"É desafiante" - resumiu acerca do projeto no qual se envolveu há cerca de ano e meio, encontrando paralelismos entre o trabalho que desenvolveu na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e o que agora exerce no Gondomar, como diretor técnico da formação, somando-se o cargo de conselheiro da Federação Chinesa de Futebol.
"Os âmbitos não só etários, mas também de patamar, são os mesmos", apontou, sobre um projeto que visa "criar alternativas no futebol chinês através de núcleos de estágio", algo que diz ser "muito embrionário" e estar "ainda limitado" porque os jogadores chineses só podem chegar a Portugal depois de completarem 18 anos.
Agostinho Oliveira defendeu que, para evitar "atrasos" de formação, os atletas que a China deseja formar na Europa devem chegar dois anos antes e desafiou mesmo as autoridades políticas a envolverem-se no projeto.
"Prevejo que a longo prazo isto tenha muita importância na economia nacional. Temos treinadores muito ligados a uma formação que na China praticamente não existe. Um ou outro jogador tem condições infraestruturais, mas não estão muito habituados à formação no nosso sentido: com etapas, com estádios. Aqui eles têm casa, têm comida, há um enquadramento escolar que inclui uma aproximação à língua nacional. Talvez houvesse possibilidade de negociar isto, dando-lhes um enquadramento legal", analisou.
Aquela que é uma das grandes referências do futebol de formação em Portugal, com títulos de campeão da Europa em 1994 e 1999 e do mundo em 1989 e 1991, admitiu que o futebol chinês é carente de formação mas, paralelamente, exigente nos regulamentos.
"Tem obrigações como ter 'x' jogadores chineses, o guarda-redes obrigatoriamente tem de ser chinês, e só pode ter três estrangeiros e um asiático. Há critérios e os quadros competitivos são feitos com base nas regiões. Há distância geográfica. Não seria possível fazer um quadro competitivo como o nosso", descreveu, para voltar a salientar que "a vinda de chineses para Portugal é benéfica em termos económicos".
Agostinho Oliveira observou que os jogadores que estão em Gondomar, clube que descreve como "barriga de aluguer" para a formação, pertencem à seleção sub-19 chinesa, logo são já atletas "de algum gabarito e capacidade", o que beneficia o emblema nortenho.
E rejeitou a ideia de que estejam a ser ocupados lugares que podiam ser de portugueses. "Criou-se uma equipa B [o Gondomar tem 13 jogadores chineses, quatro na equipa A e nove na B] para que o sentido de aglutinação seja possível", referiu o técnico, que chegou a ocupar interinamente o cargo de selecionador nacional, um dos marcos de um currículo que o ajuda a explicar o 'convite' dos chineses para liderar este projeto.
"Naturalmente que a vivência da seleção nacional [ditou o convite]. Estive 21 anos na FPF, fui campeão da Europa e do mundo. Quando cheguei a esta situação encarei para que pudesse ser útil", conta, valorizando sempre o fator humano dos projetos.
"Temos um manancial humano suficiente para termos nos próximos anos as melhores seleções da Europa e do Mundo. Não é o antes e pós Scolari que marca isto é o antes e pós Carlos Queiroz", sublinhou, quando desafiado a fazer uma análise ao panorama atual da seleção campeã da Europa.
Agostinho Oliveira - que no Gondomar é tratado por 'mister' mas à Lusa confidenciou ver a sua função mais como a de um 'professor' -- admitiu que "só com tempo" será possível provar se o projeto chinês tem pernas para andar.
