Os economistas do BCE afirmam, num artigo do próximo Relatório de Estabilidade Financeira, publicado hoje, que os bancos também devem atuar para evitar os riscos das tensões comerciais.
"A primeira linha de defesa", segundo os economistas do BCE, são níveis saudáveis de capital e de liquidez.
Mas, além disso, o BCE recomenda que os bancos efetuem análises regulares para identificar e avaliar os riscos específicos das tensões comerciais.
Os bancos "devem diversificar as suas carteiras para minimizar a sua exposição a estes riscos e realizar testes de resistência e análises de cenários para compreender como as tensões comerciais podem afetar as suas posições e operações financeiras", acrescenta o artigo.
Com os resultados destas análises, os bancos podem desenvolver planos de contingência para responder rápida e eficazmente em caso de concretização dos riscos.
O BCE considera que um aumento da incerteza quanto à política comercial tem "efeitos adversos significativos nos preços das ações dos bancos" e na avaliação do risco dos bancos devido à aversão ao risco por parte dos investidores, que exigem uma compensação mais elevada.
Um aumento da incerteza da política comercial reduz os preços das ações dos bancos da zona euro em 1,9% no momento do impacto e em 10,4% após seis meses, de acordo com os dados do BCE.
Além disso, tem um impacto negativo nos diferenciais dos seguros de dívida dos bancos, aumentando-os em 12 pontos base após seis meses.
Os 'spreads' das obrigações dos bancos também aumentam sete pontos base ao fim de seis meses.
A deterioração do valor de mercado dos bancos e o aumento dos seus custos de financiamento podem dificultar a obtenção de capital e a concessão de empréstimos às empresas e às famílias, representando assim um risco para a economia real.
A contração do total dos empréstimos bancários à economia real é de 0,6 % após seis meses e de 1,9 % após um ano.
A incerteza da política comercial também prejudica o crescimento económico ao enfraquecer a capacidade de reembolso dos empréstimos, aumentando assim o crédito malparado e as provisões, o que leva os bancos a reduzir os empréstimos.
O aumento dos custos de financiamento, a redução da concessão de empréstimos e a deterioração da qualidade dos ativos causada pelas tensões comerciais podem prejudicar a rentabilidade dos bancos, reduzindo as suas margens de intermediação.
As perdas em empréstimos não produtivos e no valor dos seus ativos também reduzem a sua rentabilidade e representam um risco para a sua capacidade de acumular capital e para a sua solvência.
"O impacto da incerteza da política comercial no setor bancário ultrapassa as flutuações de curto prazo, com possíveis consequências a médio prazo para a oferta de crédito e o crescimento económico", adverte o BCE.
O aumento da incerteza da política comercial pode ter um impacto adverso não só no sistema financeiro, mas também na economia real.
No sistema financeiro, porque aumenta a volatilidade dos preços dos ativos e das matérias-primas, os prémios de risco e o custo do financiamento.
Pode também aumentar a volatilidade das taxas de câmbio e afetar os fluxos de capitais.
O impacto negativo na economia real ocorre porque as empresas adiam ou reduzem os seus investimentos e os consumidores gastam menos.
Além disso, "a aplicação de restrições ao comércio tende a reduzir a procura externa, a aumentar os preços e a aumentar os custos de produção", segundo o BCE.
Consequentemente, acrescenta, "as restrições comerciais impedem o progresso tecnológico" e asfixiam a inovação, a produtividade e o crescimento económico.
O aumento da incerteza em matéria de política comercial reduz a estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) real médio em 0,15 pontos percentuais após quatro trimestres.
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