É "definitivamente um momento decisivo" para as telecomunicações

O diretor-geral da Connect Europe considera, em entrevista à Lusa, que este é "definitivamente um momento decisivo" para as telecomunicações e espera que até final do ano se assista uma mudança para "uma mentalidade de crescimento".

Telecomunicações. Dados móveis em Portugal são "os mais caros da UE"

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Lusa
07/07/2025 08:22 ‧ há 4 horas por Lusa

Economia

Connect Europe

O diretor-geral da Connect Europe considera, em entrevista à Lusa, que este é "definitivamente um momento decisivo" para as telecomunicações e espera que até final do ano se assista uma mudança para "uma mentalidade de crescimento".

 

Alessandro Gropelli, que lidera a associação que representa os principais operadores de comunicações na Europa, considerou ser "definitivamente um momento decisivo, porque, por um lado, há a pressão geopolítica, mas, por outro, também a tecnologia está a mudar".

O responsável foi um dos oradores do 34.º congresso da APDC, onde o futuro dos media e das comunicações foi debatido, em Lisboa.

O que está a acontecer com as redes hoje "é que estão a ser virtualizadas e transformadas em nuvem", diz. "Nessa transição, precisamos estar muito cientes de que queremos que a Europa permaneça na posição de liderança porque, caso contrário, em 10 anos", poderá ter perdido.

Na década de 2000 "perdemos a Internet para o consumidor", em 2010 "perdemos a revolução dos 'smartphones' e, na década de 2020, "corremos o risco de, se não investirmos o suficiente, perdermos também a conectividade, que é o que controlamos agora", alerta.

Dito isso, "também quero dizer uma coisa: precisamos insistir, como empresas, em bons relacionamentos transatlânticos e bons relacionamentos com os EUA, porque as cadeias de abstecimento são globais, permanecerão globais e a Europa e os EUA têm um relacionamento especial", prossegue Alessandro Gropelli.

"Muitas das empresas que nos ajudam a construir redes e a fornecer serviços de comunicação são dos EUA", recorda.

Por isso, "precisamos de nos esforçar ao máximo para manter boas relações, e há sempre mudanças políticas, mas, como empresas, estamos aqui para ficar, para investir e continuar a acreditar nesse relacionamento, e Portugal está muito bem posicionado porque estamos a olhar para o outro lado do Atlântico", sublinha.

Questionado sobre o que gostaria que acontecesse até ao final do ano, o diretor-geral da Connect Europe elege a mudança para um "'mindset' [mentalidade] de crescimento".

"Gostaria de ver que mudamos para uma mentalidade de crescimento, estou no setor de telecomunicações há mais de 15 anos e tenho conversado bastante com o regulador e com as autoridades de concorrência" sobre o legado do setor.

"Precisamos pensar no futuro. Precisamos de pensar no crescimento. Precisamos de pensar em 2030, 2040, não podemos pensar sempre no ano passado, neste ano ou no próximo", insiste Alessandro Gropelli.

Além disso, aponta para a necessidade de ter escala no setor: "Temos muitas operadoras de telecomunicações que são muito pequenas e isso tem um efeito".

As operadoras de telecomunicações são, "obviamente, ativas nos mercados de serviços e, por exemplo, em voz e mensagens, já concorrem com as grandes empresas de tecnologia, pois há muitas alternativas para mensagens ou até mesmo para chamadas, que são baseadas na web".

Mas também "competimos em áreas como a 'cloud', competimos em serviços como cibersegurança", prossegue.

Agora, "imagine que é uma empresa pequena num fragmentado mercado europeu de 27 em que em cada há quatro ou até cinco operadoras de telecomunicações e depois concorre com uma gigante com uma capitalização de mercado de um trilhão de dólares", ilustra, para questionar onde fica a Europa neste enquadramento.

"Por que não temos uma escala maior? Às vezes, pensamos que escala no setor de telecomunicações se resume apenas à prestação do serviço de comunicação para conectar uma casa", mas "não, também se trata da nossa capacidade de competir nos mercados digitais globais, porque as operadoras de telecomunicações são as principais empresas de tecnologia que temos na Europa hoje", argumenta.

Alessandro Gropelli considera que um dos receios das pessoas é que se as operadoras de telecomunicações se consolidarem os preços vão subir e a concorrência diminuiu.

Na sua ótica, "por vezes três fortes 'players' que têm uma boa capacidade de investimento que podem concorrer entre si do que cinco em que cada um é fraco" favorece mais o mercado.

"Na minha opinião, não é do interesse público ter um operador de telecomunicações fraco porque o que ele faz é muito crítico", salienta o responsável, defendendo que é preciso que as empresas do setor sejam fortes para investir e serem inovadoras.

Por exemplo, o apagão de energia que a Península Ibérica sofreu recentemente demonstrou essa necessidade, diz.

"É preciso muita resiliência porque os nossos operadores de telecomunicações necessitam de investir" para que em futuros 'apagões' de eletricidade possam ter fonte de alimentação de energia de reserva.

Isso significa "muito investimento" e em Portugal "sabemos que alguns operadores estiveram melhor [a nível de desempenho] do que outros porque investiram mais nos últimos anos em resiliência da sua rede", destaca.

Um segundo ponto, é que "na vida nem tudo é apenas preço" porque os cidadãos não são apenas consumidores.

Os cidadãos "têm interesse em preços acessíveis, mas também num bom emprego, têm interesse numa conexão segura e talvez em usar uma 'cloud' que não esteja sediada na China ou nos EUA, mas que esteja aqui na Europa para que não haja um 'kill switch' [apagão]" da informação que está disponível na 'cloud', aponta.

"Se um presidente acordar uma manhã e decidir desligar [o acesso à 'cloud'] não o teremos mais", por isso, "precisamos, como europeus, ser capazes de colaborar com todos no mundo, porque a colaboração é boa, mas também ter nossos próprios serviços e escala também é importante".

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