'Plantas e Povos' de África, dos séculos XIX e XX, em exposição
Plantas e objetos recolhidos nos séculos XIX e XX, maioritariamente em África, e cujo uso foi apropriado pelos povos europeus, fazem parte da exposição 'Plantas e Povos' que é inaugurada hoje, em Lisboa.
© Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Facebook
Cultura Lisboa
"É uma forma de a ciência europeia tomar conhecimento do uso local e depois apropriar-se desse uso e dar outras utilizações ou as mesmas a estas plantas", disse, em declarações à Lusa, José Pedro Sousa Dias, diretor do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), onde a mostra vai estar patente.
Trata-se de uma exposição "de objetos que foram recolhidos em diferentes locais do globo, ilustrando o seu uso pelas populações locais, principalmente em África, mas também na Ásia e na América". "A Europa deve muito aos povos que colonizou para ter estes objetos para diferentes usos: vestuário, saúde, alimentação, questões religiosas e também construção de instrumentos e barcos", referiu.
A mostra foi dividida em três grandes núcleos: "Cuidar", "Transcender" e "Transformar".
No primeiro, estão expostas as espécies utilizadas para fins medicinais, cuidados estéticos, de higiene e alimentação, como a saboeira, utilizada na higiene pessoal, e a aloé vera, usada no tratamento de queimaduras, feridas e irritações da pele.
É neste núcleo que estão documentos, desenhos e plantas do botânico austríaco Friedrich Welwitsch que esteve em Angola, entre 1853 e 1860, pago por Portugal.
O núcleo "Transcender" reúne instrumentos de dois curandeiros moçambicanos, recolhidos naquele país nas décadas de 1930 e 1950, quando das suas detenções.
Trata-se de conjuntos "muito completos, pois incluem objetos de adorno de caráter simbólico, mas também ossículos divinatórios, um instrumento de benzeduras, um banco, recipientes e drogas para a preparação de mezinhas".
No núcleo "Transformar" estão expostas matérias-primas utilizadas para a construção e a indústria, como a borracha usada nas bolas de 'cauchu', o algodão, as resinas ou o buxo, utilizado para construir flautas, gaitas de foles e cordofones.
'Plantas e Povos' reúne dois espólios: a coleção de etnobotânica que pertence ao herbário do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, mas também a coleção de etnobotânica que pertence ao herbário do antigo Instituto de Investigação Científica Tropical, que foi integrado na Universidade de Lisboa.
A exposição abre portas ao público e não tem, para já, data de encerramento.
"Pensámos nesta exposição com um certo caráter evolutivo. No futuro podemos concentrar-nos em aspetos mais restritos e mais específicos e não ter esta preocupação tão enciclopédica como fizemos", disse José Pedro Sousa Dias.
Assim, ao longo do tempo poderá ser "alterada a narrativa e os objetos, porque a coleção do MUHNAC é muito maior do que esta que está aqui".
A exposição 'Plantas e Povos' é inaugurada hoje, às 18:00, e abre ao público na sexta-feira, no horário habitual do museu.
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