Com isso em mente, a ONG britânica Macmillan, organização dedicada ao estudo e combate contra o cancro, contratou uma enfermeira especializada para se dedicar a desmentir mitos que ecoam online na era das ‘fake news’.

Ellen McPake explicou, à BBC News, que a desinformação começa já no consultório: parte dos pacientes saem das consultas cheios de dúvidas.

"Quando o médico diz a palavra ‘cancro’, as pessoas bloqueiam e não absorvem mais nenhuma informação. Depois, em casa, sentam-se à frente do computador para pesquisar online", diz a enfermeira. E na Internet acabam por encontrar casos extremos ou exageros. "Há muitos mitos a circular online".

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A seguir, alguns dos mitos sobre a doença que se proliferam na Internet:

1. 'Bicarbonato de sódio cura o cancro'

"Há quem acredite que tomar bicarbonato oralmente ou por via intravenosa pode curar o cancro. Não há evidência nenhuma que sustente isso", diz McPake.

A enfermeira afirma que recebe, no call center da Macmillan, ligações de diversos pacientes que experimentam bicarbonato por achá-lo menos severo que a quimioterapia ou a radioterapia.

"Para algumas pessoas (o bicarbonato) pode ser bastante perigoso e pode afetar os rins dos pacientes", explica.

2. 'Açúcar causa cancro'

Ainda que a obesidade tenha sido associada ao aparecimento de tumores, o consumo de açúcar por si só não aumenta o risco de cancro.

"O açúcar não faz com que o cancro cresça mais rapidamente", revela um comunicado da Clínica Mayo, referência em atendimento médico, nos Estados Unidos. "Todas as células, inclusive as cancerígenas, dependem do açúcar do sangue (glicose) para obter energia. Mas dar mais açúcar a células cancerígenas não aumenta a velocidade de seu crescimento”.

McPake já viu pacientes abdicarem do açúcar com base em falsas premissas. "Não há forma de tirar completamente o açúcar da dieta", diz categoricamente.

3. 'Vitamina C cura o cancro'

"Uma vez, recebi o telefonema de um casal que havia pagado uma fortuna para um tratamento com vitamina C, numa clínica que lhes disse ser capaz de curar o cancro", conta McPake.

Mas o dinheiro foi gasto à toa.

"O homem ficou transtornado. Disse que preferia ter guardado as economias para ter uma melhor qualidade de vida”.

Segundo a Clínica Mayo, apesar da falta de provas científicas, alguns praticantes de medicina alternativa continuam a indicar a vitamina C para os doentes cancerígenos.

"Mais recentemente, descobriu-se que a vitamina C ministrada de forma intravenosa tem um efeito diferente da ingerida na variante de comprimido. Isso renovou o interesse da vitamina C no tratamento do cancro", explica o médico Timothy J. Moynihan no site da clínica. "Ainda não há provas de que a vitamina C, por si só, cure a doença. Mas, investigadores estão a estudar quanto a se esta pode aumentar a efetividade de outros tratamentos, como a quimioterapia e a radioterapia”.

4. 'Só pessoas mais velhas sofrem de cancro'

O cancro torna-se mais comum com a idade - à medida que as células envelhecem -, mas pode afetar pessoas de todas as idades.

E, nas últimas décadas, alguns tipos de tumores cresceram justamente entre as populações mais jovens.

É o caso do cancro da pele: um estudo de 2013 identificou um grande aumento do melanoma (o mais mortal cancro de pele) entre mulheres jovens, em especial entre as que frequentavam solários.

A Sociedade Americana do Cancro aponta que tumores em jovens são muito mais raros do que em idosos, mas os mais comuns são de«a mama, linfomas, melanomas, sarcomas, tiroide leucemia, entre outros.

5. 'Tubarões não têm cancro'

A falsa ideia de que tubarões são imunes ao cancro leva pacientes a buscar a sua cartilagem como um suposto preventivo ou tratamento de tumores.

Esse mito remonta à década de 1970, quando investigadores na Flórida, nos EUA, submeteram tubarões a altos níveis de substâncias cancerígenas e não encontraram evidências de tumores.

Mas diversos estudos posteriores não identificaram nenhum benefício da cartilagem de tubarões - nem mesmo em roedores.

E, em 2010, descobriu-se que tubarões podem, sim, desenvolvem tumores: uma fêmea do zoo de Indianapolis, nos EUA, foi diagnosticada com um melanoma.

6. 'Enema de café ajuda a combater cancro'

Segundo McPake, 'enemas de café' - em que um líquido à base de café é injetado para uma limpeza do reto e dos intestinos - chegaram a ser bastante populares. "Alguns sites divulgavam que (o método) fazia algo no intestino que conseguia curar o cancro", diz.

Mas a ONG Cancer Research UK afirma que "enemas de café já foram ligados a sérias infeções, desidratação, obstipação, colite (inflamação do cólon) e perigosos desequilíbrios de eletrólitos e até mesmo a morte".

7. 'É uma doença moderna'

"Circula a ideia de que o cancro é uma doença moderna criada pelo homem", diz McPake. "Mas não é: a patologia foi detetada até em múmias egípcias".

A enfermeira refere-se a uma múmia com 2,2 mil anos em que foram encontrados indícios de cancro da próstata. E um dedo de 1,7 milhão de anos de um antepassado humano na África do Sul que foi diagnosticado com um tipo agressivo de cancro dos ossos.

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