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"Rio é carta fora do baralho. Vai haver uma tragédia nas legislativas"

Depois de falar sobre a criação do seu partido, André Ventura debruça-se sobre a atual situação do PSD, não poupando críticas a quem devia ter "assumido responsabilidades" e não assumiu e apontando as baterias aos partidos que esquerda que, receia, possam ter mais quatro anos de governação pela frente.

"Rio é carta fora do baralho. Vai haver uma tragédia nas legislativas"
Notícias ao Minuto

22/10/18 por Patrícia Martins Carvalho

Política André Ventura

O Partido Social-Democrata já não é o que era e corre o sério risco de obter uma votação historicamente negativa nas próximas eleições - primeiro nas europeias e logo de seguida nas legislativas.

Quem o diz é André Ventura que garante que o partido que agora abandona precisa de outra liderança, pois com a "postura pacóvia de Rui Rio não vai a lado nenhum".

O eleito vereador da Câmara Municipal de Loures acusa o líder social-democrata de querer "dar a mão" à esquerda ao mesmo tempo em que 'vira as costas' aos sociais-democratas, o que irá atirar o PSD para o abismo.

Ainda sobre o partido que está prestes a criar, Ventura aponta o dedo a quem já pediu ao Tribunal Constitucional que não aceite a sua inscrição e garante: se isso acontecer será uma atitude "verdadeiramente fascista" daquela instância judicial. 

Como define atualmente o PSD?

É um partido que perdeu a sua identidade e se tornou numa espécie de partido de mercearia em que o importante é planear um eventual acordo com o PS. Não vejo a atual liderança fazer uma crítica substantiva ao Governo nem propor caminhos alternativos nas questões fundamentais.

Há aqui uma estratégia de aproximação ao PS?

É uma estratégia de aproximação que eu compreenderia se fosse uma estratégia de tentativa de obtenção de lugares no futuro governo, mas o PSD não serve para dar lugares a ninguém, nem para fazer dos seus líderes ministros. Serve para ganhar eleições e para propor alternativas.

Mas os “lugares”, a serem dados, não o seriam aos partidos de esquerda?

Sim, mas o PCP e o Bloco de Esquerda (BE) têm aqui um problema, é que viram o que aconteceu nas últimas autárquicas: foram esmagados pelo PS. Quando o BE e o PCP perdem a sua força de rebeldia e de crítica intensiva, perdem o seu eleitorado. O eleitorado do BE está-se nas tintas se tem um ministro ou não.

É certo que o Orçamento do Estado (OE) será aprovado?

Isso é certo, porque o PSD não vai deixar o Governo cair e, pelas sondagens, com o PSD a continuar assim, é certo que vamos ter António Costa por mais quatro anos, com o apoio do PSD ou com o apoio do BE e do PCP. Mas se a esquerda não aprovar o OE alguém tem dúvidas de que António Costa se vai virar para o Rui Rio? E alguém tem dúvidas de que o PSD vai dar a mão a António Costa? Eu não tenho.

O PSD deveria deixar cair o Governo?

O que é que a esquerda fez quando Passos Coelho ganhou as eleições? Fez cair o governo. E agora vai a direita dar a mão à esquerda para se manter lá durante mais quatro anos?

Tancos demonstra o completo desnorte das instituições. Se fosse o PSD o que já não andava aíMas isso é agir por vingança. E o superior interesse do país?

Neste caso juntam-se os dois, porque o supremo interesse nacional não pode permitir o que está a acontecer em que as instituições estão completamente sem controlo e o Presidente da República está calado. Só diz que está a acompanhar, mas não tem chamado o Governo à atenção. Tancos demonstra o completo desnorte das instituições. Se fosse o PSD o que já não andava aí.

Se fosse o PSD o que é que “já andava aí?”

Haveria uma diferença maior de ativismo. O PCP parece que morreu, só se ouve falar no PCP para questões ridículas. O BE, desde a questão do Robles, começou a meter os pés pelas mãos. Então o PSD vai dar a mão a António Costa pelo superior interesse nacional? E onde é que estava o interesse nacional quando os impostos não paravam de aumentar? Quando mandaram o governo do PSD abaixo? Quando o Governo não aceitou medidas de reforço de proteção para a PSP?

