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Publicar livros é técnica para desafiar regimes autoritários

O ativista angolano Domingos da Cruz, condenado a prisão pela escrita da obra 'Angola Amordaçada - A imprensa ao serviço do autoritarismo', explicou hoje em Lisboa ser esta uma técnica para desafiar regimes autoritários: publicar livros que os questionem.

Publicar livros é técnica para desafiar regimes autoritários
Notícias ao Minuto

12:24 - 22/10/16 por Lusa

Cultura Domingos da Cruz

Falando na sessão de apresentação da obra editada em Portugal pela Guerra e Paz, que decorreu ao fim da tarde numa livraria da capital portuguesa, Domingos da Cruz frisou que "é claro que isso tem riscos".

"Estamos aqui a fazer uma coisa que pode resultar numa nova prisão" em Angola, observou o jornalista, investigador e escritor, acrescentando que é um risco que assume por inteiro, por ter "vergonha, enquanto angolano, do estado de estagnação do ponto de vista civilizacional" em que o seu país se encontra.

Convidado para apresentar o livro "por ser alguém com uma intervenção cívica exemplar", o economista e ex-dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã começou por salientar precisamente os riscos de o fazer.

"Eu nunca tinha apresentado o livro de alguém que foi apanhado a conspirar contra o Estado e que foi condenado a oito anos de prisão pelo crime de estar a ler um livro, este livro! Ora, como nós estamos numa livraria e vamos ler o livro e falar sobre ele, sabe-se lá o que pode acontecer", comentou.

Domingos da Cruz e outros 16 ativistas foram presos em junho de 2015 por estarem a ler um texto que esteve na origem da obra agora publicada, acusados de "coautoria de atos preparatórios para uma rebelião" pelo regime do Presidente José Eduardo dos Santos, levados a julgamento -- "que foi uma farsa", comentou Francisco Louçã --, condenados a penas de prisão efetiva entre três e oito anos e meio e depois, alvo de uma amnistia do regime, que não viu outra forma de salvar a face, quando o caso chegou ao Supremo Tribunal.

O ex-dirigente bloquista falou dos princípios do liberalismo e dos seus paradoxos: o liberalismo começou muito bem, em matéria de defesa dos direitos cívicos -- como a liberdade de expressão e, logo, a liberdade de imprensa, também a liberdade religiosa -, das liberdades como formas de responsabilidade perante os outros, e acabou muito mal.

"A ideia de liberdade de expressão, de liberdade de imprensa, é essencial, faz parte da condição humana", defendeu Louçã, elogiando em seguida o ativista angolano.

"Creio que Angola se deve orgulhar dos seus filhos, como o Domingos da Cruz, e do que eles tiverem para dizer", sublinhou.

O intelectual angolano explicou por que razão quis convidar Francisco Louçã para apresentar o livro: foi por uma questão de coerência, "por existir, entre o seu discurso e o seu percurso uma coerência".

Contou, em seguida, que quando os 17 ativistas foram detidos, no ano passado, Louçã foi a Angola e se encontrou com a sua mulher para lhe expressar de viva voz a sua solidariedade, uma atitude de que não se esquece.

Aproveitou ainda para agradecer ao diretor do jornal Folha 8, William Tonet, onde trabalha e que continuou regularmente a pagar à sua mulher enquanto esteve preso, "e pagou até um pouco mais".

"É a pessoa mais livre que conheço. Ele tem mais de 100 processos judiciais, tudo por causa do seu exercício do jornalismo", cujos únicos limites são os da sua consciência, vincou.

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