O presidente da Metro do Porto, Tiago Braga, considerou que a história do desenvolvimento do metrobus do Porto "daria um livro" porque "foi muitas vezes mal contada", até por "maldade", nomeadamente na questão das portas dos autocarros.
"Não tenho propriamente intenções de escrever um livro, mas daria para escrever um livro. Foi muitas vezes mal contada. Começou a ser mal contada com a questão da história de nós nos termos enganado nas portas, porque só havia portas à esquerda" dos autocarros, disse Tiago Braga em entrevista à Lusa, a propósito da sua saída da presidência da empresa.
Segundo Tiago Braga, "é totalmente mentira que tenha havido um problema com as portas" e também é mentira "a ausência de planeamento" na chegada dos veículos.
Para o responsável, as críticas sobre esse assunto foram "ridículas" e postas a circular "por maldade", recusando agora "estar calado quando dizem que os veículos estão atrasados porque se enganaram nas portas".
Em causa está o atraso na chegada dos veículos relativamente à conclusão da obra de construção civil do metrobus do Porto, que levou a que se fizessem testes - sem sucesso - com os autocarros atuais da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) que, como só têm portas à direita, tinham de entrar em contramão nos cais das estações do metrobus.
Quanto aos veículos definitivos do metrobus, que têm portas tanto à esquerda como à direita e estão preparados para entrar regularmente nas estações, começaram a chegar este ano e fizeram o primeiro teste em junho, depois da obra de construção civil estar praticamente pronta desde agosto de 2024.
O desfasamento entre a chegada dos veículos e a obra no terreno deveu-se à necessidade de repetir um concurso público, pois o lançado em dezembro de 2022 teve de ser repetido oito meses depois.
"A Câmara do Porto sabia, a STCP sabia", disse Tiago Braga, assegurando ainda que "desde o início foi claro" que seria a STCP a operar o serviço e que "tudo o que veio equipado no material circulante estava alinhado com aquilo que eram os requisitos funcionais e técnicos da STCP".
Quanto à assinatura do protocolo entre a Metro do Porto, o Estado e o Município do Porto para formalizar a operação, ainda não foi assinado e já não está com a transportadora porque "passou a ser gerido diretamente entre a estrutura ministerial e a Câmara Municipal".
Já quanto à questão da inversão de marcha na Rotunda da Boavista, para Tiago Braga "não há problema nenhum" em fazê-la em frente à Casa da Música, em contramão, recordando que essa solução, anunciada em janeiro de 2023, "resulta de pedidos expressos da Câmara Municipal".
Questionado sobre qual será o problema atualmente e se foi a pressão das redes sociais a desincentivar essa solução, entretanto descartada, Tiago Braga disse não saber, rejeitando fazer "juízos de valor".
O presidente da Metro do Porto recordou que "aquela solução foi testada com todos, incluindo STCP" e "se percebeu que, primeiro, do ponto de vista da geometria era totalmente possível" - algo diz manter-se com o novo veículo do metrobus - e encaixava também "no período de semaforização existente à data".
Tiago Braga diz que até ser pedida a solução de viragem no topo da avenida foram testados, em microssimulações, cenários de vias segregadas na rotunda da Boavista na faixa da esquerda e do meio, mas o tempo de circundar a rotunda "estava no limite daquilo que era a frequência" pretendida, entre os 4 e 5 minutos.
O responsável alertou ainda que caso o veículo tenha mesmo de dar a volta à rotunda, bem como misturar-se com o restante tráfego noutros eixos, a eficácia do sistema BRT (Bus Rapid Transit, vulgo metrobus) "é colocada em causa".
Ainda assim, noutros pontos do percurso, como no caso das alterações pedidas à segunda fase para preservar a ciclovia central e as árvores entre a Fonte da Moura e o Castelo do Queijo, Tiago Braga não prevê tantos impactos, "porque a parte poente da avenida não tem o mesmo nível de trânsito da parte nascente", mas "não deixa de ser uma ameaça" à fiabilidade do sistema.
Quanto à partilha de canal com os automóveis na Avenida Marechal Gomes da Costa, acredita que "é uma questão de tempo até ter o percurso todo segregado".
O responsável disse ainda que se a Câmara do Porto tivesse optado por retirar uma faixa para o automóvel e manter uma ciclovia na parte poente da Avenida da Boavista "teria dado para pôr dois cais laterais" ao centro da avenida, ao invés dos cais únicos entretanto construídos, dizendo que "rapidamente se pode montar uma ciclovia" mesmo com a configuração atual.
Confirmou ainda que as obras na estação de carregamento de hidrogénio devem terminar no quarto trimestre e que os 12 veículos estão já todos em Portugal ou praticamente a chegar, e quanto ao início da segunda fase, aguarda "autorizações de ocupação de via pública para entrar em obra entre a Marechal Gomes da Costa e a zona do liceu Garcia de Orta".
A obra do metrobus custa cerca de 76 milhões de euros e é financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
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