Acredito que o PSD vai ter uma das maiores derrotas da sua história

Então está a dizer que o PSD vai dar a “mão” a Costa...

E sabe por que motivo o PSD vai fazer isso? Porque este PSD acredita em António Costa e pior, Rui Rio sabe que se for a eleições agora vai ter uma derrota extraordinária e eu acredito que o PSD vai ter uma das maiores derrotas da sua história.

Encontra semelhanças entre o Rui Rio autarca e o Rui Rio presidente do PSD?

Só há diferenças. Como autarca do Porto teve a coragem para tomar medidas difíceis e nada disso se vê agora. Não se vê exigir mais segurança e até nos chamados temas de fratura ética tem-se colocado ao contrário da bancada do PSD e sistematicamente ao lado do PS. Rui Rio tem um certo tique de provincianismo, uma certa dose de pequenez.

Não é então um bom líder para o PSD?

Se calhar era um bom líder para o PSD há 30 anos. Hoje não. A comunicação tem que ser imediata e a presença política assertiva. O que vemos é Rui Rio a andar com o PSD atrás como se fosse um morto-vivo. Neste momento, Rui Rio já é uma carta fora do baralho e está toda a gente só à espera para a carta sair mesmo do baralho.

Se ele estivesse no Parlamento seria diferente?

Rui Rio não é um orador brilhante, por isso, também não creio que fosse um grande parlamentar, mas independentemente disso teria outra presença. O problema de Rui Rio foi que chegou e achou que autarcas e deputados estavam contra ele. Sentiu isso e teve de começar a disparar para todos os lados.

Sentiu porque efetivamente era assim?

Ele viu que a maior parte dos autarcas apoiou Pedro Santana Lopes, tal como muitos dos deputados. Mas um líder quando entra tem de agregar e ele dividiu ainda mais e ameaçou com processos os autarcas e afastou o líder parlamentar. Um líder tem de ter um espírito de unidade que Rui Rio não tem e não tem porque acha que isto é uma pequena província.

Com esta postura pacóvia, Rui Rio não vai levar o PSD a lado nenhum Acha que faz sentido ter afastado Hugo Soares? 

Ele tinha direito a fazê-lo, mas acho também que tem de ser capaz de integrar aqueles que estiveram contra ele. Com esta postura pacóvia não vai levar o PSD a lado nenhum.

Qual acha que será a percentagem de votos que o PSD vai ter nas legislativas?

Acho que não passará muito dos 20%, o que para o PSD é uma tragédia e o que significa que, ou o PS vai arrebatar esses votos todos, ou à esquerda e à direita podem começar a surgir outras alternativas e isso – contra mim falo – pode não ser o melhor para a estabilidade governativa, mas a culpa de quem gerou esta situação. 

Então não faria mais sentido ter-se juntado a Santana Lopes no Aliança?

Sim, só achei que tínhamos e temos propostas diferentes. Não fazia sentido sair para algo em que só acredito a 50 ou 60%. Já que vou sair mais vale criar uma coisa com a qual me identifico totalmente.

Quem é o líder de que o PSD precisava agora?

Não quero dizer nomes porque é deselegante e estaria a pôr pressão em pessoas concretas. Nós precisamos de um líder que assuma a história do PSD, que se assuma como um partido de centro-direita e não um partido ao centro que isso não é nada, que não tivesse medo de tocar nas causas do centro-direita e que não tivesse em caso algum medo de enfrentar a esquerda.

Há neste momento na estrutura do PSD alguém com essas características?

Há muita gente menos conhecida, não podemos estar só à espera que todos os líderes do partido sejam comentadores televisivos.

Luís Montenegro seria um bom líder?

Por exemplo. Apesar de ter ficado desiludido com ele, acho que era um nome capaz de, nesta fase, unir o país e deveria ter assumido as responsabilidades nesta fase.

