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França diz que relatório ruandês "abre novo espaço político"

O relatório sobre o papel da França no genocídio de 1994, publicado pelo Ruanda, e a reação de Kigali excluindo a cumplicidade de Paris abre "um novo espaço político" para "projetar um futuro comum", disse hoje a Presidência francesa.

França diz que relatório ruandês "abre novo espaço político"
Notícias ao Minuto

17:28 - 19/04/21 por Lusa

Mundo Ruanda

A França congratulou-se também com o facto de as autoridades ruandesas terem excluído procedimentos legais, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Vincent Biruta, entrevistado pelo jornal Le Monde, disse o Eliseu.

O relatório Muse, encomendado por Kigali a advogados norte-americanos, "indica que a França tornou possível um genocídio que era previsível", mas rejeita que o país tenha participado "no planeamento do genocídio" e, na entrevista ao Le Monde, o ministro dos Negócios Estrangeiros ruandês assegurou que o seu governo "não levará esta questão aos tribunais".

O chefe da diplomacia ruandesa disse também acreditar que a publicação deste relatório, algumas semanas após o de uma comissão de historiadores franceses ter concluindo que houve responsabilidades "pesadas e condenáveis" de Paris na tragédia, "contribuirá para a reconciliação entre a França e o Ruanda".

A investigação de quase 600 páginas encomendada em 2017 pelo Ruanda à empresa de advogados Levy Firestone Muse chama à França um "colaborador indispensável" do regime hutu, que orquestrou o massacre de mais de 800.000 pessoas em três meses, na sua maioria da minoria tutsi, de acordo com os números da Organização das Nações Unidas (ONU).

Os autores do documento acreditam que a França sabia que o genocídio estava a chegar, mas continuou a dar "apoio inabalável" ao regime hutu do Presidente Juvenal Habyarimana, mesmo quando as suas intenções genocidas "se tinham tornado claras".

"A nossa conclusão é que o Estado francês tem uma pesada responsabilidade por ter tornado possível um genocídio previsível", dizem os autores, que estudaram vários milhões de páginas de documentos e entrevistaram mais de 250 testemunhas.

No entanto, a investigação não conseguiu estabelecer qualquer prova da participação de funcionários ou pessoal francês nas mortes que tiveram lugar entre abril e julho de 1994.

"Estes dois relatórios dão origem a conclusões que não são as mesmas, mas têm em comum o facto de abrirem um novo espaço político", reagiu o Eliseu, sublinhando que é um "passo importante por causa da palavra política que o acompanha".

Em 18 de maio, a França receberá o Presidente ruandês Paul Kagame em Paris como parte de uma cimeira sobre o financiamento das economias africanas, segundo a presidência francesa, recordando que Emmanuel Macron tenciona "visitar o Ruanda este ano".

Embora as relações entre os dois países se tenham distendido com a chegada de Emmanuel Macron ao poder em 2017, o papel da França no Ruanda continua a ser uma questão sensível mais de 25 anos depois.

É também o tema de um debate violento e apaixonado entre investigadores, académicos e políticos.

A publicação do relatório Muse surge algumas semanas depois do relatório Duclert, que concluiu que a França tinha uma responsabilidade "pesada e condenável" pela tragédia, mas que "nada prova" que tenha sido cúmplice do genocídio.

Pouco depois da sua publicação, o Presidente Kagame considerou que este trabalho constituía um "importante passo em frente".

O genocídio começou em 7 de abril de 1994, um dia depois do avião do Presidente Habyarimana ter sido abatido sobre Kigali.

Em poucas horas, as milícias hutu começaram a matar tutsis e hutus moderados a uma escala maciça e com extrema brutalidade.

De acordo com o relatório Muse, nenhum Estado trabalhou mais estreitamente com o regime hutu do que a França, então presidida por François Mitterrand, que foi identificado como o principal "responsável" pelo "apoio irrefletido" do seu país a um regime que se preparava para um genocídio.

A França prestou apoio militar e político para proteger os seus próprios interesses e ignorou as advertências internas, enquanto o discurso do ódio e a violência contra os tutsis progredia, refere o texto.

"Apenas o Estado francês foi um colaborador indispensável no estabelecimento de instituições que se tornariam instrumentos de genocídio. Nenhum outro Estado estrangeiro estava consciente do perigo representado pelos extremistas ruandeses enquanto apoiavam esses mesmos extremistas", acrescenta.

"O papel do poder francês era singular. No entanto, o Estado francês ainda não reconheceu o seu papel e ainda não pediu oficialmente desculpa por isso", lê-se no texto.

O relatório Muse acusa a França de ter levado a cabo nos últimos 25 anos "uma operação de encobrimento para enterrar o seu passado no Ruanda".

"Este encobrimento continua hoje", aponta, assinalando que vários pedidos de documentos relacionados com a investigação foram ignorados por Paris.

Em 7 de abril, 27 anos após o início do genocídio, a França anunciou a abertura ao público de importantes arquivos, incluindo os de Mitterrand.

A decisão foi saudada como um possível "passo em direção à transparência" pelo relatório Muse.

Leia Também: Relatório aponta "pesada responsabilidade" da França no genocídio tutsi

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