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Pacto de defesa no Indo-Pacífico revela "desprezo" pelos europeus

O recente anúncio do pacto de defesa entre os Estados, o Reino Unido e a Austrália, que causou um incidente diplomático com a França, revela "profundo desprezo" pelos europeus, defende o analista Frédéric Grare.

Pacto de defesa no Indo-Pacífico revela "desprezo" pelos europeus
Notícias ao Minuto

12:45 - 17/11/21 por Lusa

Mundo Defesa

"Não se esperem reações dramáticas a curto prazo. Mas certamente haverá lições a tirar deste episódio", disse à agência Lusa Frédéric Grare, especialista em questões do Indo-Pacífico do Conselho Europeu de Relações Internacionais, referindo-se ao conflito diplomático provocado pelo anúncio do AUKUS (nome do pacto de defesa entre os três países), a 15 de setembro passado.

O pacto, realizado sem o conhecimento dos aliados europeus, desfez um milionário contrato de compra de submarinos convencionais franceses por parte da Austrália, preterido em favor da compra de submarinos nucleares norte-americanos, para a defesa da região do Indo-Pacífico.

A repercussão deste episódio e do AUKUS nas relações transatlânticas será o tema de uma reunião do Grupo de Reflexão do Atlântico, do Instituto de Defesa Nacional, que decorre hoje em formato virtual e no qual participa Frédéric Grare.

Para Grare, "é um absurdo pensar que o episódio (da venda à Austrália de submarinos de propulsão nuclear dos EUA) não terá impacto nas relações entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE)".

"A rescisão do contrato entre a França e a Austrália, sem qualquer consulta entre Paris de um lado, Camberra, Londres e Washington do outro, pode ter sido um assunto bilateral, mas certamente levantou questões em muitas capitais sobre o que significa ser um aliado dos EUA", explicou este investigador, que no passado colaborou com o Ministério dos Assuntos Europeus e Internacionais do Governo francês.

Por outro lado, para Grare, "a quebra de confiança entre Paris e Camberra agravou a já frágil conexão estratégica entre a Europa e o Indo-Pacífico".

O AUKUS é um acordo entre três países aliados que decidiram reforçar a sua cooperação de segurança no Indo-Pacífico, através de um pacote de medidas de transferência de tecnologias associadas a competências cibernéticas, inteligência artificial e submarinos de propulsão nuclear.

Ao ser deixada de fora deste plano, a UE ficou ainda mais alheada das questões geoestratégicas no Indo-Pacífico - onde países como a França têm reais interesses políticos, económicos e militares --, mas separa igualmente Londres e Bruxelas, explicou Frédéric Grare.

"A UE não está muito presente militarmente no Indo-Pacífico. Mas também, pelo menos recentemente, nem o Reino Unido estava. Isto está a mudar. Nesse sentido, o AUKUS colocará o Reino Unido ainda mais longe da UE", defendeu o analista, que questiona se Londres e Paris conseguirão continuar a cooperar militarmente, como fizeram até hoje.

"No pós-'Brexit', o curso desta relação no Indo-Pacífico pode potencialmente transformar o que antes era uma cooperação sólida numa competição absurda, sem potenciais vencedores. E isso não é um bom presságio", disse Grare.

O especialista considera que a UE deve estar "mais presente na zona do Pacífico e contribuir para transformar a dinâmica da rivalidade EUA-China", alegando que essa presença ajudaria a evitar um confronto entre as duas superpotências.

Leia Também: UE sem informação sobre pacto entre Reino Unido, EUA e Áustrália

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