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Noura foi condenada à morte por esfaquear o marido que a violou

Organizações de defesa dos direitos humanos denunciam sentença "injusta" numa "sociedade extremamente patriarcal".

Noura foi condenada à morte por esfaquear o marido que a violou
Notícias ao Minuto

11:45 - 11/05/18 por Pedro Bastos Reis

Mundo Sudão

Uma jovem sudanesa de 19 anos foi condenada a pena de morte depois de matar o marido, que a violou um dia antes.

O caso está a gerar uma enorme onda de solidariedade internacional, uma vez que Noura Hussein foi obrigada pela família a casar com o marido sendo que, no dia anterior ao assassinato, a jovem sudanesa fora violada, com a ajuda dos familiares do marido, que assistiram a tudo.

A pena de morte para Noura foi confirmada por um juiz do tribunal de Omdurman, no Sudão, na passada quinta-feira. A defesa da jovem sudanesa dispõe de 15 dias para recorrer da decisão.

Para os advogados de Noura, a pena de morte não é a medida apropriada uma vez que a jovem estava a defender-se depois de uma violação e, além disso, estava bastante afetada psicologicamente, precisamente devido ao facto de ter sido violada.

“Foi um momento chocante quando o juiz me condenou por assassinato. Soube nesse momento que ia ser executada, deixando os meus sonhos por realizar”, disse Noura Hussein, citada pelo The Guardian, momentos depois de ouvir a sentença.

O caso atraiu grande atenção internacional, sobretudo nas redes socais, onde está em curso uma campanha para a libertação de Noura Hussein. #JusticeforNoura (justiça para a Noura) tornou-se uma hashtag com grande projeção nas redes sociais.

Noura casou aos 16 anos, obrigada pela família. Fugiu e encontrou refúgio na casa de uma tia durante três anos, antes de ter sido levada para casa pela própria família, que a entregou aos familiares do marido.

De acordo com o grupo ativista Equality Now, que tem apoiado a jovem sudanesa através de diversas campanhas, Noura esteve com o marido seis dias, tendo depois sido violada. O irmão do marido e os primos agarraram-na enquanto a jovem era violada.

No dia seguinte à violação, o marido voltou a tentar fazer o mesmo. Só que, dessa vez, Noura resistiu e esfaqueou o marido, acabando por matá-lo.

"Noura não é uma criminosa, é uma vítima"

Conhecida a sentença, a Equality Now fez saber que vai escrever uma carta ao presidente do Sudão, Omar al-Bashir, a pedir para este intervir e impedir a execução do Noura.

“Estamos também a apelar a todas as pessoas do mundo para que assinem a petição de apoio a Noura”, disse Tara Carey ao The Guardian. “A Noura não é uma criminosa - é uma vítima - e não deve ser tratada desta forma. Noutros países, às vítimas de violação e de violência doméstica seriam providenciados serviços para garantir que ultrapassam o trauma destas experiências”, lamentou a responsável da Equality Now.

No mesmo sentido, Yasmeen Hassan, da mesma organização de defesa dos direitos humanos, denunciou a sociedade “extremamente patriarcal do Sudão”. “É um lugar em que as raparigas podem casar aos 10 anos, em que há uma guarda legal dos homens sobre as mulheres, em que se diz às mulheres que elas têm de andar na linha e não a transgredir”, disse Hassan à BBC.

À mesma estação britânica, a Amnistia Internacional acusou as autoridades sudanesas de terem falhado e pediu ação imediata para travar a sentença. “As autoridades sudanesas devem anular esta sentença extremamente injusta e assegurar que Noura tem um julgamento justo e que as circunstâncias são tidas em conta”, apelou Seif Magango.

“Noura Hussein é uma vítima e a sentença é um ato de crueldade intolerável”, rematou a responsável da Amnistia Internacional.

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