"Todos se mobilizaram, sonharam e rezavam certamente para que a Comissão Europeia e o Eurogrupo chumbasse o Orçamento, isso não há a menor das dúvidas, nem há nada que o disfarce. Agora oram aos mercados com a esperança que sejam os mercados ou uma agência de rating a vir limitar a decisão democrática dos portugueses", afirmou o chefe do executivo socialista, António Costa, durante o debate quinzenal na Assembleia da República.

Antes, a deputada do partido ecologista Os Verdes Heloísa Apolónia tinha falado do "desnorte e irritação" de sociais-democratas e democratas-cristãos, que passaram quatro anos a criar a ilusão de que o caminho da "brutal austeridade" era o único a prosseguir, para agora se descobrir e praticar-se uma "viragem", com medidas alternativas que não recaem sobre as famílias.

"Isto cria-lhes um certo desnorte, é compreensível que assim seja", comentou a deputada do partido ecologista Os Verdes, fazendo ainda referência ao discurso de PSD e CDS-PP às medidas do Governo de reposição dos salários ou a devolução de parte da sobretaxa.

"Vêm dizer que é um favor aos partidos que com o PS assinaram uma posição conjunta (...) , sinto-me extraordinariamente honrada com este favor", assegurou, explicando que essas declarações mostram que a direita vê esses partidos como aqueles que estão "de facto ao lado das pessoas".

Na resposta, o primeiro-ministro concordou com Heloísa Apolónia, falando igualmente da "crispação" da direita, que tinha como "grande programa" convencer o país de que só a austeridade era possível e nenhuma outra alternativa era aceitável.

Na sua intervenção, Heloísa Apolónia questionou ainda o primeiro-ministro sobre o Plano Nacional de Barragens, lembrando que é uma matéria que está na posição conjunta subscrita pelo seu partido com o PS, e sobre a central nuclear espanhola de Almaraz, a 100 km da fronteira, que "há muito já passou o seu tempo de vida".

Relativamente às barragens, o primeiro-ministro prometeu que até ao final do primeiro trimestre será feita uma primeira avaliação sobre o Plano Nacional, adiantando que já estão a ser feitos contactos com as concessionárias e que existe predisposição para a não construção de algumas infraestruturas e para a demolição de outras já desativadas.

Quanto à central nuclear de Almaraz, António Costa reiterou a preocupação do Governo e assegurou que existe um contacto permanente com as autoridades espanholas.

Na resposta à intervenção de Heloísa Apolónia, o primeiro-ministro recuperou ainda uma pergunta deixada pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, garantindo que o Governo está a tomar "devida nota" da adoção de medidas sobre práticas restritivas às exportações de leite português.