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Interesses nacionais dificultam "voz comum" da UE face à ascensão chinesa

Analistas apontam dificuldades na União Europeia (UE) em desenvolver uma política comum para a China, face aos diferentes interesses nacionais nas relações com Pequim, cuja política externa tem revelado inédita assertividade e crescentes ambições geoestratégicas.

Interesses nacionais dificultam "voz comum" da UE face à ascensão chinesa
Notícias ao Minuto

09:21 - 11/05/19 por Lusa

Mundo Eleições Europeias

quase impossível para a União Europeia (UE) ter uma política comum para a China", afirmou, em Pequim, o antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus Bruno Maçães.

O ex-governante, que falava durante a apresentação do seu livro 'Belt and Road: A Chinese World Order', numa livraria da capital chinesa, lembrou que os países do sul da Europa se sentem injustiçados pelo que consideram "regras parciais" dentro da UE.

"É muito tentador para esses países usar a China para contrabalançar o poder da Alemanha", notou. "Não comprem essa ideia de que todos na Europa são europeus a pensar no continente: temos rivalidades históricas prontas a serem reabertas e revistas", acrescentou.

Alemanha e França, que nas últimas décadas beneficiaram das ligações comerciais a Pequim, pressionam agora por critérios de seleção mais rigorosos para os investimentos chineses no continente, à medida que o país asiático assume o desejo de ter maior papel na governação dos assuntos globais e de competir nos setores de alto valor agregado.

Outros países veem nos planos chineses uma oportunidade, o que, em alguns casos, tem dificultado uma tomada de posição comum face à China.

"A bem-sucedida estratégia de Pequim e a sua política económica criaram divisões que tornam difícil à Europa falar a uma só voz", descreveu Theresa Fallon, diretora do Centro de Estudos para a Rússia, Europa e Ásia em Bruxelas.

"À medida que a ambição da China colide com o sonho europeu, testemunhamos uma corrosão dos valores europeus, com estados-membros da UE a lutarem pelo dinheiro chinês e, finalmente, enfraquecendo a ligação transatlântica", descreveu.

Fallon exemplificou com os casos húngaro e grego: em março de 2017, Budapeste recusou assinar uma declaração conjunta da UE sobre a alegada tortura de advogados na China; no mesmo ano, Atenas bloqueou um comunicado a criticar o historial de abusos dos Direitos Humanos no país asiático.

"O maior medo da UE é acordar tarde demais para o desafio colocado pela China", resumiu.

Bruno Maçães citou o mais recente documento da Comissão Europeia sobre a estratégia para a China, como um sinal das dificuldades em definir uma política comum.

O texto, que define uma nova "perspetiva estratégica" no contexto do "crescente poder económico e influência política da China", retrata o país simultaneamente como "parceiro de cooperação", "parceiro de negociação", "rival económico" e "adversário sistémico".

"O documento consegue incluir todo um vasto leque de definições", notou.

No espaço de uma década, enquanto as economias europeias estagnaram, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos e dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas.

Acompanhando este desenvolvimento, Pequim abdicou do "perfil discreto" na sua política externa, cultivado durante décadas, e passou a assumir uma política externa mais assertiva.

Bancos e outras instituições do país estão a conceder enormes empréstimos para projetos lançados no âmbito do gigantesco plano de infraestruturas "Uma Faixa, Uma Rota", que inclui a construção de portos, aeroportos, autoestradas e linhas ferroviárias ao longo do sudeste asiático, Ásia Central, África e Europa.

O objetivo é "redesenhar o mapa da economia mundial" de forma a "colocar a China no centro", repondo a "visão antiga do país sobre si mesmo, como nação universal", descreveu Maçães.

Trata-se de um projeto "muito ambicioso" e um desafio à ordem mundial definida pelo Ocidente, disse.

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