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Medicina à boleia da Inteligência Artificial. Um duelo ou uma aliança?

Ter a visão de um super-herói, travar o declínio cognitivo, prevenir o aparecimento de doenças e encontrar a saúde humana perfeita. Este parece o mote de eleição para um filme de ficção científica, mas poderá ser uma realidade muito em breve… e tudo à boleia da inteligência artificial.

Medicina à boleia da Inteligência Artificial. Um duelo ou uma aliança?
Notícias ao Minuto

08:00 - 10/04/17 por Daniela Costa Teixeira

Tech Computorização

Se há umas décadas disséssemos que a Medicina iria recorrer a uma inteligência não humana na prevenção e tratamento das mais variadas doenças, muitos nos chamariam de loucos. Mas e se lhe dissermos que o uso dessa inteligência computorizada é já uma aposta real?

Encontrar o mais depressa possível um elo de ligação entre a Tecnologia e a Medicina, sem que uma atrapalhe a outra e, sobretudo, sem que a primeira ultrapasse a segunda, é um dos grandes objetivos das principais empresas tecnológicas do momento. Afinal, para haver uma mão não-humana é (ainda) precisa uma mão humana.

A inteligência artificial (IA) está sem sombra de dúvidas a assumir-se como um recurso recorrente e eficaz na área da saúde e para percebermos como a utilização deste sistema de computação cognitiva pode dar vida a um “novo capítulo na história da Medicina”, entrevistámos por email Cristina Semião, Healthcare Manager da IBM Portugal, e Ricardo Matias, investigador da Fundação Champalimaud. O Tech ao Minuto fez ainda um pedido de entrevista à Google, mas do lado da empresa não houve disponibilidade.

O hat-trick que promete mudar a saúde em breve

A cada cinco anos, a IBM apresenta cinco inovações que prometem mudar a vida das pessoas em apenas cinco anos. No seu mais recente 5 in 5, a empresa compromete-se, já nos próximos cinco anos, a tentar melhorar a saúde humana em três aspetos diferentes. A tecnológica norte-americana quer recorrer ao uso da inteligência artificial para melhorar a visão humana, para prevenir e detetar o declínio cognitivo e ainda para conseguir prever uma doença antes que os primeiros sintomas surjam. O Watson é o grande protagonista desta caminhada rumo ao futuro da Medicina.

O Watson é um sistema de computação cognitiva alimentado por um sistema de inteligência artificial capaz de analisar uma grandes volumes de informação num curto espaço de tempo, o que lhe permite ter uma 'imagem' geral e precisa de um determinado problema. Trocando por miúdos, o Watson poderá chegar a um diagnóstico em breves segundos, algo que poderia demorar horas ou dias apenas com a típica abordagem humana.

Em declarações ao Tech ao Minuto, Cristina Semião, Healthcare Manager da IBM Portugal, explica que a inclusão destes sistemas é uma mais-valia para a área da saúde, uma vez que “um sistema cognitivo simula o processo cognitivo humano, entende linguagem natural, gera hipóteses e valida-as com base na evidência, aprende e adapta-se, com a vantagem de nunca se esquecer de nada. Em suma, sem a computação cognitiva, a saúde iria padecer do paradoxo de ter cada vez mais dados e cada vez menos compreensão dos mesmos”.

Mas para quem pensa que o Watson e tantos outros sistemas de inteligência artificial poderão fazer as vezes dos médicos, Cristina Semião tem um aviso: “É preciso esclarecer que a tecnologia não é a responsável pelo diagnóstico de patologias, esta auxilia”.

A implementação do ‘médico Watson’ é já uma realidade e, em 2016, a IBM selou um acordo com o hospital privado alemão Rhon-Klinjum AG para o uso do Watson na resolução de casos de doenças raras no país. No mesmo ano, a tecnológica levou o supercomputador para a Universidade de Tóquio (no Japão) e só assim foi possível ao corpo clínico dessa unidade detetar um raro caso de leucemia que se mantinha desconhecido desde 2015. Portugal terá em breve este sistema de inteligência artificial a auxiliar o diagnóstico das mais variadas patologias, como nos confirmou Cristina Semião.

A IBM tem sido de facto uma das empresas que mais tem apostado neste conceito. Mas não está sozinha nesta caminhada.

Google em busca da uma saúde perfeita

Corria o ano de 2014 quando a Google anunciava um projeto que tem tanto de arrojado como de futurista. Trata-se do ainda em desenvolvimento ‘Baseline Study’, uma investigação que faz parte da divisão experimental Google X e que é liderada pelo biólogo molecular Andrew Conrad.

