Em Lisboa, Miguel Thiré dedica-se ao teatro e critica caos no Rio
O ator que, entre outros trabalhos, atuou em duas temporadas de 'Malhação', mudou-se para Portugal há 6 meses
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Cultura Entrevista
Carioca de nascimento e, há seis meses, também lisboeta de coração. O ator Miguel Thiré, de 35 anos, é um dos milhares de brasileiros que decidiram deixar o país para morar na Europa, principalmente Portugal, motivados pela segurança e qualidade de vida. As críticas ao lugar em que nasceu e cresceu, no entanto, viraram arte nas mãos do ex-global, que está em cartaz em Lisboa com a peça 'Cidade Maravilhosa'. Apesar de o espetáculo destacar os problemas da cidade, Miguel confessa ainda ser apaixonado pela capital fluminense.
Em conversa exclusiva com ao Notícias ao Minuto Brasil, Miguel falou sobre a decisão de deixar o país e o papel dos sonhos. Revelou ainda o que pensa sobre sororidade, assédio na TV e deixou clara a reprovação ao atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Confira.
Trajetória
"Eu tenho uma carreira já de alguns anos, sempre no Rio de Janeiro, e agora estou a morar em Lisboa. Sempre tive uma vida muito intensa no teatro e fiz bastante televisão também. Dentro desse processo de televisão, fiz trabalhos longos na Globo, novela das oito, 'Malhação' duas vezes, e novelas na Record e GNT. O meu último trabalho na TV no Brasil foi na novela 'Em Família' (2014), da Globo. E aqui em Portugal, na TVI, a novela 'A Impostora' (2016)".
Relação Brasil-Portugal
"Fiquei com vontade de sair do Rio, viver noutros lugares. Morei aqui durante seis meses por causa da novela e apaixonei-me. O Rio de Janeiro é a minha cidade, amo de paixão, mas eu já estava muito incomodado, tudo muito caro, muito tenso. Acho que as Olimpíadas foram um abuso de nós a nós mesmos, resultou num abuso internacional, mas foi uma proposição nossa. Como se tivéssemos estrutura suficiente para suportar uma Copa e uma Olimpíada. Foi um movimento audacioso, de uma tentativa de emancipação mundial que, na verdade, revelou-se uma grande oportunidade para quem é rico ficar muito rico. As coisas pioraram muito, ficou muito triste."
A Mudança para Lisboa
"O Brasil está muito mal, o Rio está duas vezes pior e Portugal está muito bem. Acho que se olhar para um mapa astrológico do Brasil e de Portugal, o mapa do Brasil deve estar todo com a seta pra baixo e a de Portugal com a seta pra cima (risos). Esses dois fatores aliados contribuíram, por serem cidades muito parecidas e muito diferentes ao mesmo tempo. Estamos falando de uma das cidades mais violentas do mundo e de uma das cidades mais seguras da Europa. Esse é o maior contraste que está na cabeça dos brasileiros. Ao mesmo tempo, há coisas parecidas como o prazer de viver a vida, de ir à praia."
Família
"A minha família deixou-me todo o legado artístico. É como se eu fosse filho de carpinteiro, fui aprendendo a arte no dia a dia, acompanhando muito de coxia, de bastidor de televisão. A minha avó (Tonia Carrero), o meu pai (Cecil Thiré) e os meus irmãos Carlos e Luiz são atores, diretores e professores, a minha mãe (Norma Pesce) é produtora, o meu irmão João é produtor musical, então são áreas variadas. O legado que eles me deixaram é maior do que a cobrança. Até porque eu cobro a mim próprio antes de qualquer coisa. É como se tivesse um pacto comigo mesmo, quando eu acho que não dei o meu melhor, fico mal."
Preparação
"São trabalhos que exigem muito de corpo, de dinâmica. No 'Cidade Maravilhosa' interpreto quatro personagens e no 'Selfie' (espetáculo que faz com Matheus Solano) interpreto 10 personagens. Eu sou o cenário, a trilha, os adereços. Se não estiver 100%, a peça cai no esquecimento."
Inspiração
"O mote para a peça foi a falta de compromisso do carioca. Eu fui improvisando, chegando à velhinha que tenta cumprir as coisas e que toda a gente a critica. Um dia, improvisei o menino de rua e depois veio o homossexual, que é curioso. Eu olhava para a história dele e achava que não era tão carioca. Dois anos depois, com o prefeito (o bispo Marcelo Crivella) homofóbico que temos, eu disse: 'Meu Deus! parece que eu projetei isso!', a peça é muito mais atual hoje do que era há três anos."
Denúncias de Assédio na TV
"É um movimento fundamental. O homem tem direitos sociais e a mulher tem deveres sociais. Não me considero machista, mas vejo, muito devido à minha mulher, atitudes que são machistas, desde um comentário jocoso que está ali no pacote, até um comportamento mesmo. A coragem de revelar coisas que nunca foram reveladas e a sororidade das mulheres de se unirem, tudo isso tem mesmo que acontecer. Vejo homens que se sentem mais poderosos e que se aproveitam de situações. No ambiente de televisão, então! Meninas que fazem figuração, a forma como são tratadas... é gado mesmo. É tipo, 'o diretor mandou você ir a casa dele hoje'. É assustador."
Papel dos Sonhos
"Jesse Pinkman ('Breaking Bad', 2008-2013) é um personagem muito interessante. Mas eu adoraria interpretar o Frank Underwood (papel de Kevin Spacey em 'House of Cards'). Que trabalho! Que personagem! Aquilo é filme de terror para uma cabeça sã, nada mais do que a sociedade. 'House of Cards' é a série que mais gosto atualmente. [Dias depois da entrevista, Spacey foi denunciado por assédio sexual pelo colega Anthony Rapp, chocando Hollywood].
Ídolos
"Al Pacino e, do teatro, Dario Fo (Itália, 1926-2016), dramaturgo, prémio nobel de literatura, que faz dos seus espetáculos uma referência mundial. E Meryl Streep, por favor! A melhor de todos, que faz qualquer coisa e é tudo genial."
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