Obesidade infantil. Médica explica a doença e partilha alguns conselhos

Para esclarecer todas as dúvidas sobre o tema "a pandemia global do século XXI", Raquel Coelho, pediatra da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP), assina este artigo de opinião.

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Notícias ao Minuto
16/03/2023 16:31 ‧ 16/03/2023 por Notícias ao Minuto

Lifestyle

Artigo de opinião

No dia 4 de março, assinalámos o Dia Mundial da Obesidade, doença crónica que, na infância, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como a pandemia global do século XXI e um dos maiores desafios a combater.

Já em Portugal, quase 30% das crianças têm excesso de peso e perto de 11% têm obesidade. Sabe-se que o risco de persistência é elevado e estima-se que 70% destas crianças se tornarão adultos com obesidade.

Leia Também: Como uma simples mudança no cérebro pode levar à obesidade

A obesidade, desde a idade pediátrica, anda lado a lado com várias complicações, que comprometem a qualidade e a esperança de vida. Não só é um importante fator de risco cardiovascular, associando-se a tensão arterial elevada, diabetes tipo 2 e alterações do colesterol, mas pode também causar fígado gordo, doenças osteoarticulares e perturbações no sono. Além disso, na saúde mental das crianças e dos jovens com obesidade, a discriminação social e a falta de autoestima podem ter implicações preocupantes, como ansiedade e depressão. 

Notícias ao Minuto Raquel Coelho© Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal  

Apesar de a obesidade poder ser influenciada por fatores comportamentais, como os hábitos alimentares e o sedentarismo, é uma doença demasiado complexa para ser explicada apenas nestes termos. A sua causa pode, também, ter origem genética, metabólica ou ambiental. 

No dia a dia apressado da nossa realidade, sabemos bem como se torna mais prático (e barato) optar por alimentos de consumo rápido e com elevado teor calórico. A alimentação mediterrânea tradicional tem sido substituída e as famílias têm cada vez menos disponibilidade para se dedicarem à cozinha. 

No nosso país, 40% dos adolescentes bebem refrigerantes todos os dias, mais de metade comem hortofrutícolas abaixo do recomendado e mais de 20% consomem açúcar de forma excessiva. A somar a isto, os jovens estão mais sedentários, praticam menos atividade física espontaneamente e passam muitas horas diárias em frente aos ecrãs. 

É preciso mudar este cenário. Introduzir a atividade física na nossa rotina e na das nossas crianças e jovens, tornando-a frequente e regular. A atividade física pode contribuir de forma significativa para a perda de peso e, a longo prazo, para a manutenção de um peso saudável.

Além disso, causa bem estar geral, aumenta a autoestima e ajuda no controlo de outros fatores de risco cardiovascular. Idealmente, deve ser adequada às preferências individuais e encarada com motivação e diversão, podendo ser uma ocasião de convívio familiar e facilitadora de amizades. 

Relativamente ao tempo de ecrã, este deve ser limitado e, no máximo, não ultrapassar as duas horas por dia. 

Identificarmos precocemente as situações de excesso de peso e de obesidade é fundamental para intervirmos em tempo útil. É essencial fazer escolhas saudáveis, que possibilitem alterações do estilo de vida a longo prazo. A reeducação alimentar e o incentivo à atividade física são pilares fundamentais da intervenção, que deve ser planeada com objetivos progressivos e realistas. Para alcançar o sucesso, é importante envolver a criança ou o jovem, mas também a sua família. 

Em algumas situações específicas, mesmo em crianças e jovens, pode haver indicação para tratamento farmacológico, quer para a obesidade, quer para as suas complicações.

Como tal, é importante iniciar cedo o acompanhamento clínico, assegurado por uma equipa multidisciplinar e experiente, incluindo médicos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos.

*Texto assinado por Raquel Coelho 

Leia Também: "E a obesidade? Até quando vamos ignorar?"

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