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"A primeira música que escrevi sair em português foi um choque"

2023 promete ser um ano em cheio para Aurea. A artista não só lançou um novo álbum, maioritariamente em português e no qual se estreou como compositora, como vai viajar por Portugal com uma nova digressão e entrar pela casa dos portugueses através do 'The Voice Kids'. O Notícias ao Minuto esteve à conversa com a artista.

"A primeira música que escrevi sair em português foi um choque"
Notícias ao Minuto

13/04/23 por Natacha Nunes Costa

Cultura Aurea

Aurea acaba de lançar 'Moods', um disco que é uma "viagem" por vários estados de espírito, não só da vida, como do dia a dia, tal como a própria descreve.

O álbum, que assinala os (mais de) dez anos de carreira da artista, traz várias novidades. Aurea estreia-se como compositora e logo de uma música em português: 'Volta', escrita numa madrugada em que estava no sofá.

'Moods' é aliás, na sua maioria, cantado na língua de Camões, algo que se transformou num desafio para a artista. Desafio este que ultrapassou com sucesso, com a ajuda de outros compositores, como Tozé Brito, David Fonseca, Tiago Bettencourt, Diogo Piçarra, Inês Apenas, Rita Onofre e Marta Carvalho.

Além da digressão que agora começa para apresentar 'Moods' por Portugal fora, Aurea abraça uma nova missão, a de mentora do programa 'The Voice Kids', após sete anos como mentora da versão para adultos do programa de televisão transmitido pela RTP1.

Lançou recentemente o seu novo álbum 'Moods'. Com que estado de espírito fica quem o ouve?

Cabe a cada uma das pessoas decidir no final do álbum, escolher ou sentir-se da forma que quiser, porque, na verdade, são 12 músicas muito diferentes umas das outras, com intuitos muito diferentes, com compositores muito diferentes. O disco acaba por ser uma viagem do início ao fim e quem está a ouvir decidirá qual o 'mood' que assenta melhor ou o 'mood' que está a passar no seu dia ou naquele momento, aquilo que sente a ouvir o disco do início ao fim. Acho que é um bocadinho por aí, mas espero que seja um 'mood' agradável, muito bom e positivo.

Nunca tinha estado tão envolvida no processo de produção de um álbum, no processo de mistura, de edição, de composição até…

Como lhe surgiu este título?

Dos diferentes estados de espírito de muita gente. Não só os meus porque todos nós passamos por várias coisas nas nossas vidas e no nosso dia a dia, coisas que nos deixam de formas completamente diferentes. Ou mais tristes ou mais positivos ou mais nostálgicos e este disco é uma viagem por vários mundos completamente diferentes, em cada uma das músicas. E acho que os compositores nos guiam muito por aqui, por vários mundos diferentes e daí o disco chamar-se 'Moods' - estados de espírito, porque cada música é um estado de espírito diferente.

Pois, 'Moods' conta com várias colaborações, ao contrário dos seus discos anteriores. Como surgiram estas participações?

A maior parte dos compositores foi escolhida por mim porque são pessoas que já ouço há imensos anos ou que admiro, como é o caso do Tozé Brito, do David Fonseca, que ouço desde o tempo dos Silence 4, do Tiago Bettencourt, de quem gosto muito da estética do trabalho, do Diogo Piçarra, por quem tenho uma admiração e amizade gigantes. Portanto, há muitos nomes que foram escolhidos pela admiração e por vontade de colaborar com. E depois tive a sorte de aceitarem o que foi um 'plus' maravilhoso. Além disso, tive três compositoras - a Inês Apenas, a Rita Onofre e a Marta Carvalho -, que vieram através da Great Dane, um estúdio do Mikkel Solnado, que me propôs uma coisa completamente diferente do que eu já tinha feito até agora. Normalmente tinha o Rui Ribeiro a compor para mim todos os discos, neste ele seguiu outro caminho, o caminho de trabalho dele. Eu continuo amiga dele e desejo-lhe sempre o melhor mas, neste disco, ele esteve mais em 'background' e a dar-me dicas. A acompanhar-me, como é óbvio, porque ele nunca sairá do meu caminho, mas foi um caminho mais ativo em termos de composição. O Mikkel convidou-me uma sessão de 'writting camp', que nunca tinha feito na minha vida e decidi arriscar. De repente vou à Great Dane três dias, com três compositoras diferentes e saem três músicas, que realmente me dizem muito. Músicas de três compositoras maravilhosas, que fiquei a admirar bastante. Foram três dias super produtivos e não havia nenhum compromisso. Fomos numa onda de experimentar a ver o que é que saia dali e acabámos por ficar super contentes com o trabalho de cada dia e o resultado são três das músicas que estão no disco: O 'Take Me', o 'Vou Tirar um Break' e o 'Nada'.

