A vitória do partido republicano Sinn Féin pela primeira vez nas eleições locais à frente do DUP, repetindo o feito alcançado nas eleições regionais de maio de 2022, "é uma mensagem para o DUP voltar ao trabalho", afirmou à agência Lusa o professor de Ciência Política da Universidade de Liverpool. 

Porém, o académico afirma que as perspetivas do Sinn Féin só melhoraram ligeiramente porque "quase paradoxalmente, [os unionistas do DUP] conseguiram votos que validam a posição que adotaram até agora".

"O DUP teve muitos mais votos do que o principal rival, o Partido Unionista do Ulster, que não concorda com a queda" do governo regional, explicou Jon Tonge, pelo que "o DUP pode afirmar que tem um mandato para a posição que tem adotado até agora".

E acrescentou: "A questão é saber quando é que o DUP vai suavizar a sua posição o suficiente para permitir" o regresso das instituições políticas da Irlanda do Norte.

O executivo regional está sem funcionar desde fevereiro de 2022 devido a um boicote do DUP, que discorda com os termos do acordo do 'Brexit' por dificultarem a circulação de mercadorias da Irlanda do Norte com o resto do Reino Unido. 

O acordo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), processo conhecido como 'Brexit', mantém o território alinhado com as regras do bloco comunitário para evitar uma fronteira física com a Irlanda.

De acordo com os resultados finais, o Sinn Féin obteve 143 dos 462 lugares em disputa, mais 39 do que em 2019, enquanto o DUP manteve 122 assentos em 11 municípios que foram a votos na quinta-feira.

O Partido Aliança confirmou o estatuto de terceiro maior partido da região britânica, ao ocupar 67 lugares, mais 14 do que há quatro anos, ultrapassando o Partido Unionista do Ulster (UUP), que perdeu 21 para se ficar pelos 54 autarcas eleitos. 

Além do UUP, também o Sinn Féin e o Aliança defendem o restabelecimento do executivo e assembleia regionais. 

Em maio de 2022, o Sinn Féin arrecadou pela primeira vez na história mais votos do que o DUP nas eleições regionais, mas o governo da Irlanda do Norte funciona numa base de partilha de poder em coligação dos principais partidos unionista e republicano, neste caso o DUP e o Sinn Féin.

Se o impasse continuar, o Governo britânico está obrigado a convocar novas eleições regionais, mas adiou o prazo até 2024 para tentar encontrar um consenso. 

Jon Tonge avisa que novas eleições "não vão resolver nada" porque duvida que os dois partidos "poderão alguma vez aprender a gostar um do outro no governo".

"Mesmo que consigamos restabelecer a partilha do poder na Irlanda do Norte, não há garantia de que esta não volte a entrar em colapso. É cronicamente instável porque há dois partidos com ambições constitucionais e identidades políticas e nacionais muito diferentes", resumiu.

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