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Tunísia. Gravações relevam que ex-ditador Ben Ali considerou regressar

O antigo Presidente da Tunísia Zine El-Abidine Ben Ali ainda considerou voltar atrás quando estava a bordo do avião que o transportou para exílio em 2011, revelam gravações telefónicas divulgadas hoje pela estação de televisão britânica BBC.

Tunísia. Gravações relevam que ex-ditador Ben Ali considerou regressar
Notícias ao Minuto

17:15 - 14/01/22 por Lusa

Mundo Tunísia

A divulgação dos registos das conversas telefónicas entre o ex-ditador tunisino e altos funcionários e familiares coincide com o 11.º aniversário da queda do seu regime, a 14 de janeiro de 2011, após 23 anos no poder.

A BBC indicou que as gravações obtidas foram examinadas por especialistas que não encontraram "nenhuma evidência de adulteração ou manipulação".

A revolução tunisina, que deu início às revoltas daquela que viria a ser conhecida por "Primavera Árabe" e que abalaram vários países da região, começou a 17 de dezembro de 2010, dia em que um vendedor ambulante que se dizia oprimido pela pobreza e humilhações policiais, Mohamed Bouazizi, se imolou pelo fogo.

Numa das gravações, datada de 13 de dezembro de 2011, uma voz considerada como a de Ben Ali, ainda como Presidente, é ouvida a conversar com um dos seus familiares, logo após fazer um discurso à nação.

O familiar, que, segundo a BBC, será o empresário Tarek ben Ammar, dá-lhe os parabéns pelo discurso, enquanto o Presidente prestes a ser deposto responde acreditar que faltou "fluidez" na intervenção.

Nas demais gravações, feitas a 14 de janeiro de 2011 a partir do avião que o transporta com o seu clã para a Arábia Saudita, Ben Ali discute por sua vez com três interlocutores, incluindo o então ministro da Defesa tunisino Ridha Grira.

Quando Grira o informa ter sido já nomeado um Presidente interino, Ben Ali responde que estará de volta ao país "dentro de algumas horas".

Noutra ocasião, e ainda no avião e sempre ao telefone, Ben Ali pergunta, então, a um familiar, Kamal Eltief, se ele o aconselha a voltar já ou não.

"As coisas não estão a correr bem", respondeu Eltief.

Ben Ali faz a mesma pergunta a Rachid Ammar, então chefe das Forças Armadas, que responde: "Quando virmos que poderá voltar avisá-lo-emos, senhor Presidente".

Ben Ali ficaria então no exílio na Arábia Saudita, onde viria a morrer em setembro de 2019 sem nunca mais ter voltado a pisar solo tunisino.

O 11.º aniversário do fim do regime de Ben Ali ocorre numa altura em que a Tunísia está mergulhada numa profunda crise política desde que o Presidente Kais Saied assumiu, em julho, plenos poderes, o que tem gerado receios quanto a um regresso do regime autoritário no "berço" da Primavera Árabe.

Após declarar o estado de exceção a 25 de julho, que incluiu também a exoneração do primeiro-ministro Hichem Mechichi, o Presidente tunisino suspendeu a quase totalidade da Constituição de 2014 e muniu-se de plenos poderes para "recuperar a paz social".

O Parlamento, que o Ennahdha (partido de inspiração islâmica) controlou nos últimos 10 anos, ficou suspenso.

Kais Saied e outros responsáveis políticos tunisinos alegam que as medidas constituem uma "retificação" à revolução de 2011, que pôs termo a mais de duas décadas do regime ditatorial de Ben Ali.

A oposição, por seu lado, considera a decisão de Saied um "golpe de Estado".

Leia Também: Tunísia: Presidente anuncia ataque à corrupção após concentrar poderes

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