E foi assim que surgiram estas colaborações e que me deixam bastante orgulhosa. Tenho muito orgulho neste disco que fiz de uma forma completamente diferente, desta vez. Nunca tinha estado tão envolvida no processo de produção de um álbum, no processo de mistura, de edição, de composição até…

O 'Volta' – para mim é um orgulho porque foi a primeira vez que escrevi e será sempre o meu primeiro bebé – teve uma função muito importante para mim que foi a de desbloquear este lado de cantar mais em português, de perder o medo e de me desafiar também nesse sentido 

Pois, porque em 'Moods' também se estreou como compositora. Como se sente nesse universo?

Eu tinha muito medo. Durante muitos anos tive muita gente a aconselhar-me a pegar numa caneta, a pegar num papel, a escrever porque a coisa ia sair, porque tinha muitas mensagens para entregar e não acreditava em mim. Tinha muito medo, era um bloqueio que tinha. E, de repente, vejo-me aqui no meu sofá, numa madrugada, e o refrão do 'Volta', vem-me à cabeça. E eu pensei: 'Não me digas que é agora que eu vou escrever uma música pela primeira vez. É agora? É assim que acontece? [risos]'. Eu já tinha escrito com outras pessoas, mas é completamente diferente. Ainda por cima em português. E a música sai-me naturalmente em português e num género em que nunca tinha cantado, que tem que ver, sobretudo, com as minhas influências e referências musicais, que sempre ouvi ao longo do tempo. E acho que o 'Volta' – para mim é um orgulho porque foi a primeira vez que escrevi e será sempre o meu primeiro bebé – teve uma função muito importante para mim que foi a de desbloquear este lado de cantar mais em português, de perder o medo e de me desafiar também nesse sentido e só percebi isso recentemente.

Foi a partir daí que decidiu que este disco seria maioritariamente em português?

Surgiu com o 'Volta', sim, porque foi completamente inesperado.

Foi uma volta…

[Risos] Sim! Uma grande volta. Não estava à espera de todo que a primeira música que escrevesse fosse em português porque estava habituada a cantar há muitos anos em inglês porque me seria um espaço mais confortável e já voltei a escrever depois do 'Volta' e escrevi em português e inglês. Tenho músicas guardadas já nas duas línguas. Mas a primeira música que escrevi sair em português foi assim um choque, tipo isto se calhar é um sinal para cantar mais em português e a partir daí comecei a explorar mais o cantar em português e a técnica que muda completamente do inglês para o português. Foi super desafiante.

'The Voice Kids'? Está a ser incrível. Estive sete anos com os adultos e, de repente, cair na piscina dos pequeninos tem sido enriquecedor, tem sido maravilhoso, aprendemos imenso com os pequenitos

E como estão a ser os concertos cantados agora mais em português?

Nós tivemos o concerto do Coliseu do Porto e no Coliseu de Lisboa, foram os primeiros que serviram para comemorar os 10 anos de carreira - que na verdade já são mais uns quantos, uns 14 – e para fazer uma festa com as pessoas que me têm seguido ao longo destes anos e com a minha família e amigos e foram duas datas muito especiais, para mim e para toda a equipa, como é óbvio. Estávamos super nostálgicos no Coliseu de Lisboa e estávamos a gravar o concerto. A minha família subiu do Algarve e do Alentejo e vieram todos ver o espetáculo de Lisboa. Relembramos o primeiro concerto dos Coliseus, em que era acompanhada por uma orquestra e tinha o Rui Ribeiro a dirigir a orquestra. Foram duas datas muito especiais, tal como estas, passados estes anos. Passámos por muitas coisas juntos. Começaram ciclos novos, encerrámos outros ciclos, conheci muitas pessoas novas, muitos compositores, tive muitas experiências no trabalho que foram muito importantes para mim, que me fizeram crescer bastante. Para mim foi muito importante comemorar esta data. Agora, vamos começar a tournée e, graças a Deus, já temos uma agenda muito animada para este verão e até ao final do ano, a correr o país de Norte a Sul. Há muito trabalho a acontecer.

