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França confirma "carregamento de armas" em cargueiro saudita

A França reconheceu que um navio saudita vai efetuar hoje um "carregamento de armas", mas voltou a assegurar não dispor de "qualquer prova" da utilização de armas francesas na guerra do Iémen, onde Riade intervém desde 2015.

França confirma "carregamento de armas" em cargueiro saudita
Notícias ao Minuto

13:12 - 08/05/19 por Lusa

Mundo Iémen

"Vai decorrer um carregamento de armas em função e na aplicação de um contrato comercial", declarou sem mais detalhes a ministra das Forças Armadas, Florence Parly, em declarações à cadeia BFM TV e à rádio RMC, ao ser interrogada sobre o cargueiro saudita Bahri Yanbu, que se dirige para o porto do Haver onde deve aportar às 17h00 locais (16h00 em Lisboa).

O site de investigação Disclose referiu que o navio deve recolher "oito canhões de tipo Caeser" que a Arábia Saudita poderá utilizar na guerra que promove no Iémen contra os rebeldes Houthis, a minoria xiita apoiada pelo Irão, o grande rival regional de Riade.

Parly não precisou a natureza das armas que vão ser transportadas, nem o seu destino.

De acordo com fonte governamental citada pela agência noticiosa AFP, "não se trata de canhões Caesar porque não existe em curso nenhuma entrega de Caesar". O Caesar é um camião equipado com um sistema de artilharia.

A ministra também repetiu que o Governo do Presidente Emmanuel Macron "não tem elementos de prova de que as vítimas no Iémen são resultado da utilização de armas francesas".

O argumento desde sempre avançado por Paris estabelece que estes armamentos são utilizados de forma defensiva e não na linha da frente.

No entanto, de acordo com uma nota da Direção de informações militares (DRM), revelada pelo Disclose em meados de abril, 48 canhões Caesar produzidos pela francesa Nexter "apoiam as tropas lealistas, assistidas pelas forças armadas sauditas, na sua progressão em território iemenita".

Um relatório da DRM calcula de "436.370 pessoas" estão "potencialmente abrangidas por possíveis ataques de artilharia", incluindo dos canhões franceses.

O líder do Partido Socialista (na oposição), Olivier Faure, exigiu "a verdade" e propôs "uma moratória sobre a venda de armas, como fez a Alemanha. Isso permitira à França não ser cúmplice de crimes de guerra".

A guerra no Iémen já vitimou dezenas de milhares de pessoas, incluindo numerosos civis, de acordo com organizações humanitárias.

Cerca de 3,3 milhões de pessoas estão deslocadas e 24,1 milhões, mais de dois terços da população, necessitam de ajuda urgente, segundo as estimativas da ONU.

Florence Parly recordou que a venda de armas se insere "numa parceria a longo prazo com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos", e acrescentou que a França "tem interesses nessa zona do mundo".

Na terça-feira, no decurso de uma turbulenta sessão no parlamento, o deputado comunista Jean-Paul Lecoq tinha já interpelado o Governo sobre esta questão: "Mais de 60.000 pessoas foram mortas e mais de 16 milhões de iemenitas estão ameaçados de fome (...). Mas a França, em nome da sua diplomacia de porta-moedas, continua a vender armas à Arábia Saudita com toda a opacidade".

Todos os deputados das formações de esquerda abandonaram o parlamento em sinal de protesto.

O cargueiro Bahri Yanbu tinha já suscitado polémica durante a sua passagem pelo porto belga de Anvers, onde ONG belgas suspeitam que a companhia nacional saudita Bahri procede regularmente, desde o verão de 2018, ao carregamento de armas e munições com destino a Riade.

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