Tripulantes da Ryanair na Europa contactados para substituírem grevistas
A presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) denunciou hoje que a Ryanair está a contactar tripulantes na Europa para substituírem os grevistas portugueses, chegando inclusivamente a ameaças de despedimento.
© Reuters
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No segundo de três dias de paralisação não consecutiva, que termina na quarta-feira, a Ryanair está a substituir os tripulantes de cabine portugueses, contactando outras bases europeias, disse à Lusa a presidente do sindicato, Luciana Passo.
Perante o avanço da paralisação, a Ryanair começou "a substituição de grevistas" e a fazer reversão de voos, ou seja, em vez de estes se iniciarem em território nacional para depois regressarem, a partida é de outro país, além de saírem aviões de Portugal sem passageiros para ir "buscar tripulantes de outras bases da Europa".
Luciana Passo aponta algo que se tem tornado "viral na Ryanair na Europa", que passa por "telefonar aos tripulantes que estão de prevenção e dizer que estão nomeados para os voos em Portugal".
Quando os tripulantes estrangeiros questionam se o objetivo é substituir algum colega em greve em Portugal, "dizem que não têm nada de saber", apontou Luciana Passo.
Mas a operadora aérea não se fica por aqui, salienta, porque quando os colegas dizem que não aceitam, os trabalhadores "são ameaçados de despedimento", como o caso de uma colega espanhola, cujo áudio da conversa telefónica a Lusa teve acesso.
A tripulante espanhola que está em Barcelona de prevenção recebeu uma chamada da Ryanair a dizer que há "uma mudança para hoje" e que "vai operar o voo do Porto".
A trabalhadora questionou se é um voo para cobrir a greve em Portugal, ao que lhe foi respondido que não há informação sobre isso.
A tripulante prosseguiu dizendo que se for o caso de uma substituição durante a greve não está disponível, que "não quer ir contra ninguém". No entanto disponibilizou-se "para qualquer outro voo" e não num de reversão, já que os colegas portugueses estão em greve.
A pessoa que lhe liga da Ryanair pediu-lhe um minuto e depois de alguns minutos em espera, voltou à chamada e insistiu que se a tripulante espanhola não fizesse o voo do Porto estava a violar o contrato, sujeitando-se às consequências.
"Não pode recusar fazer este voo, se o fizer vai violar o seu contrato, portanto é pedido que vá para o Porto", afirmou a funcionária da Ryanair, na chamada.
Ao longo de mais de três minutos, a Ryanair afirmou por várias vezes que a trabalhadora estava a violar o contrato, enquanto esta ia manifestando sinais evidentes de nervosismo, afirmando que não podia fazer o voo porque ia ficar "nervosa o dia todo", que estava "a tremer" e que não se estava a sentir bem com a situação.
Disse ainda que não queria aterrar no Porto e ter problemas com as autoridades portuguesas, com a Ryanair a rejeitar que tal viesse a acontecer.
Luciana Passo sublinhou que a "colega espanhola teve uma coragem enorme de dizer que não se estava a sentir bem", que estava a tremer, o que se notava no áudio, mas "ainda assim a Ryanair continuou na sua coação".
O caso de Espanha é apenas um dos muitos exemplos que se têm passado hoje, segundo a sindicalista.
"Passou-se o mesmo na Holanda, passou-se o mesmo em França", apontou.
A presidente do SNPVAC adiantou ainda que houve uma ação dos tripulantes da Ryanair em "vários aeroportos europeus", que distribuíram 'flyers' para alertar para as questões da greve em Portugal.
Os problemas que os tripulantes portugueses enfrentam "são transversais em toda a Europa", é "um movimento europeu que vai crescendo e não tenho a menor dúvida que uma greve a nível europeu de tripulantes da Ryanair vai ser uma realidade muito em breve", previu.
"A Ryanair não tem de perder a cara, só tem de aceitar aplicar a lei nacional nas bases onde tem tripulantes, é isso que se pretende", afirmou, salientando que "a lei do medo não ser a que vinga".
A operadora aérea irlandesa admitiu hoje ter recorrido a voluntários e a tripulação estrangeira durante a greve dos tripulantes portugueses, de acordo com um memorando enviado aos trabalhadores, a que a Lusa teve acesso.
"Agradecemos a todos os que trabalharam na última quinta-feira, o vosso apoio é muito apreciado. Durante a greve portuguesa, muitas das nossas tripulações chamadas ao dever, juntamente com alguns voluntários extra e rotações vindas de bases não portuguesas, [fizeram] com que provocássemos apenas pequenas perturbações nos nossos voos e aos clientes", lê-se no documento.
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