"A posição do Quénia sobre a República Árabe Sarauí Democrática está completamente alinhada com a decisão da Organização de Unidade Africana (anteriormente União Africana) de admitir a RASD como membro em 22 de agosto de 1982 e com a Carta da União Africana que defende o direito inquestionável e inalienável à autodeterminação dos povos", explica a nota oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Quénia.
A nota foi enviada às embaixadas e escritórios de representação de organizações internacionais com sede em Nairobi e representa uma viragem de 180 graus em relação à mensagem publicada na semana passada, na rede social Twitter, pelo Presidente, William Ruto, que manifestou o seu apoio ao "plano de autonomia sério e credível proposto pelo Reino de Marrocos como uma solução única baseada na integridade territorial de Marrocos".
O texto é datado de 16 de setembro e tem a assinatura do secretário principal do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Quénia, Macharia Kamau. Nele explicita-se o apoio do Quénia aos esforços de mediação das Nações Unidas e o seu apoio ao povo sarauí para decidir o seu próprio futuro.
William Ruto publicou a mensagem de apoio à posição marroquina na quarta-feira, no dia seguinte à sua posse como Presidente do país e após um encontro com o Presidente sarauí, Brahim Ghali, e o ministro marroquino dos Negócios Estrangeiros, Nasser Bourita, que assistiram à posse em Kasarani. A mensagem foi posteriormente apagada.
O documento sublinha que todas as declarações serão doravante publicadas em documentos diplomáticos oficiais e não em redes sociais, e assegura que se procura impulsionar as relações com Marrocos "nos setores comercial, agrícola, sanitário, turístico e energético, entre outros, para benefício mútuo" dos dois países.
A antiga colónia espanhola do Saara Ocidental foi ocupada por Marrocos em 1975, apesar da resistência da Frente Polisário, com quem esteve em guerra até 1991, quando as duas partes assinaram um cessar-fogo para a realização de um referendo de autodeterminação. As divergências sobre a elaboração do censo e a inclusão ou não de colonos marroquinos impediram até agora a sua realização.
A RASD foi admitida como membro da União Africana em 1982, razão pela qual Marrocos esteve fora deste fórum regional durante muitos anos. Em 2017, Rabat decidiu aderir de novo à organização.
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