Meteorologia

  • 20 ABRIL 2024
Tempo
17º
MIN 15º MÁX 23º

WWF. "Civilização de transiçao" tem de mudar forma de viver

O diretor-geral da organização ambientalista internacional "World Wide Fund for Nature" (WWF), Marco Lambertini, vê como "civilização de transição" o atual momento do mundo, mas avisa que a transição implica mudar a forma de viver.

WWF. "Civilização de transiçao" tem de mudar forma de viver
Notícias ao Minuto

17:47 - 29/06/22 por Fernando Peixeiro

Mundo Ambiente

Apesar de as emissões de gases com efeito de estufa, a poluição ou a sobrepesca continuarem a aumentar e de todos os indicadores sobre a saúde dos oceanos irem na direção errada, Marco Lambertini diz que ainda assim vê a fase atual do mundo como uma fase de transição para algo melhor.

"Sejamos honestos, não é uma transição fácil, temos de mudar muitas coisas na forma como vivemos, no nosso estilo de vida, na forma como nos desenvolvemos, e na forma de garantir equidade nesse desenvolvimento", disse o diretor-geral da WWF em entrevista à Agência Lusa em Lisboa, onde participa na Conferência dos Oceanos da ONU.

Trata-se, diz, de uma transição profunda, de uma economia não sustentável, sem preocupações para com a natureza, para uma economia sustentável. E exige, particularmente, uma mudança nos investimentos financeiros.

"Há uma mudança no setor dos combustíveis fósseis para o renovável. É o princípio, temos de acelerar, ainda não é o suficiente para levar a uma mudança em relação às alterações climáticas, ou em relação aos oceanos, ou as florestas", diz, concluindo que o mundo está a mover-se na direção certa, ainda que não suficientemente rápido e exemplificando com o que está a acontecer no setor da energia, em que no último ano 70% do investimento em novas produções de energia foi em energias renováveis.

Reconhecendo que os oceanos têm sido esquecidos na agenda mundial, recorda, no entanto, que no início do milénio menos de 1% dos oceanos estava protegido, contra os quase 8% atuais e o objetivo de proteção de 30% e diz que a mensagem que sai da conferência de Lisboa é que se sabe o que tem de ser feito e que tem de ser feito rapidamente.

Ainda assim, Marco Lambertini não se considera um otimista. Porque vê os problemas, vê as alterações climáticas como uma ameaça para a sociedade global, mas vê também uma base para a mudança, na qual é preciso continuar a investir.

E vê também na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre até sexta-feira, uma oportunidade para dirigentes, governos, empresas e sociedade civil expressarem a necessidade de se acelerarem as ações para apoiar os oceanos.

"Sabemos que o oceano está em crise, temos problemas de sobrepesca, de aumento das temperaturas devido as alterações climáticas, problemas de acidificação, problemas de poluição de diferentes formas, incluindo de plástico", e a conferência de Lisboa, não sendo um encontro para se tomarem decisões, pode conduzir a um tratado global sobre poluição por plástico ou avanços como a proteção de 30% dos oceanos, o que irá permitir a recuperação de 'stocks' de peixe.

"Por isso esta conferência é muito importante, para enviar mensagens fortes para outras conferências que vão decorrer este ano, onde são esperadas decisões".

Marco Lambertini não esconde a urgência dessas decisões. Porque quer as alterações climáticas, quer a perda de biodiversidade, quer a poluição, não afetam apenas a biodiversidade mundial mas começam a afetar a estabilidade do planeta, as economias e a vida das pessoas.

"A conservação da natureza afeta a nossa prosperidade, a nossa sobrevivência e o nosso futuro. É uma nova perceção que sai desta conferência", diz o responsável da WWF, acrescentando que o mar, além de bonito e inspirador é também uma fonte de imensos recursos para a humanidade.

Porque os 2,5 biliões de dólares em bens e serviços que são produzidos pelo oceano são fundamentais para a economia, diz, acrescentando: "proteger o oceano é crítico para a nossa prosperidade e para as nossas vidas", como é crítico mudar a forma se usam e se consomem os recursos dos oceanos, algo que diz respeito a governos mas também empresas e consumidores.

Os pequenos Estados insulares já perceberam essa urgência. Na entrevista à Lusa, Marco Lambertini prefere chamar-lhes "grandes Estados oceânicos" e reconhece que são os primeiros na luta contra as alterações climáticas, porque estão "na linha da frente" das consequências, e são os primeiros a querer uma pesca sustentável, porque querem preservar aquele que é, de facto, o seu único recurso.

E sobre recursos o diretor-geral da WWF expressa ainda preocupação sobre a mineração em mar profundo que alguns países admitem fazer. Perentoriamente contra, questiona sobre o que farão em termos de impacto em sistemas frágeis milhares de "bulldozers" debaixo de água.

É por isso que a WWF tem pedido uma moratória, até que se entendam todas as implicações. "Temos de aprender com outros erros que cometemos no passado, explorando recursos naturais sem entender as consequências".

E depois, diz, essa exploração de recursos nem é necessária, porque há uma "imensa oportunidade" na reciclagem de metais essenciais, enquanto 8investir milhões para potencialmente afetar ainda mais os mares não é racional.

Importante, reafirma, é mesmo que cada parte da sociedade faça a transição necessária, que se incentivem as energias renováveis e se penalizem as empresas de combustíveis fósseis, que têm recebido biliões de dólares em incentivos.

Mas a guerra na Ucrânia não poderá atrasar todo esse processo de transição? Marco Lambertini reconhece que a guerra, ao contrário de outras circunstâncias, é mais penalizadora para a economia mundial, tem impactos na segurança energética e alimentar e que coloca em risco a agenda de desenvolvimento sustentável.

"Será uma tragédia, uma grande tragédia, se a guerra na Ucrânia empurrar o mundo para o abandono da agenda de desenvolvimento sustentável", diz.

Ângela Morgado, diretora executiva da Associação Natureza Portugal (ANP/WWF), que representa no país a WWF, fala também à Lusa do desenvolvimento sustentável, de uma "economia azul", mas avisa que a "economia azul só existe se existir uma biodiversidade restaurada" e que o Governo português tem de perceber isso.

E da Conferência dos Oceanos queria ver sair uma declaração que espelhasse o entendimento de que toda a sociedade se deve preocupar e deve conservar os oceanos porque disso depende a vida de todos.

Portugal deve também "fazer tudo" para que a pesca seja cada vez mais sustentável, criando planos de conservação e gestão de algumas espécies, nomeadamente de tubarões e raias.

Da mesma maneira, deve aderir à moratória sobre a mineração em mar profundo, que na terça-feira já teve o apoio de três países, e deve ainda apostar na meta dos 30% de áreas marinhas protegidas até 2030, adiantou.

"Não atingir essa meta no mar não traria uma imagem de um Estado líder na questão do reconhecimento do mar como eixo fundamental da economia, do ambiente e até social", conclui Ângela Morgado.

Leia Também: Cerca de 10% dos cancros da Europa estão ligados à poluição

Recomendados para si

;
Campo obrigatório