Este projeto – que decorrerá até 2019 e que pelo facto de se assumir secreto, ainda pouco se sabe sobre o mesmo - tem como único objetivo conseguir mapear o corpo e encontrar a saúde humana perfeita, recorrendo, para tal, a sistemas de computação inteligentes que aglomeram dados genéricos, analisam e identificam padrões ou, para sermos mais precisos, detetam biomarcadores que permitem identificar as causas das doenças e até mesmo as possíveis predisposições genéticas que podem ser mais traiçoeiras. Nesta primeira fase (a única conhecida até agora) estão a participar 175 voluntários.

Mesmo sem a empresa tornar públicos os seus trabalhos, uma vasta pesquisa online permitiu-nos perceber o objetivo deste projeto mantém-se e não passa, de todo, por encontrar um novo produto com o selo Google, mas sim abrir portas a um caminho que a Medicina tem explorado e deve continuar a explorar: O recurso à inteligência artificial.

“Esta pesquisa pretende ser uma contribuição para a ciência, não pretende gerar um novo produto na Google. (…) Dito isto, um estudo como este pode desbloquear muitas ideias para projetos futuros, não apenas na Google, mas em toda a saúde e indústrias da tecnologia. É por isso que planeamos fazer o estudo e deixar os resultados subjacentes disponíveis para investigadores qualificados na saúde para que possam usá-los nos seus próprios esforços médicos”, disse a Google num comunicado enviado ao International Bussines Times aquando do anúncio do projeto.

Inteligência artificial vs. Inteligência humana. Um duelo ou uma aliança?

Fazer uma pesquisa nos motores de busca pelas palavras ‘artificial inteligence + medicine’ permite encontrar cerca de 26 mil resultados científicos sobre o tema, alguns deles da década de 80, altura em que estes sistemas eram bastante rudimentares e faziam sonhar com máquinas mais potentes que criassem sistemas mais robustos, eficazes e inteligentes.

Ricardo Matias, investigador na Champalimaud Research, olha para o uso da IA na Medicina “como uma extraordinária oportunidade” e até como “a abertura de um novo capitulo na história da Medicina”. Afinal, diz, trata-se de “uma ferramenta com um potencial incrível com benefícios que ultrapassam em muito os possíveis riscos”.

“A capacidade de juntarmos a um profissional de saúde uma ‘máquina’ que nos ajuda a entender melhor a narrativa de um utente, os seus sinais e sintomas, a pesquisar em milissegundos vastíssimas quantidades de informação desse utente no passado ou de outros utentes, de cruzar dados da melhor evidência científica disponível, e em tempo real, devolver uma opinião - diria mesmo, a melhor e mais precisa opinião - é algo de inquestionável valor para todos os profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir e de suportar as suas decisões”.

Tal como já tinha sido defendido por Cristina Semião da IBM, também o investigador defende “que não estamos a falar (hoje) em substituir os profissionais de saúde, estamos a dizer que a inteligência artificial pode claramente ser utilizada como um sistema de elevada precisão de suporte à decisão”.

Quando questionado pelo Tech ao Minuto sobre o uso destes supercomputadores no nosso país, Ricardo Matias diz que “o principal desafio não está em como pode Portugal adotar esses supercomputadores”, pois já há serviços de cloud poderosos que são disponibilizados por empresas como a Google e a Amazon. “Entendo que o principal desafio está do lado das profissões e em como estamos hoje a formar os profissionais de saúde de amanhã. É urgente integrar as diferentes formas em como a inteligência artificial se apresenta hoje nos currículos de cursos como Medicina, Fisioterapia, Enfermagem, entre outros”, acrescentou.

O crescimento exponencial que se observa hoje em dia na tecnologia em geral, como a capacidade computacional (nos supercomputadores como refere) e bio-sensores, em nada servirão se não os soubermos utilizar e integrar no nosso dia-a-dia. Devemos olhar para a inteligência artificial não numa perspetiva de inovação tecnológica, mas do que dela podemos retirar para melhorar os cuidados em saúde (inovação social). É importante (in)formar para que não se gere um medo estritamente gerado e alimentado pelo desconhecimento. Ricardo Matias, Ph.D. Champalimaud ResearchA confiança na aliança entre a Medicina e a Inteligência Artificial leva Ricardo Matias a afirmar que “num futuro próximo poderemos ter humanos com muito melhor qualidade de vida. Acredito que estamos munidos de ferramentas extraordinárias para explorar as fronteiras do diagnóstico precoce. Acredito igualmente que não só o profissional de saúde saberá mais sobre o utente, como o utente saberá muito mais sobre si próprio - essencial para uma medicina mais efetiva, e para um papel mais responsável e pró-ativo do utente”.

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