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"É como se tivesse ardido a nossa mais esplêndida biblioteca"

Várias personalidades do mundo da cultura e da política lamentaram hoje a morte do encenador, dramaturgo, ator e cineasta Jorge Silva Melo, aos 73 anos, sublinhando a dedicação de uma vida ao teatro e ao cinema.

"É como se tivesse ardido a nossa mais esplêndida biblioteca"
Notícias ao Minuto

06:33 - 15/03/22 por Lusa

Cultura Jorge Silva Melo

Tradutor, ator e crítico de teatro, voz incisiva na área da cultura, Jorge Silva Melo morreu na noite de segunda-feira, no Hospital da Luz, em Lisboa, vítima de doença oncológica, como informou a companhia Artistas Unidos, que dirigia.

"É como se tivesse ardido a nossa mais esplêndida biblioteca, como se tivesse ruído o nosso mais fulgurante teatro. Que profunda tristeza", escreve na rede social Facebook, o dramaturgo e encenador Tiago Rodrigues, o ex-diretor artistico do Teatro Nacional D. Maria II.

"O Jorge Silva Melo foi um incansável trabalhador do teatro, um obstinado construtor de outras maneiras de inventar espectáculos, um arquitecto de colectivos mais solidários, uma enciclopédia generosa ao serviço das novas gerações, um feroz defensor da sua e nossa liberdade de pensamento, uma locomotiva intelectual que transformou o teatro e a cultura de um país. É um mestre para tantas e tantos que com ele aprenderam, que com ele trabalharam, que se alimentaram do seu trabalho. Vai fazer-nos tanta falta", acrescenta o autor de "By Heart" e "Catarina e a beleza de matar fascistas", que este ano assume a direção do Festival d'Avignon.

A coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, também atriz, descreveu Silva Melo como um "incansável criador de mundos", na rede social Twitter.

"No teatro e muito para lá dele. E aqueles - somos tantos, tantas - que ele tocou, com quem discutiu, construiu, que entusiasmou, ficam agora com um enorme vazio. Até de palavras", acrescentou, na mensagem sobre o desaparecimento do autor.

"Poucas pessoas falavam tão bem de livros, de teatro, de vida, de seres humanos, de cidades, de épocas, de coisas raras, de atmosferas, de nostalgia, sobretudo de nostalgia, como o Jorge Silva Melo, talvez porque a vida dele era feita de livros, de teatro, de seres humanos, de cidades, de memórias, muitas memórias, e de uma noção aguda do que ficou pelo caminho, do que se perdeu", escreveu o poeta e crítico literário José Mário Silva, na sua página no Facebook.

"Ouvi-lo à conversa, conversa solta, com cafés e cigarros, era um espanto (nunca esquecerei aquela voz única, entre metal e veludo). Lê-lo era melhor ainda. Porque havia nos seus textos uma inteligência sem esforço, absolutamente natural, espontânea; uma inteligência feroz, por vezes sarcástica, mas que nunca esmagava o leitor, abria-lhe portas, e nunca lhe falava de cima, só olhos nos olhos e a tratar por tu. [...] Era um homem livre, um melancólico terno, um poço de sabedoria, o Jorge. E vai fazer-nos tanta falta, ó se vai", conclui José Mário Silva.

O escritor, ensaísta e crítico literário Eduardo Pitta, por seu lado, recorda o percurso de Silva Melo, na rede Facebook, e os seus "dois excepcionais livros de memórias: 'O Século Passado' (2007) e 'A Mesa Está Posta' (2019)", assegurando que "a morte de um amigo nos deixa sempre interditos". "Até sempre, Jorge", conclui.

Também a atriz Maria Rueff deixou uma missiva nas redes sociais, com um "derradeiro aplauso para Jorge Silva Melo". "Deixa o Teatro bem mais pobre", escreveu, enquanto o cineasta Fernando Vendrell manifestou, da mesma forma, pesar pela perda do criador: "Ficamos tão mais pobres sem ele, e sem a sua amizade".

João Soares, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa e ex-ministro da Cultura lembrou "um homem bom", no Twitter, onde também a jurista e ex-diplomata Ana Gomes lamentou a perda: "Quantas horas de deslumbramento e de consciencialização cultural, política e humanista me deu no saudoso Teatro da Cornucópia???".