Isto pode ser uma tragédia democrática nos próximos quatro anos porque a esquerda vai aprovar o que quiser Não seria arriscado para Montenegro por ainda ter a imagem muito colada à do governo de Passos Coelho?

Claro, mas qual foi o resultado das últimas eleições legislativas? Ganhámos. E agora acha que vamos ter o mesmo? Vamos ter muito pior. E há outra questão: se o grupo parlamentar do PSD fica reduzido a uma insignificância, isto pode ser uma tragédia democrática nos próximos quatro anos porque a esquerda vai aprovar o que quiser.

A extrema-direita na Europa tem vindo a ganhar terreno. Mas nas suas palavras, em Portugal a trajetória é a inversa. Porquê?

Porque as pessoas não têm uma direita que os represente. O surgimento de novas forças à direita poderá ajudar, senão vamos ter mais quatro anos de extrema-esquerda.

O seu partido será uma dessas forças?

É isso que espero fazer, uma direita que possa representar estas pessoas. Só espero é que o Tribunal Constitucional não cometa o erro de não permitir a inscrição do meu partido, como algumas pessoas estão a pedir.

Quem?

O Eduardo Paz Ferreira, por exemplo, porque a Constituição proíbe a formação de partidos fascistas e racistas. Isto é o pior que se pode fazer, dizer ‘nem sequer te vou deixar ir a votos’. Nós não podemos ter medo. Temos de ir a votos e as pessoas que escolham.

O Hitler também foi a votos…

Exato. Mas acho que tem que haver limites efetivamente.

Mas permitida a criação de um partido de extrema-direita, depois é que não se pode impor limites.

Temos de ver o que é um partido fascista. Defender a castração química é um partido fascista? Dizer que as minorias têm de pagar impostos como todos os outros é ser fascista? Que pode haver prisão perpétua é ser fascista?

Se o Tribunal Constitucional proibir a criação do meu partido está a ser verdadeiramente fascistaO que é então o fascismo?

Essa é que é a questão. O fascismo não pode ser tudo com o que não concordamos, senão nunca vamos sair daqui. E digo-lhe com toda a certeza: se o Tribunal Constitucional proibir a criação do meu partido está a ser verdadeiramente fascista.

Como é que viu a polémica que se gerou em torno da não recondução de Joana Marques Vidal?

Joana Marques Vidal deveria ter sido reconduzida no cargo, era um sinal de combate à corrupção que o país precisava. Em todo o caso acho que vamos ter uma boa Procuradora-Geral da República e também acho que devíamos pensar seriamente no modo de escolha do PGR.

Como deveria ser?

Defendo que deve ser uma eleição e não uma indicação. O PGR deve ser eleito pelos seus pares do Ministério Público. Neste momento o nosso sistema é um contrassenso porque quem indica e nomeia são os mesmos que o PGR poderá ter de investigar no futuro e isso não faz sentido.

Falou há pouco em Tancos. O ministro fez bem em demitir-se?

Tancos é uma vergonha e Azeredo Lopes já se devia ter demitido há mais tempo. Imagine se fosse o PSD no governo: havia pedidos de demissão, manifestações nas ruas...mas como é um governo de esquerda os sindicatos e as massas estão controlados. É uma vergonha.

Acredita que o ministro sabia da alegada encenação?

Não tenho elementos que me permitam dizer se sabia ou não. O que sei é que a cultura dos militares é a de deixar tudo escrito para garantir que fica tudo em pratos limpos e a informação é entregue a quem de direito. Se me perguntar em quem é que acredito, acredito nos militares e não em quem diz que não sabia de nada.

Faz sentido que o chefe de gabinete soubesse o que se passava e não informasse o ministro?

Não faz sentido nenhum. Que sentido é que fazia ele ficar com uma informação deste género? 

E quanto ao Presidente da República?

Espero que não soubesse. É menos provável que o Presidente soubesse e muito mais provável que o ministro soubesse.

*Pode ler a primeira parte desta entrevista aqui.

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