessoas mais próximas, também o presidente dos EUA se manifestou, e visitou posteriormente um memorial para as vítimas, assim como o seu antecessor, Donald Trump, fez uma homenagem.

E quem sobreviveu?

Miah Cerrillo, de 11 anos, sobrevivente do massacre na escola primária do Estado norte-americano do Texas, pediu, em junho, segurança ao Congresso, descrevendo o pesadelo daquele dia em que fingiu estar morta, cobrindo-se com sangue de um amigo.

"Quando fugi para junto das mochilas, ele disparou sobre o meu amigo que estava ao pé de mim. Pensei que ia voltar à sala, então cobri-me de sangue, espalhei-o sobre mim", relatou a menina.

Um ano depois...

Pelo menos cinco agentes colocados na mira da investigação se demitiram ou foram despedidos ao longo deste ano. Steve McCraw, responsável pelo Departamento de Segurança Pública do Texas colocou muita da responsabilidade em Pete Arredondo, o que chefe mencionado acima, que se demitiu.

Já o presidente da Câmara de Uvalde, Don McLaughlin, disse, na segunda-feira, de acordo com a Associated Press, que estava frustrado com o ritmo das investigações: "Não têm respostas para as perguntas simples que deviam ter", afirmou o responsável, referindo-se às famílias das vítimas.

Leia Também: EUA. Estudantes de escola de Uvalde protestam por mais ação contra armas

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