Além da digressão, é também mentora do 'The Voice Kids', que estreou no domingo. Como está a correr a experiência no formato infantil?

Está a ser incrível. Estive sete anos com os adultos e, de repente, cair na piscina dos pequeninos tem sido enriquecedor, tem sido maravilhoso, aprendemos imenso com os pequenitos. Estava super nervosa, super ansiosa nos primeiros dias das provas cegas. Até comentei várias vezes com os meus colegas – Carlão, Bárbara Tinoco e Fernando Daniel – 'não sei como é que vocês conseguem fazer isto, como é que vocês têm capacidade de aguentar toda a responsabilidade' e eles na altura disseram-me: 'olha que as crianças são mais tranquilas e é muito mais tranquilo com elas do que com os adultos'. E eu fiquei com a pulga atrás da orelha. Então, mas são crianças, como é que eles lidam com o 'não', como é que nós lhes damos um 'não'. E quando começámos as provas cegas percebi, claro! Torna-se mais simples com as crianças porque eles simplificam tudo, porque eles não metem o peso que nós adultos metemos, porque, se não virarmos as cadeiras e tivermos um pequenino a chorar atrás de nós, nós vamos dar-lhe um abraço, explicamos o que aconteceu e ele percebe perfeitamente tudo e tem uma vida inteira pela frente de experiência, de aprendizagem. Os pequenitos acabam por sair de lá com um sorriso nos lábios, portanto, tem sido muito especial.

Pois é que a Aurea, além de música, pode-lhes dar uma lição sobre resiliência, visto que, aos 16 anos participou nos 'Ídolos' e não entrou, mas entretanto transformou-se numa das artistas mais acarinhadas de Portugal...

O mais importante é não meter um peso que não existe numa experiência que pode ser tão boa, tão especial só por si, quer a criança passe, quer não passe e isto é o mais importante. Para além disso, nós ouvimos 'não' a nossa vida inteira, até aos dias hoje, portanto, faz parte e temos é de aprender a ouvir o 'não', pensar nele, pensar o porquê daquele 'não' e vir com mais força, dar a volta por cima e andar em frente. Se nós temos um sonho e, neste caso, a música é o nosso sonho e queremos mesmo construir uma carreira e ter uma vida bonita que viva da música e de tudo aquilo que isto tem de especial é importante termos alguma resiliência. Temos de saber lutar por aquilo que queremos e usar todas as ferramentas que temos e que vamos aprendendo, com as experiências, com o passar da vida. Usar essas ferramentas da melhor maneira e ter também pessoas boas à nossa volta.

No dia em que deixar de amar com todo o coração a música e aquilo que é o meu trabalho, não faz sentido continuar aqui. Enquanto o público achar sentido naquilo que nós fazemos, quero continuar até ser velhinha, muito velhinha 

Nesta senda, que balanço faz destes (mais de) 10 anos de carreira?

Acima de tudo foram 10 anos enriquecedores. Tem sido uma aventura muito grande e, acima de tudo, o que é positivo tem ultrapassado aquilo que de menos bom tem acontecido. Portanto, o saldo está super cá em cima, está super positivo. Continuo com muito amor por aquilo que faço e acho que só assim é que faz sentido porque, no dia em que deixar de amar com todo o coração a música e aquilo que é o meu trabalho, não faz sentido continuar aqui. Enquanto o público achar sentido naquilo que nós fazemos, quero continuar até ser velhinha, muito velhinha.

Vontade tal que já tem músicas guardadas para o próximo disco…

Desde 'Volta' que continuei a escrever. Agora vou escrevendo e vou guardando. Já tenho coisas preparadas para o próximo passo mas, neste disco, não queria deixar para trás as músicas dos compositores que tanto gosto. Tinha tanta música boa, tanta música que queria cantar e tantos compositores que queria deixar orgulhosos que decidi meter as minhas na algibeira, ficaram aqui guardadas no bolso e sairão a seu tempo. Há tempo para tudo. Achei que fazia sentido que neste momento fosse assim.

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