Na antecâmara do FC Porto-Famalicão, do próximo sábado, em jogo a contar para a I Liga, o Desporto ao Minuto relembra a última vez que os famalicenses venceram os dragões na cidade 'invicta'. Aconteceu em 1993, num jogo que ficou na história não só pelo resultado, como também por motivos extra-jogo - um jornalista da RTP foi agredido em pleno relvado por adeptos do FC Porto, entre eles Vítor Catão. 

Tudo aconteceu em direto na televisão nacional. Instantes depois da derrota nas Antas, por 0-1, Vítor Catão saltou para o meio do relvado e correu em direção a Paulo Martins, jornalista da estação pública, agredindo pelo caminho um assistente de produção.

Elementos da RTP tentaram sanar os ânimos, mas o irmão e o pai de Vítor Catão ainda viriam também para o relvado para participar na rixa, munidos de um ferro. Vítor Catão tentou fugir do estádio, mas os três acabaram identificados pela PSP. Nas bancadas, outro jornalista da RTP foi alvo de tentativa de agressão e cuspido. 

Pinto da Costa lamentou o sucedido pouco tempo depois, em entrevista à RTP, classificando o episódio como "triste". O incidente valeu um jogo de interdição ao FC Porto na época seguinte. O jornalista agredido estava junto de José Vieira, o homem-do-jogo daquela noite. O antigo defesa-central marcou o único golo da noite (e da temporada) e assistiu a tudo. Recorda o episódio em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto: 

"Foi um jogo marcado pelas peripécias que teve. Foi no fim do jogo, as entrevistas antigamente faziam-se no relvado. O jornalista estava a entrevistar-me no relvado, e os adeptos agrediram-no com um ferro. Antigamente, era quase proibido ganhar no estádio das Antas. Não era proibido, mas era muito difícil", conta. 

José Vieira recorda um jogo marcado pela "sorte" do Famalicão, pois os remates do FC Porto iam todos ao lado. "Lembro-me de ir no autocarro e o Lila, um rapaz muito engraçado, disse-me: 'Hoje, temos de entrar rapidamente para o autocarro. E não sei se chega, porque os vidros vão-se partir todos'. Era daqueles dias em que a bola não entrava para o FC Porto. Todos os deuses estavam a nosso favor nesse dia. Podiam estar ali o dia todo que não marcavam. Sentíamos muita pressão, o estádio das Antas era sempre complicado", admite Vieira.

José Vieira marcou único golo da época no Estádio das Antas

Eram outros tempos, em que "as equipas já entravam a medo nas Antas", juntamente com "a pressão que o árbitro sofria durante o jogo todo". O golo, na sequência de um canto, aos 64', foi grande motivo de alegria para o ex-jogador, hoje em dia com 54 anos:

"É um golo que ficou marcado para sempre na minha memória e na de muitos adeptos do futebol que acompanham a modalidade. Jogar no Porto nessas alturas era muito difícil, com Fernando Couto, Jorge Costa, Kostadinov, eram uma equipa muito forte e raramente perdiam em casa. Curiosamente, comecei esse jogo no banco, entrei aos dez ou doze minutos devido a uma lesão de um colega, o Celestino. Era para ser titular mas a meio da semana tive um problema físico", começa por contar, recordando também outro episódio anterior. 

"Uma ou duas outras semanas antes, tínhamos jogado na Luz. Atirei uma bola ao poste, mas perdemos 1-0. José Gusmão, o nosso treinador, disse-me: 'No Benfica atiraste ao poste, mas aqui vais marcar golo'. E acertou. As coisas acontecem, às vezes, quando as pessoas acreditam. Ele foi uma pessoa importante para mim", revela. José Gusmão viria a ser selecionador nacional nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. 

   Miguel Ribeiro está a fazer um trabalho excelente no Famalicão

O Famalicão dessa altura e de hoje em dia é muito diferente. Entre 1991 e 1995, José Vieira atuou no clube enquanto jogador. Voltou em 2013/14 como treinador, no Campeonato de Portugal. Ao longo dos 30 anos, Vieira identifica uma grande evolução no clube.  

"As condições são completamente diferentes. O Dr. Miguel Ribeiro [presidente da SAD] era o filho do meu diretor-desportivo, do Sr. Custódio, que fez parte da Associação de Futebol de Braga. O Miguel ia connosco para os jogos e para os treinos. Cresceu no futebol. Está a fazer um trabalho excelente no Famalicão, tem estado num patamar grande. Até foram campeões nacionais de juniores, recentemente", analisou. 

Agora, no sábado, o Famalicão pode repetir um feito que se mantém imutável há 31 anos. "O FC Porto está a passar uma fase menos boa, mas não deixa de ser o FC Porto, com jogadores de grande talento. O Famalicão é uma equipa que tem tido altos e baixos nesta época, porém, tem conseguido algumas vitórias, está numa fase boa [agora com Armando Evangelista]. É uma questão de as coisas começarem a correr bem. Pode eventualmente ter um bom resultado. O Famalicão é uma equipa que está a crescer e pode complicar a vida aos chamados grandes", termina José Vieira. 

O primeiro embate entre as duas equipas aconteceu no longínquo ano de 1946/47, na I Divisão Nacional. Ao longo dos anos, foi-se impondo a superioridade do clube portuense sobre o 'vizinho' do distrito de Braga, com 21 vitórias em 28 jogos. O FC Porto está, aliás, na melhor sequência de sempre, com nove vitórias consecutivas sobre o os famalicenses nos últimos três anos. 

Leia Também: Comissão Jurídica da APAF faz queixa de comunicado de atletas do FC Porto

Leia Também: "Jota Silva encaixa que nem uma luva no FC Porto"