ONG ambientais e oposição acusam Bolsonaro de "mentir" em discurso na ONU
Organizações não-governamentais (ONG) ambientais e parlamentares da oposição ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, criticaram o seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, acusando-o de "mentir" e de "retratar um país que não existe".
© Getty Imagens
Mundo Brasil
Nas redes sociais e no seu 'site', a Greenpeace Brasil apontou as contradições de Bolsonaro no seu discurso e indicou que "o mesmo Presidente que negligencia a crise climática, as queimadas no Cerrado e na Amazónia, hoje tentou vender a imagem de um bom mandatário e retratou um país que não existe".
"Além de afirmar que a desflorestação diminuiu, o Presidente declarou que o país possui áreas florestais intactas desde a época da colonização, 66% de acordo com ele, e que a demarcação de terras indígenas é suficiente para os povos originários", explicou a ONG.
"No entanto, hoje as terras indígenas demarcadas somam apenas 13,8% do território brasileiro e a desflorestação na Amazónia bate recordes sucessivos em seu mandato. Já a área florestal brasileira é de menos de 60%, e é formada também por florestas plantadas", analisou a entidade, frisando que o Brasil não é atualmente um "país com florestas primárias e intactas, mas sim, com uma política conivente com as altas taxas de desmatamento e com grilagem".
Ahead of Bolsonaro’s speech at the #UNGA, activists in New York City denounced his actions and called on world leaders and global society to hold Bolsonaro accountable for the multiple crises his administration has caused in Brazil and globally. https://t.co/Phyv4dUre2
— Greenpeace (@Greenpeace) September 21, 2021
A Greenpeace Brasil acusou também o Presidente de fazer um discurso "fantasioso e antidemocrático", "além de avesso ao mundo necessário pós-covid que os principais líderes globais buscam construir".
A organização destacou ainda que Bolsonaro foi o único chefe de Estado a discursar sem estar vacinado e insistiu em defender o tratamento inicial para a covid-19, "ignorando, mais uma vez, o que diz a ciência e as autoridades da saúde".
Já a World Wide Fund for Nature (WWF) Brasil apontou que Bolsonaro utiliza espaços internacionais "com um discurso que não condiz com a realidade do país ou com a atuação esperada de um chefe de Estado".
Para o secretário executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, a única maneira do Presidente "ajudar a imagem do Brasil seria ele subir lá no palco e dizer: 'Eu renuncio'".
Além de organizações ambientais, também a oposição criticou duramente Bolsonaro, um dos mais céticos em relação à gravidade da pandemia, pelo seu discurso de abertura da 76.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em que defendeu a autonomia médica e o uso de medicamentos sem eficácia contra a covid-19.
No seu discurso, Bolsonaro disse ainda que "o Brasil está há dois anos e oito meses sem nenhum caso concreto de corrupção", omitindo que alegados casos de corrupção na aquisição de vacinas contra a covid-19, envolvendo elementos do executivo, estão a ser investigados pela Polícia Federal.
"Nunca um Presidente foi à ONU dividir o Brasil! Especialmente num momento que precisamos de união entre os brasileiros para salvar vidas! Absurdo sem precedentes! Bolsonaro mentiu do início ao fim, e ao invés de defender a vacina, criticou o passaporte da vacina, que tem dado resultados bons no mundo todo, e falou sobre um tratamento sem eficácia contra a covid-19! Um vexame [vergonha] mundial", disse o senador Randolfe Rodrigues.
Já o senador Renan Calheiros, relator da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga falhas do Governo na pandemia, afirmou que Bolsonaro "mentiu do começo ao fim" e classificou o discurso como um "triste espetáculo".
O deputado federal Marcelo Freixo criticou os ataques de Bolsonaro à imprensa e o facto de dizer que não há corrupção no país, acusando ainda o chefe do executivo de mentir sobre a Amazónia.
"Bolsonaro atacou a imprensa, fez pregação anti-vacina, promoveu medicamentos ineficazes contra a covid, disse que não há corrupção no Governo e mentiu sobre a destruição na Amazónia. Um vexame que degrada ainda mais a imagem do Brasil no mundo", escreveu Freixo no Twitter.
"Bolsonaro falou a verdade apenas uma vez, quando disse que o Brasil mudou. Sim, mudou e nós vivemos num país muito pior, com 19 milhões de famintos, 14 milhões de desempregados e quase 600 mil mortos pela irresponsabilidade do desgoverno na pandemia", acrescentou o deputado.
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