Meteorologia

  • 03 MAIO 2024
Tempo
11º
MIN 10º MÁX 19º

Chefe da diplomacia da Bolívia pede apoio e fala em desestabilização

A ministra das Relações Exteriores da Bolívia, Karen Longaric, disse à Lusa que "a comunidade internacional está a virar as costas à Bolívia", especialmente os países vizinhos, que "deveriam apoiar o país incondicionalmente".

Chefe da diplomacia da Bolívia pede apoio e fala em desestabilização
Notícias ao Minuto

08:11 - 28/11/19 por Lusa

Mundo Bolívia

A chefe da diplomacia boliviana destaca no seu apelo os países latino-americanos, especialmente dois dos vizinhos da Bolívia: Peru e Chile, importantes nos esforços de estabilização do seu país.

"Estamos à espera que o Peru se manifeste, porque é importante para nós. Temos excelentes relações com o Peru. E não sabemos o que aconteceu com o Chile. Não entendemos porquê a atitude do Chile. Francamente, surpreende que o Chile tome uma posição (de silêncio) dessa natureza quando talvez fosse o país mais afetado caso na Bolívia imperasse uma ditadura de alcances inimagináveis", lamentou.

O Peru é um aliado histórico da Bolívia. A expectativa do atual governo da Presidente interina Jeanine Áñez era de um reconhecimento imediato do seu governo por parte das autoridades peruanas.

O reconhecimento do Chile era outra expectativa por oposição a Evo Morales, que, durante os seus quase 14 anos de governo, colocou o vizinho como o grande inimigo, desencadeando até uma queixa no Tribunal Internacional de Haia relativa à saída para o Oceano Pacífico depois de o Chile ter ficado com uma parte do território boliviano, perdido na Guerra do Pacífico (1879-1883).

"A comunidade internacional está a virar-nos as costas. São países que deveriam, neste momento, apoiar-nos incondicionalmente, especialmente os países da região que não nos reconheceram", defendeu a ministra, destacando, no entanto, o apoio da Colômbia, do Equador e, sobretudo, o Brasil, países que reconheceram o governo de Jeanine Áñez, que assumiu depois da renúncia coletiva do ex-Presidente Evo Morales e de toda a linha sucessória, há quase três semanas.

"O reconhecimento do Brasil é muito importante porque é o Estado mais importante nas relações internacionais da Bolívia e porque é muito influente na região", valorizou Karen Longaric.

A ministra boliviana recebeu a Lusa no Salão dos Embaixadores, ao lado da sua sala no Ministério das Relações Exteriores da Bolívia. O histórico edifício fica defronte da Praça Murilo, em redor da qual também fica a Assembleia Legislativa e o Palácio Quemado, sede do Governo boliviano que, por estes cruciais dias, tenta pacificar um país ainda sob tensão.

Em redor da praça diversas barricadas da Polícia evitam que os manifestantes se aproximem. No Ministério das Relações Exteriores, a ministra, uma diplomata de carreira e professora de Direito Internacional, apela à comunidade internacional para a necessidade de apoiar o atual processo boliviano.

"O que a Bolívia deseja neste momento é que os países da região compreendam a situação que estamos a atravessar. Este é um governo de transição orientado para a convocação de eleições gerais e transparentes. Isso tem de ser interpretado corretamente. Não se trata de um golpe de Estado. Trata-se de uma transição constitucionalmente respaldada", garantiu a governante, que destaca a importância do reconhecimento internacional para o atual governo e o risco que a falta desse reconhecimento gera.

"Lamentamos que o discurso do senhor Evo Morales tenha sido uma possibilidade que os países que ainda não nos reconheceram estariam a considerar. Não é possível que os países, historicamente amigos da Bolívia, sob a consideração de que este seja um golpe de Estado, estejam a dar margem a Evo Morales para se reposicionar no governo", apelou Longaric, alertando que, caso isso aconteça, o país corre risco de um autoritarismo sem precedentes.

"E que, com a perspetiva [de um reposicionamento de Evo Morales], aqui se instaure uma ditadura amparada por grupos irregulares, por terrorismo, por tráfico de drogas que, de qualquer forma, vai influir negativamente na região", advertiu a ministra.

No passado domingo, a Presidente Añez promulgou a lei que anula as eleições de 20 de outubro que reelegeram Evo Morales, acusado de manipular os resultados.

As acusações de fraude foram o estopim de três semanas consecutivas de grandes e participadas manifestações até à sua renúncia.

A nova lei também convoca novas eleições gerais, desta vez sem Morales, e estabelece um prazo máximo de 120 dias para a realização do escrutínio, uma vez aprovado o calendário eleitoral por um novo Tribunal Supremo Eleitoral, a ser eleito pelo parlamento em 20 dias.

"O objetivo deste governo é pacificar o país para o qual devem ser realizadas eleições transparentes, com cooperação internacional, para podermos entregar ao povo boliviano um governo democraticamente eleito que possa, pouco a pouco, recuperar a institucionalização do país", explicou Karen Longaric.

"O risco é muito grande e o risco provém de vários flancos. Se a Bolívia não conseguir concretizar o propósito de convocar eleições, acompanhada por organismos internacionais, e Evo Morales conseguir desestabilizar este processo, o perigo é para todos na região", reafirmou a chefe da diplomacia da Bolívia.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório