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Reabertura da fronteira com a China é consolo para Hong Kong "deprimida"

Os comboios voltaram, este mês, a circular entre Hong Kong e a província chinesa de Guangdong, pondo fim a uma interrupção de quase três anos, que separou famílias e deprimiu a economia da cidade semiautónoma.

Reabertura da fronteira com a China é consolo para Hong Kong "deprimida"
Notícias ao Minuto

09:56 - 28/01/23 por Lusa

Mundo Coronavírus

"Foram três anos difíceis, mas, finalmente, posso voltar a respirar", disse à agência Lusa Jerry Tse, um empresário de Hong Kong que gere uma rede de escolas de dança na China continental, ao atravessar de comboio a fronteira que liga a região administrativa especial da China a Guangdong, na parte continental do país asiático.

Jerry esteve quase três anos sem visitar a família. "Sinto-me finalmente livre", afirmou.

Envolto por uma densa malha urbana, intercalada por montanhas e vegetação abundante, típica do clima subtropical do sudeste da China, o comboio de alta velocidade percorre em cerca de uma hora a distância que separa Kowloon Oeste, em Hong Kong, e a Estação Sul de Cantão, a capital da província de Guangdong.

A primeira paragem após embarcar em Hong Kong é a Estação de Futian, na cidade chinesa de Shenzhen. Este percurso, feito através de um túnel, leva apenas 14 minutos a ser percorrido. O bilhete em segunda classe custa 66 yuans (cerca de 9 euros).

Durante quase três anos, a política chinesa de 'zero covid' cavou um fosso praticamente intransponível entre as duas cidades, que incluiu a imposição de quarentena até três semanas a quem entrava no continente chinês ou a suspensão de documentos de viagem e vistos. Quem partia para a China tinha ainda de realizar vários testes de ácido nucleico e um teste serológico.

A China continua a exigir um teste negativo para o vírus a quem viaja a partir de Hong Kong, mas isso é, agora, apenas um "pormenor", face à lista de exigências antes imposta, disse Alexandra Orlova, uma russa de 29 anos, cujo destino final da viagem é Pequim.

"Quando cheguei à alfândega e tive apenas de mostrar o passaporte e visto para entrar na China pareceu-me surreal", descreveu à Lusa.

As janelas do comboio estavam decoradas com papel vermelho recortado, um artesanato tradicional usado durante o Ano Novo Lunar, a principal festa das famílias chinesas, que se celebrou esta semana.

"Vou guardar o bilhete desta viagem como uma lembrança", disse Huang Qinqin, um chinês natural da província de Guangdong, à Lusa, atestando o significado da reabertura da ligação. Até ao encerramento das fronteiras, Huang deslocava-se várias vezes por mês a Hong Kong, em lazer ou trabalho.

A reabertura da fronteira é vital para a economia de Hong Kong, onde o turismo representou 4,5% do PIB e gerou 225.000 postos de trabalho, em 2018, o ano anterior aos protestos pró-democracia que abalaram a cidade.

Em 2020, o turismo contribuiu com 0,2% do PIB do território e, no ano seguinte, apenas 0,05%, segundo dados do Executivo local. Nos primeiros 10 meses de 2022, a cidade registou apenas 249.000 visitantes oriundos do continente chinês, face a mais de 51 milhões em 2018.

Os protestos pró-democracia e a subsequente imposição por Pequim da lei de segurança nacional, em 2020, transfiguraram a região semiautónoma. Hong Kong foi devolvido pelo Reino Unido à China em 1997, sob a política 'um país, dois sistemas', que visou garantir autonomia às instituições democráticas da cidade, distinguindo-a da China continental, dominada pelo Partido Comunista Chinês.

A lei resultou na prisão de ativistas, manifestantes e figuras da oposição, acusados de "atividades subversivas", "secessão", "terrorismo" ou "conluio com forças estrangeiras". De acordo com a Amnistia Internacional, a legislação "dizimou" as liberdades no território, tornando a cidade num "deserto de direitos humanos, cada vez mais parecido com a China continental", ao dar às autoridades "rédea solta" para criminalizar "ilegitimamente" a dissidência.

Segundo dados oficiais, mais de 200.000 residentes abandonaram Hong Kong, nos últimos dois anos, na maior queda populacional desde que os registos começaram, há mais de meio século.

"As pessoas estão deprimidas", descreveu à Lusa um estudante europeu, que frequenta o doutoramento em Literatura na Universidade Chinesa de Hong Kong. "Sentem-se sem esperança face ao futuro", afirmou.

Leia Também: Biden estende proteção para residentes de Hong Kong não serem deportados

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