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Estados Unidos manifestam "preocupações" com direitos humanos no Ruanda

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, manifestou hoje as "preocupações" dos Estados Unidos em relação ao respeito pelos direitos humanos no Ruanda durante conversações mantidas com o Presidente do país, Paul Kagame, em Kigali.

Estados Unidos manifestam "preocupações" com direitos humanos no Ruanda
Notícias ao Minuto

15:54 - 11/08/22 por Lusa

Mundo Antony Blinken

O chefe da diplomacia norte-americana discutiu, em particular, com o chefe de Estado ruandês o destino de Paul Rusesabagina, opositor histórico de Kagame, que cumpre uma pena de 25 anos de prisão por "terrorismo" desde 2021 e tem o estatuto de residente permanente nos Estados Unidos.

Paul Rusesabagina, forte opositor de Paul Kagame há mais de 20 anos, tornou-se famoso pelo filme "Hotel Ruanda", lançado em 2004, uma longa-metragem que conta como este hutu moderado, que dirigia o Hotel Mille Collines, em Kigali, salvou mais de 1.000 pessoas durante o genocídio de 1994, durante o qual 800.000 pessoas foram mortas, de acordo com as Nações Unidas, principalmente da minoria tutsi.

Rusesabagina viveu no exílio nos Estados Unidos da América (EUA) e depois na Bélgica, desde 1996, antes de ser preso em Kigali em agosto de 2020, em circunstâncias obscuras, quando um avião em que seguia com destino ao Burundi foi desviado para a capital ruandesa.

Numa conferência que se seguiu a um encontro com o chefe de Estado anfitrião Blinken revelou ter dito ao Presidente Kagame que os EUA acreditam que "as pessoas em todos os países devem poder expressar os seus pontos de vista, sem medo de intimidação, prisão, violência ou qualquer outra forma de repressão".

O secretário de Estado sublinhou ainda as "preocupações" de Washington com a "falta de garantias de um julgamento justo" oferecidas a Paul Rusesabagina.

No final de um julgamento em 2021, que a Bélgica considerou não ter sido "justo" nem "equitativo", o opositor ruandês foi condenado a 25 anos de prisão por "fundar e pertencer" à Frente Nacional de Libertação (FLN), um grupo armado acusado de levar a cabo ataques mortíferos no Ruanda em 2018 e 2019.

A família de Rusesabagina fez saber através de uma declaração que antecedeu a chegada de Blinken a Kigali que esperava que o "envolvimento direto" do chefe da diplomacia norte-americana ajudasse a acabar com o "pesadelo" do seu ente querido, cuja saúde a família diz estar a deteriorar-se.

A sociedade civil e várias ONG apelaram também a Blinken para que deixasse clara durante a sua visita a posição norte-americana sobre o respeito dos direitos humanos no Ruanda. A organização Human Rights Watch, por exemplo, apelou a Blinken para "enviar uma mensagem urgente [a Kigali] de que haverá consequências para a repressão e abusos levados a cabo pelo governo no Ruanda e não só".

O secretário de Estado norte-americano revelou ainda ter discutido com Paul Kagame a questão do alegado apoio de Kigali a um grupo armado rebelde que tem vindo a atuar na República Democrática do Congo (RDCongo) há cerca de um ano, o movimento M23, uma questão que esteve no centro das discussões entre Blinken e o poder congolês na véspera em Kinshasa.

"Qualquer apoio ou cooperação com qualquer grupo armado no leste da RDCongo põe em perigo as comunidades locais e a estabilidade regional, e cada país da região deve respeitar a integridade territorial dos outros", sublinhou hoje Blinken.

De acordo com um relatório de peritos encomendado pelas Nações Unidas, o exército ruandês "lançou intervenções militares contra grupos armados congoleses e posições das forças armadas congolesas" entre novembro de 2021 e junho de 2022. A acusação foi negada por Kigali.

O M23 é um grupo armado rebelde dominado por elementos de etnia tutsi, derrotado militarmente em 2013, mas que chegou a dominar a cidade de Goma, capital da província ruandesa do Kivu do Norte, com 1,1 milhões de habitantes.

O M23 voltou a pegar em armas no final do ano passado, culpando Kinshasa por não respeitar os acordos sobre a desmobilização e reintegração dos seus combatentes nas forças armadas congolesas, sendo que este "acordar" do M23 coincide com a aproximação diplomática e económica entre a RDCongo e o Uganda à qual não é estranho.

Como explicou há dias em declarações à Lusa Paul Nantulya, analista do África Center for Strategic Studies (ACSS), especialista em áreas como a dos processos de mediação e paz na região dos Grandes Lagos, África Oriental e África Austral, "o ressurgimento do M23 reavivou preocupações sérias relativamente às tensões entre o Uganda e o Ruanda", dois aliados importantes de Washington, que "vêm a intensificar-se há vários meses, sobretudo com a aproximação política, económica e na área da segurança entre Kinshasa e Kampala".

"O Uganda e o Ruanda tendem a combater as suas guerras dentro das fronteiras da RDCongo, em vez de através das suas fronteiras. Esta não é a primeira vez que acontece" uma guerra por procuração, corporizada agora pelo ressurgimento do M23, sublinhou o analista.

Quando Blinken afirma, como há horas, que "cada país da região deve respeitar a integridade territorial dos outros", parece estar a veicular a preocupação crescente de Washington com a escalada das tensões na região, que pode levar, como recordava Nantulya, à aplicação de sanções ao Ruanda, "o que não seria a primeira vez".

Leia Também: Antony Blinken termina visita à RDCongo e segue para o Ruanda

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