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Charlie Hebdo vai doar memórias pós-atentado aos Arquivos de Paris

O jornal satírico Charlie Hebdo vai doar aos Arquivos de Paris todos os documentos recebidos após o atentado de janeiro de 2015 que vitimou parte da sua redação, incluindo milhares de desenhos e cartas de amor, apoio ou insulto.

Charlie Hebdo vai doar memórias pós-atentado aos Arquivos de Paris
Notícias ao Minuto

17:35 - 06/06/18 por Lusa

Mundo Jornais

toda a correspondência que recebemos depois. Penso que ela faz parte da história e da memória da cidade de Paris", explicou hoje o diretor e coproprietário do semanário francês, Riss, citado pela agência de notícias AFP.

A 7 de janeiro de 2015, o jornal satírico foi alvo de um ataque jihadista em que dois homens armados irromperam pela sua redação parisiense e abateram a tiro 11 pessoas, entre as quais figuras emblemáticas como Cabu, Wolinksi, Honoré, Tignous e o ex-diretor, Charb.

O atentado representou o início de uma vaga de ataques jihadistas sem precedentes em França.

A 11 de janeiro de 2015, mais de quatro milhões de pessoas saíram à rua nas principais cidades francesas sob o mote 'Je suis Charlie' ('Eu sou Charlie'), num protesto em defesa da liberdade de expressão.

Uma vez inventariados e classificados pelos Arquivos, os documentos recebidos pelo jornal satírico após o atentado ficarão acessíveis ao público, nomeadamente aos investigadores, à semelhança do que aconteceu com os milhares de testemunhos de apoio depositados nos locais dos atentados de 13 de novembro de 2015 (que fizeram 130 mortos em Paris e Saint-Denis) e organizados pelos Arquivos de Paris.

Para se efetivar, este projeto deve ainda ser validado pela Assembleia Municipal de Paris, na sua próxima reunião, em julho.

Há mais de 200 anos que os Arquivos de Paris coligem, classificam, conservam e divulgam documentos de interesse histórico sobre Paris ou o antigo departamento do Sena.

Para o diretor da instituição, Guillaume Nahon, "o fundo Charlie" merece estar nos Arquivos: "É de uma grande riqueza e formará um conjunto muito coerente com os arquivos do 13 de novembro, para se poder compreender as reações da opinião pública aos atentados de 2015".

Trinta e cinco grandes caixas de cartão contendo entre 56.000 e 70.000 documentos foram já transferidas das instalações do jornal para as dos Arquivos, juntando-se aos cerca de 67 quilómetros em linha reta de documentos que a cidade de Paris conserva no norte da capital.

"Isso corresponde a cerca de 12 metros em linha reta de documentos. É um enorme trabalho de classificação, será necessário proceder ao inventário e ao registo de cada item, bem como à sua análise jurídica", sublinhou Guillaume Nahon.

"O fundo estará acessível dentro de dois anos, pois trata-se de um material bruto cuja hipótese de divulgação é preciso verificar", ou seja, a possibilidade legal de ser mostrado ao público", prosseguiu.

Para classificar os documentos do pós-13 de novembro, os dois arquivistas voluntários precisaram de um ano e meio, e serão eles quem irá agora ocupar-se do fundo Charlie, uma parte do qual estará entretanto disponível para consulta 'online', no 'site' archives.paris.fr.

As mensagens foram pré-classificadas pelas equipas do Charlie Hebdo em sete grandes categorias: "a correspondência a tratar ou a entregar aos respetivos destinatários", "os abaixo-assinados", "os donativos", "os desenhos de crianças e adolescentes", "as cartas e desenhos de adultos de apoio à redação", "os apoios através de poemas" e "os cadernos de condolências".

Os desenhos de crianças constituem a maior parte do fundo (12 caixotes, ou seja, pelo menos 24.000 documentos).

Deles, 150 foram selecionados pela associação "Desenhem Criem Liberdade", criada pelo Charlie Hebdo, pelo SOS Racismo e pela associação do ensino secundário Fidl, para fazerem parte da exposição #Jedessine (Eudesenho), que passou por 18 cidades de França e estará a partir de hoje patente na Câmara Municipal de Paris.

Esses desenhos, igualmente publicados em livro no ano passado e, portanto, já acessíveis ao público, serão colocados 'online' mais rapidamente que o resto dos documentos, precisou Guillaume Nahon.

Vários universitários e sociólogos, nomeadamente aqueles que se debruçam sobre as reações pós-atentados, desejam poder consultar todos os documentos e já fizeram esse pedido aos Arquivos de Paris.

"É pena não se utilizar toda aquela correspondência. Achámos que os académicos poderiam tirar mais partido dela do que nós. Colocá-la à disposição e conservá-la é uma coisa que exige trabalho de especialistas", considerou Riss.

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