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Tribunal suspende julgamento de assassinato de Sankara

O julgamento dos alegados assassinos do antigo presidente do Burkina Faso Thomas Sankara e 12 companheiros num golpe de Estado em 1987 foi hoje adiado até ao "restabelecimento da Constituição", suspensa por um golpe militar há uma semana.

Tribunal suspende julgamento de assassinato de Sankara
Notícias ao Minuto

14:48 - 31/01/22 por Lusa

Mundo Burkina Faso

"O tribunal [militar] examinou os vários argumentos" e "decidiu suspender a audiência em nome de uma correta administração da justiça", anunciou o presidente do tribunal militar, Urbain Aniatisa Meda.

O tribunal convidou ainda as partes a "ficarem atentas ao recomeço do julgamento, que terá lugar após o restabelecimento da Constituição", acrescentou o magistrado.

Na abertura do reinício do julgamento, interrompido pelo golpe de Estado no passado dia 24 de janeiro, os advogados da parte civil pediram a sua suspensão até uma "normalização jurídica" pelos novos dirigentes do país.

"A parte civil acredita que um julgamento deve ser realizado num prazo razoável, mas não queremos um julgamento" manchado por "irregularidades", afirmou Prosper Farama, advogado da família Sankara.

Na passada quinta-feira, no seu primeiro discurso desde que assumiu o poder do país há uma semana, o novo homem forte do Burkina Faso, o tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, garantiu na televisão nacional o "regresso [do país] à vida constitucional normal", "quando as condições estiverem reunidas", sem especificar qualquer calendário, assim como afirmou que a independência do poder judicial será "assegurada".

Para Prosper Farama, porém, coloca-se a questão de se saber se "poderá o tribunal, cuja independência é garantida pela Constituição, realizar as audiências quando a Constituição que garante essa independência está suspensa".

Um advogado de defesa, Mamadou Sombie, argumentou, em contrapartida, que "a justiça não se faz em nome da Constituição, mas em nome do povo burquinabê".

O julgamento, que começou em outubro de 2021, foi interrompido no dia do golpe militar, quando era suposto que entrasse na fase dos argumentos finais.

Doze dos 14 arguidos, incluindo o general Gilbert Diendéré, 61 anos, um dos principais líderes do exército durante o golpe de 1987, marcaram presença física no julgamento.

Já o principal arguido, o antigo presidente Blaise Compaoré, que sucedeu a Sankara na sequência do assassinato, e era um amigo próximo e "irmão de armas" do antigo líder, está a ser julgado em ausência, tendo os seus advogados considerado ser este "um julgamento falso", levado a cabo por "um tribunal de exceção".

Suspeito de ter ordenado o assassinato de Sankara, que sempre negou, Compaoré foi expulso do poder em 2014 por protestos nas ruas quando tentava alterar a Constituição do país e garantir a perpetuação no poder, e vive desde então na Costa do Marfim, onde conseguiu a cidadania, que o protege da extradição e da eventualidade de ser julgado no seu país.

Antes do início do interrogatório, o tribunal militar ouviu ficheiros áudio e visionou vídeos datados de 1987, nos quais Blaise Compaoré justifica os acontecimentos de 15 de outubro, resultantes, segundo o ex-presidente burquinabê, de "diferenças fundamentais que surgiram ao longo de um ano sobre questões operacionais do processo revolucionário".

Num dos ficheiros, Compaoré, que tinha participado no golpe de Estado de 1983 que levou Thomas Sankara ao poder, apresenta o companheiro de armas como um "traidor da revolução, que exercia um poder autocrático" e "pessoal".

"Os outros camaradas tinham decidido demiti-lo" ou forçá-lo a "demitir-se", terá acrescentado Compaoré, justificando a "necessidade de uma retificação".

'Braço direito' de Sankara, Blaise Compaoré sempre negou ter sido o mandatário do massacre.

As circunstâncias da morte de Sankara foram mantidas em total segredo durante o período em que Blaise Compaoré esteve no poder e isso, só por si, faz aumentar as suspeitas de que ele possa, de alguma forma, ter estado envolvido ou ter tido conhecimento. Até que ponto foi cúmplice ou participou no assassinato, terá que ser estabelecido pelo tribunal.

Thomas Sankara, que chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1983, foi morto com 12 dos seus companheiros por um comando durante uma reunião na sede do Conselho Nacional da Revolução (CNR) em Ouagadougou. Tinha 37 anos.

Deixou uma marca indelével em África, onde ficou conhecido com o "Che Guevara Africano", que queria "descolonizar as mentalidades" e perturbar a ordem mundial através da defesa dos pobres e oprimidos.

Logo no ano seguinte à sua chegada ao poder, Sankara mudou o nome do país, numa tentativa de enterrar com as insígnias da República do Alto Volta a herança do poder colonial francês. O país de Sankara passou a chamar-se República Democrática e Popular do Burkina Faso, que significa "país do povo honesto".

Sankara é uma referência ainda muito presente junto dos burquinabês -- foi citado pelo novo homem forte do país, Sandaogo Damiba, no seu primeiro discurso ao país -- mas mantém igualmente um lugar de destaque no panteão dos ícones pan-africanos.

Doze de 14 acusados estão presentes no julgamento, incluindo o general Gilbert Diendere, 61 anos, um dos principais líderes do exército durante o golpe de 1987, e chefe da segurança de Compaoré durante a sua presidência.

Leia Também: Testemunha acusa Diendéré, um dos principais arguidos no processo Sankara

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