Por seu lado, o escritor Rui Zink apontava, noutra mensagem, que era "muito difícil falar de teatro sem falar dele".

A diretora artística do teatro São Luiz, Aida Tavares, deixou aplausos a Jorge Silva Melo, no Facebook, confessando: "Oh Jorge! Por agora sem palavras..."

João Branco, diretor do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, em Cabo Verde, escreveu na sua página do Facebook: "Que tristeza. Um dos maiores de sempre do teatro português (e de língua portuguesa) nos deixou. Jorge Silva Melo nunca serás esquecido [...] O vazio que deixa não tem medida", conclui o responsável pelo Mindelact, festival de teatro de Cabo Verde, diretor do polo local do Camões Centro Cultural Português.

O diretor do Teatro Municipal do Porto, Tiago Guedes, responsável pelo festival Dias da Dança, também escolheu as redes sociais para lamentar a morte do encenador: "Que notícia tão triste. Até sempre Jorge!"

No Facebook do diretor artístico do Varazim Teatro, Eduardo Faria, pode ler-se: "E agora Mestre, como aquieto todo o desespero com que me atormenta este vazio? Até um dia, meu tão generoso e bom amigo Jorge Silva Melo, que com a tua partida nos deixas a todos órfãos do teu saber e amputados do teu fazer. Até já."

Por seu lado, a atriz Carla Chambel escreveu, na mesma rede social: "Uma parte do que somos, foi-se. Obrigada, Jorge, por nos teres alimentado com tanto".

A fadista Aldina Duarte, por seu lado, afirmou: "Devo-lhe tanto, devemos-lhe tanto".

O encenador e dramaturgo André Murraças, num depoimento pleno de memórias do dia-a-dia, publicado nas redes sociais, conclui: "Agradeço-lhe tudo o que sabemos, claro, mas sobretudo estas pequenas coisas. Um abraço e obrigado, amigo Jorge Silva Melo!"

O ex-diretor do Teatro Experimental do Porto Júlio Gago culmina um longo depoimento, publicado no Facebook, garantindo que "Portugal perdeu uma das suas figuras mais relevantes {...] e um Amigo dos mais queridos".

O encenador e dramaturgo Ricardo Cabaça, cofundador e codiretor artístico da 33 Ânimos, escreveu nas redes sociais: "Devo-lhe tanto, tanto. Reli agora algumas das mensagens que trocámos e deu-me uma vontade tremenda de chorar. Sempre te agradeci, mas nunca é demais. Obrigado, mestre Jorge."

"O teatro português vê partir um dos seus maiores", escreveu o chefe da divisão de Cultura da Câmara de Tondela, Ovídio Pinto dos Santos, na sua página: "Morreu um pedaço de Portugal, um crítico mordaz, um cidadão atento, rebelde sempre que a sua liberdade assim obrigou".

O ator António Pedro Afonso, do Teatro do Sol, junto a uma fotografia de Silva Melo, escreveu: "Um actor não morre apenas muda de palco".

A professora Mariana Pinto dos Santos, Mariana Pinto dos Santos, do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, cita o próprio Jorge Silva Melo para reagir à sua morte: "Não seremos jamais órfãos, sempre seremos herdeiros."

Nascido em Lisboa, a 07 de agosto de 1948, Silva Melo fundou e dirigiu, com Luís Miguel Cintra, o Teatro da Cornucópia (1973/79), e fundou em 1995 a sociedade Artistas Unidos, de que era diretor artístico.

Estudou na London Film School, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e estagiou em Berlim junto do encenador Peter Stein, e em Milão com Giorgio Strehler.

É autor das peças "Seis Rapazes Três Raparigas", "O Fim ou Tende Misericórdia de Nós", "Prometeu", e "O Navio dos Negros", entre outras.

No cinema, realizou longas-metragens como "Agosto", "Coitado do Jorge", "Ninguém Duas Vezes" e "António, Um Rapaz de Lisboa", entre outras, além de documentários sobre a vida de artistas plásticos, como Nikias Skapinakis, Fernando Lemos e Ângelo de Sousa.

Traduziu obras de Carlo Goldoni, Luigi Pirandello, Oscar Wilde, Bertolt Brecht, Georg Büchner, Lovecraft, Michelangelo Antonioni, Pier Paolo Pasolini, Heiner Müller e Harold Pinter.

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