“É preciso, quaisquer que sejam as formas encontradas, reforçar a nossa capacidade de negociação internacional, e assegurar ao mesmo tempo que consigamos viver numa democracia que não fica populisticamente destruída e com uma coesão social onde possamos todos rever-nos”, afirmou hoje Jorge Sampaio, em Lisboa, à margem um encontro sobre a "Plataforma global de assistência académica humanitária a estudantes sírios".

Para o ex-Presidente da República, “é preciso encontrar uma forma de cooperação, seja ela qual for”, e Jorge Sampaio manifestou “esperanças positivas de que isso seja possível”.

“Não devo dizer mais nada em relação a uma chamada negociação que está em curso. São conversações, podem chegar a compromissos, que são desejados”, disse, sublinhando que não iria falar sobre “quais são as soluções”.

Jorge Sampaio afirmou que a expressão “salvação nacional”, utilizada pelo atual Presidente da República no discurso de quarta-feira, “não é muito do [seu] agrado”

Na quarta-feira, Cavaco Silva propôs, numa comunicação ao país, um "compromisso de salvação nacional" entre PSD, PS e CDS que permita cumprir o programa de ajuda externa e eleições antecipadas a partir de junho de 2014.

Para Jorge Sampaio, “a Democracia portuguesa precisa de ser revitalizada e os cidadãos precisam de ter uma expectativa positiva de que os sacrifícios que vão fazendo estão a servir para alguma coisa”.

O ex-chefe de Estado insistiu que “é crucial reforçar posição negocial de Portugal na Europa”.

No dia 03 de julho, antes da declaração ao país de Cavaco Silva, Jorge Sampaio defendeu, em declarações à Lusa, a necessidade de um amplo consenso político, que incluísse vários partidos, embora admitindo a hipótese da realização de eleições legislativas antecipadas no mesmo dia das eleições autárquicas, convocadas já para 29 de setembro.

Questionado hoje pelos jornalistas sobre a possibilidade de realização de eleições antecipadas, Jorge Sampaio respondeu: “Sobre isso não falo”.

Também hoje, um outro antigo Presidente da República, Mário Soares, no seu artigo semanal no Diário de Notícias, se refere à situação política, considerando que “a prioridade das prioridades consiste na demissão do Governo”.

“E quem substitui o Governo Passos Coelho/Portas? Há várias soluções que o Presidente da República pode escolher: um Governo de Salvação Nacional, dirigido por um homem sério e não ligado aos negócios, como Silva Peneda ou outros, uma vez que o Presidente da República não quer convocar eleições antes de 2014 e recusa – e bem – um Governo de iniciativa presidencial”, defendeu.

Sobre as negociações que decorrem entre PSD, PS e CDS-PP, Soares considerou que um acordo entre os três partidos será “uma impossibilidade aparente”: “Só se o PS fosse dirigido por alguém que não tivesse senso, o que não é obviamente o caso”.

"Constituir um Governo de Salvação Nacional com gente incorrupta e patriótica. É do que precisamos como de pão para a boca. Se assim não for, o seu discurso terá sido uma boa vingança mas não faz qualquer sentido", disse Soares, defendendo que não só os políticos de esquerda se devem mobilizar como também "os sociais-democratas anti-Passos Coelho".