Bruno Cortês Barbosa pode não lhe dizer muito, mas os adeptos do Benfica talvez se recordem de um defesa-esquerdo de nome Bruno Cortez. Nascido na cidade brasileira do Rio de Janeiro, em 1987, o agora ex-jogador não deixou saudades aos apoiantes das águias. Mas a verdade é que foi um grande fenómeno no país-natal.
Agora longe do que se passa dentro das quatro linhas, o ex-jogador não teve um início de vida nada fácil. Órfão de pai e mãe aos sete anos de idade, o carioca precisava de levar, às escondidas, a bicicleta de um senhor que o apoiava na rotina de jogador de futebol. Desde cedo que começou a dar os primeiros toques na bola. Aos 19 anos, em 2006, iniciou a carreira como avançado, integrando o plantel do Arturzinho, um modesto clube do estado do Rio de Janeiro.
No caminho para o primeiro clube, Cortez costumava ouvir a vizinhança a mandá-lo voltar para casa, dizendo-lhe para desistir de ser jogador de futebol. Determinado, o canarinho insistia. Acreditava que aquela era o único modo de mudar a história da própria família.
As dificuldades no meio do percurso para se tornar futebolista profissional funcionaram como um véu. Podiam até deixar o objetivo nublado, mas o brasileiro nunca desistiu do seu sonho. Foi emprestado ao Paysandu em 2007, e disputou uma única partida a contar para o Campeonato Paraense. O primeiro contrato profissional de Cortez foi com o clube catari Al-Shahaniya em 2007.
Falhada a experiência no Médio Oriente, o esquerdino voltou para seu país de origem para jogar no clube carioca Castelo Branco, de 2008 a 2009. Seguiu-se uma mudança para o Quissamã, também do estado do Rio de Janeiro, onde o ex-jogador atuou nas temporadas de 2009 e 2010. Cortez seguiu viagem para o Nova Iguaçu, pelo qual disputou 14 jogos.
O 'salto' para o grande plano do futebol brasileiro aconteceu em 2011. Bruno Cortez mudou-se para o Botafogo, clube ao serviço do qual realizou 32 jogos. Foi com nesta ida para o Fogão que o esquerdino somou a primeira e única internacionalização. O brasileiro foi opção a 29 de setembro de 2011, no SuperClássico das Américas diante da Argentina.
Ainda nesse mesmo ano, o São Paulo contratou-o. Foram 74 jogos nesse ano civil pelo tricolor. O que começou por ser uma experiência positiva, que contou, inclusive, com a conquista da Taça Sul-Americana, no decorrer do ano de 2012, descambou em 2013 e levou o esquerdino a mudar-se para Lisboa.
Em maio de 2013, após a eliminação do São Paulo tanto do campeonato Paulista como da Taça Libertadores, Cortez foi retirado do plantel principal pelo presidente Juvenal Juvêncio e pelo treinador Ney Franco e, juntamente com outros quatro jogadores, foi colocado na lista de transferências. Seguiu-se a mudança para o Benfica no verão de 2013.
Bruno Cortez fez um total de 91 jogos pelo São Paulo© Getty Images
"Estou muito feliz por estar num clube tão grandioso como o Benfica, cheio de gás para dar muitas alegrias aos adeptos. Já imagino o dia do jogo, com o estádio lotado e os adeptos a torcerem pela equipa. Podem esperar muita raça, entrega dentro de campo", frisou Cortez aos meios oficiais do Benfica no dia da apresentação.
A verdade é que tudo começou a correr bem na Luz. O esquerdino pegou de estaca no onze de Jorge Jesus e fez seis jogos como titular entre agosto e novembro... até desaparecer dos eleitos. O último jogo de águia ao peito foi contra o Arouca em dezembro de 2013. Em queda livre nos encarnados, Cortez encerrou o seu período de empréstimo em 11 de janeiro de 2014 e regressou ao São Paulo. Conquistou um campeonato e uma Taça de Portugal.
"Serei eternamente grato ao clube português por tudo o que fizeram por mim e a Jorge Jesus pela oportunidade. Não deu certo devido a coisas que acontecem no futebol, mas tenho certeza de que saí com as portas abertas", referiu o jogador, antes de voltar ao Brasil.
Cortez perdeu o lugar no onze encarnado. Fez apenas sete jogos na Luz© Getty Images
Com as portas fechadas no emblema tricolor, o canarinho acabou por ser emprestado. Em abril de 2014, Bruno Cortez foi cedido ao Criciúma. Fez 21 jogos nesse ano civil. Seguiu-se uma nova aventura no estrangeiro. A 20 de janeiro de 2015, o defesa-esquerdo assinou um contrato de empréstimo de dois anos com o Albirex Niigata. Despediu-se do Japão com 66 jogos em duas temporadas e um golo marcado.
O regresso ao Brasil processou-se em 2017. Depois de rescindir o contrato que o ligava ao São Paulo, o internacional brasileiro foi anunciado como reforço do Grêmio. Foi ao serviço do emblema de Porto Alegre que Cortez 'explodiu' enquanto futebolista sénior e que somou os maiores títulos na carreira de jogador de futebol.
Pelo Grêmio, o ex-Benfica realizou 263 encontros distribuídos por seis temporadas. Mas idolatria não se constrói apenas com partidas. Cortez, além de tetracampeão gaúcho (2018 a 2021), foi peça fundamental do tricampeonato da Taça Libertadores em 2017. Houve ainda espaço para conquistar a Recopa Sul-americana em 2018.
Bruno Cortez esteve seis temporadas no Grêmio© Getty Images
Após mais de duas centenas de jogos no emblema de Porto Alegre, Cortez deu novo rumo à sua carreira e mudou-se para o Mirassol em 2023. Após dois jogos no clube de São Paulo, o esquerdino assinou com o Avaí, emblema pelo qual disputou 19 jogos. O fim de carreira deu-se ao serviço do Sampaio Corrêa já durante 2024. Houve tempo para 27 jogos e um título de campeão estadual maranhense, antes de ter o contrato rescindido em junho desse ano.
Em setembro de 2024, e com 37 anos, lateral anunciou o seu adeus aos relvados. O atleta usou as redes sociais para anunciar a reforma e recordou uma carreira que descreve como "uma história linda de muita luta, entrega, perseverança, fé em Deus e dedicação."
"Fui dos campos de terra batida de Campo Grande ao sonho mágico de vestir a camisola da Seleção Brasileira, de ser campeão da Libertadores, e por isso não tenho nada a lamentar, apenas a agradecer por tudo o que vivi e conquistei", afirmou o internacional brasileiro.
Ainda assim, não se tratou de um adeus definitivo ao relvados. Bruno Cortez tirou o curso de treinador e assumiu já em 2025 o comando técnico da equipa sub-15 do Ceará. Não será de admirar, por isso, que se possa aventurar como técnico principal de uma equipa dentro de uns anos, seja no Brasil, ou no estrangeiro. A seu tempo saberemos.
Todas as semanas o Desporto ao Minuto apresenta-lhe uma nova edição da rubrica 'O que é feito de...?', que pretende recordar o percurso de algumas personalidades do mundo futebolístico que acabaram por cair no esquecimento.
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