Pacto de defesa no Indo-Pacífico revela "desprezo" pelos europeus
O recente anúncio do pacto de defesa entre os Estados, o Reino Unido e a Austrália, que causou um incidente diplomático com a França, revela "profundo desprezo" pelos europeus, defende o analista Frédéric Grare.
© Shutterstock
Mundo Defesa
"Não se esperem reações dramáticas a curto prazo. Mas certamente haverá lições a tirar deste episódio", disse à agência Lusa Frédéric Grare, especialista em questões do Indo-Pacífico do Conselho Europeu de Relações Internacionais, referindo-se ao conflito diplomático provocado pelo anúncio do AUKUS (nome do pacto de defesa entre os três países), a 15 de setembro passado.
O pacto, realizado sem o conhecimento dos aliados europeus, desfez um milionário contrato de compra de submarinos convencionais franceses por parte da Austrália, preterido em favor da compra de submarinos nucleares norte-americanos, para a defesa da região do Indo-Pacífico.
A repercussão deste episódio e do AUKUS nas relações transatlânticas será o tema de uma reunião do Grupo de Reflexão do Atlântico, do Instituto de Defesa Nacional, que decorre hoje em formato virtual e no qual participa Frédéric Grare.
Para Grare, "é um absurdo pensar que o episódio (da venda à Austrália de submarinos de propulsão nuclear dos EUA) não terá impacto nas relações entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE)".
"A rescisão do contrato entre a França e a Austrália, sem qualquer consulta entre Paris de um lado, Camberra, Londres e Washington do outro, pode ter sido um assunto bilateral, mas certamente levantou questões em muitas capitais sobre o que significa ser um aliado dos EUA", explicou este investigador, que no passado colaborou com o Ministério dos Assuntos Europeus e Internacionais do Governo francês.
Por outro lado, para Grare, "a quebra de confiança entre Paris e Camberra agravou a já frágil conexão estratégica entre a Europa e o Indo-Pacífico".
O AUKUS é um acordo entre três países aliados que decidiram reforçar a sua cooperação de segurança no Indo-Pacífico, através de um pacote de medidas de transferência de tecnologias associadas a competências cibernéticas, inteligência artificial e submarinos de propulsão nuclear.
Ao ser deixada de fora deste plano, a UE ficou ainda mais alheada das questões geoestratégicas no Indo-Pacífico - onde países como a França têm reais interesses políticos, económicos e militares --, mas separa igualmente Londres e Bruxelas, explicou Frédéric Grare.
"A UE não está muito presente militarmente no Indo-Pacífico. Mas também, pelo menos recentemente, nem o Reino Unido estava. Isto está a mudar. Nesse sentido, o AUKUS colocará o Reino Unido ainda mais longe da UE", defendeu o analista, que questiona se Londres e Paris conseguirão continuar a cooperar militarmente, como fizeram até hoje.
"No pós-'Brexit', o curso desta relação no Indo-Pacífico pode potencialmente transformar o que antes era uma cooperação sólida numa competição absurda, sem potenciais vencedores. E isso não é um bom presságio", disse Grare.
O especialista considera que a UE deve estar "mais presente na zona do Pacífico e contribuir para transformar a dinâmica da rivalidade EUA-China", alegando que essa presença ajudaria a evitar um confronto entre as duas superpotências.
Leia Também: UE sem informação sobre pacto entre Reino Unido, EUA e Áustrália
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com