Meteorologia

  • 27 ABRIL 2024
Tempo
12º
MIN 11º MÁX 17º

Peça arqueológica exposta em Loulé pode não conter escrita do sudoeste

Uma estela (bloco de pedra) com escrita do sudoeste encontrada na serra algarvia e exposta em Loulé pode afinal não conter vestígios dessa primeira forma de escrita surgida há 2.500 anos na Península Ibérica, admitiu à Lusa um investigador.

Peça arqueológica exposta em Loulé pode não conter escrita do sudoeste
Notícias ao Minuto

15:00 - 18/01/20 por Lusa

Cultura Loulé

O arqueólogo Pedro Barros é investigador do Projeto Estela - criado em 2008 para estudar e promover o legado desta escrita criada a partir do alfabeto fenício, na Idade do Ferro - e reconheceu que está em curso um debate sobre a presença ou não da escrita do sudoeste nessa estela, encontrada em 2018, quando estava a ser utilizada como pedra de lavar numa recriação histórica, no concelho de Loulé.

"Estamos a falar de uma peça arqueológica, sem dúvida, uma peça arqueológica que é uma epígrafe, uma pedra gravada, mas nós, neste momento, não temos tanta certeza se aquilo efetivamente é uma estela com escrita do sudoeste. Tem havido alguma discussão em torno disso", afirmou Pedro Barros à agência Lusa.

A mesma fonte esclareceu que a hipótese de não ser escrita do sudoeste foi levantada durante um "colóquio de línguas e culturas paleo-hispânicas, onde as problemáticas das línguas pré-românicas da zona Península Ibérica são abordadas" e onde "alguns cientistas se debruçaram sobre a estela da Cortelha", assim designada porque pertencia à associação da localidade homónima do concelho de Loulé.

"E há leituras diferentes e entendimentos distintos, que apontam para que poderá, ou não, ser uma estela com escrita do sudoeste", acrescentou a mesma fonte, frisando que esse é o debate que os especialistas fazem neste momento.

Pedro Barros salientou que, "mesmo que não seja uma estela com escrita do sudoeste", trata-se de "uma peça arqueológica, escrita com processos muito semelhantes à Idade do Ferro" e "se calhar, em contextos da época medieval", pelo que representa "uma escrita antiga" e torna a estela "importante na perceção das escritas do interior do Algarve".

A escrita do sudoeste surgiu na Idade do Ferro, antes da época romana e depois da Idade do Bronze, e há vestígios da sua presença no Algarve, Baixo Guadiana e estuários do Sado e do Tejo, mas também na área que vai se Cáceres a Sevilha, em Espanha, segundo o investigador.

A partir do alfabeto fenício, foi feita uma "transformação e adaptação pela comunidade local à língua que se falava na região", com a mistura de carateres fenícios com signos que as comunidades locais criaram para traduzir sons que não tinham equivalência no seu dialeto, explicou a mesma fonte.

Os investigadores ainda não conseguem perceber o sentido da escrita e Pedro Barros deu o exemplo do sueco para explicar o porquê: "conseguimos reconhecer os carateres da língua sueca, porque são os nossos, conseguimos ler um texto sueco com a nossa entoação, mas podemos não acertar nos sons nem perceber a mensagem do texto", justificou.

A diretora do Museu Municipal de Loulé, Dália Paulo, contou à Lusa que a estela foi achada durante a festa da Espiga, em Salir, quando o fotógrafo Jorge Graça, que já tinha feito trabalhos sobre a escrita do sudoeste, reparou nas inscrições existentes numa "estela que estava a ser aproveitada como pedra de lavar" por uma associação da aldeia de Cortelha, na serra algarvia.

"Os especialistas confirmaram que se tratava de uma estela e a associação fez a doação para a integração no espólio do Museu de Loulé. Como na altura tínhamos as restantes estelas do Museu Nacional de Arqueologia, suprimos a lacuna e pudemos ter mais uma estela que os visitantes pudessem ver", enquanto as restantes estavam fora em exposição, disse.

Dália Paulo destacou que a pedra foi "recolhida por uma pessoa que a reutilizou como pedra de lavar, mas deu-lhe valor", e salientou a importância de dar a conhecer este património à população para que ela possa conhecer, identificar e até recuperar este património, "que faz uma aproximação às pessoas que viviam nesse território há 2.500 anos".

Recomendados para si

;
Campo obrigatório