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Fecho de hospital para sem-abrigo abre crise política em Budapeste

O eventual encerramento de um hospital para sem-abrigo em Budapeste está a provocar uma crise política entre o Governo de extrema-direita e a autarquia liberal da capital da Hungria.

Fecho de hospital para sem-abrigo abre crise política em Budapeste
Notícias ao Minuto

12:45 - 21/04/21 por Lusa

Mundo Hungria

O hospital garante cuidados médicos, serviços sociais e abrigo a mais de mil pessoas, anualmente.

O edifício está equipado com 75 camas e equipamentos médicos modernos, além de dispor de enfermarias e de espaços para tratamentos em ambulatório tratando-se do único hospital destinado a pessoas sem-abrigo em Budapeste.

Recentemente, o Governo húngaro ordenou ao Centro Metodológico e de Políticas Sociais de Budapeste, que gere o hospital com fundos municipais num edifício propriedade do Estado, para abandonar as instalações, provocando situações de incerteza a centenas de pessoas que recebem tratamento no local.

A decisão está a ser contestada pela autarquia da cidade.  

"Se não existir um local alternativo nós não saímos daqui. Eles podem mandar vir a polícia ou retirar-nos à força, mas nós não vamos sair pelo nosso pé", disse Gergely Karacsony, presidente da Câmara de Budapeste em entrevista à Associated Press.  

Karacsony, opositor ao regime do primeiro-ministro Viktor Orban, diz que nos últimos meses pediu ao Governo para manter o hospital em funções ou, em alternativa, recolocar os sem-abrigo num outro edifício adequado para as funções que desempenha.

O gabinete de Andrea Mager, ministra sem pasta responsável pelo Desenvolvimento e Equipamentos Públicos, disse à Associated Press (AP) que uma instituição de saúde, que não foi especificada, vai ser transferida para o hospital dos sem-abrigo e que se sabe "há mais de um ano que o edifício vai estar em obras".

Após ter renovado a data de encerramento, o Governo diz agora que a instituição que gere o hospital tem até ao dia 30 de junho para encontrar um novo local e abandonar o edifício. 

Franciska Csortos, chefe do departamento para doentes internados do hospital para os sem-abrigo recorda que os serviços públicos de saúde exigem que estes pacientes com doenças crónicas devem ser tratados em instalações "aprovadas" e equipas com cuidados médicos especializados.

Uma outra dependência que socorre pessoas sem-abrigo em Budapeste, mas sem as mesmas valências, encontra-se lotada, refere Csortos, acrescentando que pelo menos 75 a 150 pessoas que se encontram atualmente nas enfermarias "podem ficar sem lugar para onde ir" caso a instituição venha a ser encerrada. 

"[Os doentes] encontram-se em condições em que precisam necessariamente de cuidados hospitalares. Não os podemos colocar em abrigos provisórios", alerta Franciska Csortos.

O sistema de saúde da Hungria está praticamente esgotado, com cerca de nove mil pessoas hospitalizadas com covid-19, mas fazer voltar à rua os doentes sem abrigo pode ser fatal, diz o presidente da autarquia de Budapeste.

"Não vamos abandonar estas pessoas. Não as podemos mandar para a rua, para a morte", diz o autarca da capital da Hungria.

O Governo da Hungria tem promovido medidas "duras" contra os sem-abrigo nomeadamente a lei aprovada pelo partido Fidesz, maioritário no Parlamento, que criminaliza desde 2018 todos aqueles que "habitam de forma permanente os espaços públicos". 

A polícia está autorizada, na sequência de queixas, a obrigar as pessoas sem-abrigo a prestarem serviços comunitários e uma pessoa que seja encontrada três vezes a dormir na rua pode ser presa. 

Dora Papadopulosz, porta-voz da Associação From Streets to Homes, diz que a decisão governamental sobre o hospital faz parte das políticas contra os sem-abrigo iniciadas pelo Executivo de Orban cuja agenda social pretende que as classes médias e altas ignorem as necessidades dos mais pobres.

"Se as pessoas no Governo pensam que é justo prender pessoas sem-abrigo, então não nos devemos surpreender porque eles simplesmente não querem saber das pessoas mais vulneráveis da sociedade", acusa Papadopulosz.

Em 2020, um relatório da organização Habitat For Humanity, de Budapeste, estimava que cerca de três milhões de pessoas na Hungria tinham problemas de habitação, nomeadamente impossibilitadas de pagar rendas ou a viver em grupo em pequenos apartamentos.

Outras organizações referem que existem pelo menos 30 mil pessoas sem-abrigo na Hungria.

O preço das rendas de casa aumentou 60% entre 2007 e 2019, mas os salários dos trabalhadores mantêm-se baixos de acordo com o Eurostat.

Andrea Toth, que tem recebido tratamentos médicos no hospital, disse que ela e outras pacientes não sabem para onde ir se a instituição encerrar, mas ainda acreditam que a autarquia vai garantir soluções de abrigo.

"Nós não sabemos qual vai ser o resultado final. O que nós sabemos é que ninguém vai voltar para as ruas, segundo nos disse Karacsony. O Governo não promete nada, o lema deles é 'vive e deixa viver'", desabafa Toth, paciente do hospital dos sem-abrigo de Budapeste. 

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