Gilberto Gil encerra as Festas de Lisboa
O músico brasileiro Gilberto Gil encerra hoje as Festas de Lisboa, com 'Refavela 40', uma comemoração do álbum gravado há 40 anos, inspirado na sua primeira viagem a África, e que é retomado esta noite no Jardim da Torre de Belém.
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Cultura 'Refavela 40'
O álbum, que o músico define como "um disco negro para todas as cores", viria a tornar-se num dos clássicos do criador de 'Realce', "um dos mais visionários", segundo a crítica norte-americana, ao combinar 'reggae', samba, 'funk', anos antes de a 'world music' se afirmar como género a nível global.
'Refavela' traduz sobretudo a longa viagem de Gilberto Gil à Nigéria, em 1977, o seu contacto com o 'afrobeat' do músico e ativista Fela Kuti (1938-1997), criador de 'Beasts of No Nation', e a descoberta da 'juju music', que pouco depois se afirmaria a nível internacional.
A letra da canção que dá nome ao álbum original é uma denúncia das condições de vida no Brasil, que ao mesmo tempo reconhece razões da emergência do samba, do rap ou do chamado 'funk carioca', nas favelas.
"A refavela /revela o salto /que o preto pobre tenta dar /quando se arranca /do seu barraco (...)/ A refavela /revela o choque /entre a favela-inferno e o céu (...) batuque puro/ de samba duro de marfim".
O concerto hoje, em Lisboa, conta com Bem Gil, filho de Gilberto, com a cabo-verdiana Mayra Andrade, a italiana Chiara Civello, músicos como o baterista Domenico Lancelotti e o percussionista Thomas Harres, e prossegue a digressão europeia de 'Refavela 40', que sucede ao circuito brasileiro iniciado em setembro do ano passado, no Rio de Janeiro.
Durante a digressão, os concertos recuperam o alinhamento do disco de 1977, com canções de Gilberto Gil como 'Refavela', 'Aqui e agora', 'Sandra', 'No Norte da Saudade', 'Balafon', 'Era Nova', mais o 'Samba do Avião', de Tom Jobim, e 'Ilê Ayê', de Paulinho Camafeu, sem esquecer a 'Patuscada de Gandhi', partilhada com os Filhos de Gandhi, na gravação original.
Os concertos, porém, também têm sido alargados a outras criações de Gil, na época, como 'Queremos saber', 'É' e 'A gaivota', sem esquecer a célebre canção do 'Sítio do pica-pau amarelo', que o músico compôs na altura para a série televisiva infantojuvenil, inspirada nas histórias de Monteiro Lobato.
Temas de Bob Marley como 'Exodus', 'Jamming' ou 'Three little birds', e de Caetano Veloso, como 'Two naira fifty kobo', recordando o 'coração' do Tropicalismo, também têm feito parte do alinhamento dos concertos.
Gilberto Gil, que foi ministro da Cultura do Brasil de 2003 a 2008, tem atuado recorrentemente em Portugal, destacando-se, em anos mais recentes, os concertos com Mariza e a Orquestra Filarmónica das Beiras, no Estádio Municipal de Aveiro, a apresentação dos álbuns 'Gil Luminoso' e 'Fé na Festa', nos coliseus do Porto e de Lisboa, e ainda atuações, na Casa da Música, no Porto, e no CCB, em Lisboa, com Jaques Morelenbaum e Bem Gil.
Em 2014, atuou a solo em diversas salas, no âmbito da homenagem a João Gilberto.
Há dois anos, Gilberto Gil e Caetano Veloso celebraram 50 anos de carreira com a digressão 'Dois Amigos, Um século de Música', que teve várias etapas em Portugal.
No passado mês de março, com Gal Costa e Nando Reis, apresentou, em Lisboa e no Porto, o projeto 'Trinca de Ases', criado em homenagem ao advogado Ulysses Guimarães (1916-1992), opositor à ditadura militar, no Brasil.
No passado mês de maio, Gilberto Gil cancelou o concerto de Refavela 40', que tinha marcada para Telavive, no próximo dia 04, na sequência dos protestos em Gaza, durante os quais o exército israelita matou 60 palestinianos.
O concerto de hoje à noite em Lisboa é de entrada livre, e tem início marcado para as 22:00.
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