Não é comum mas por vezes é o próprio jornalista que se torna alvo de notícia. Foi assim com José Rodrigues dos Santos em 2015, após reportagens em Atenas. O mesmo caso verificou-se esta semana após o tempo que o pivot da RTP dedicou aos números da dívida pública.

No telejornal da noite de segunda-feira, José Rodrigues dos Santos apresentou gráficos referentes à situação financeira do país. A dívida pública, situada nos 130% do PIB, foi o seu principal enfoque, com Rodrigues dos Santos a salientar que houve aumento entre 2005 e 2011 (altura de José Sócrates no Governo) e que este aumento teria um perfil diferente do aumento entre 2011 e 2015 (já no Governo de Passos Coelho).

O deputado socialista João Galamba recorreu às redes sociais para contrariar o pivot da RTP, que terá afirmação afirmado que "o Eurostat descobriu que vários países, incluindo Portugal, estavam a esconder a dívida em empresas públicas, dívida que não era incluída nas contas nacionais".

No Facebook, Galamba garantiu que tal não é verdade e que o motivo pelo qual a "dívida de algumas empresas não era reconhecida como dívida pública era exatamente por causa do Eurostat" e das suas regras contabilísticas. Mais, a haver dívida escondida cá, teria sido unicamente parte da dívida da Madeira.

O também deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro recorreu à mesma rede social para falar no que descreve como "o triste espetáculo da RTP ontem à noite".

O tema foi ainda focado por páginas com milhares de seguidores nesta rede social, casos de 'Os truques da imprensa portuguesa' ou 'Uma página numa rede social' e até no site 'Geringonça', afeto à Esquerda e criado após a expressão se ter popularizado como crítica ao apoio dado pela Esquerda ao Governo socialista no Parlamento. Mas a polémica não se ficou por aqui.

Abel Baptista, deputado do CDS, afirmou que "em coro, deputados e dirigentes socialistas querem calar e domar o trabalho dos jornalistas". A sua opinião foi republicada por Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD,.

Também o deputado 'laranja' Luís Vales deu destaque à questão, afirmando no Facebook que "o PS está no Governo, por isso calem-se todos os jornalistas, comentadores, líderes de opinião e afins. Isso da liberdade de imprensa é do tempo da outra senhora pah", ironizou.

José Rodrigues dos Santos, no entanto, já antes se viu no meio de um 'bate-boca' político. Em janeiro de 2015, por altura das eleições na Grécia, o pivot da RTP fez uma série de reportagens em Atenas. Na altura destacaram-se frases como "os gregos inventam mil estratagemas para não pagar impostos" e "muitos dos gregos que andam a pé diante da casa do ex-ministro da Defesa são paralíticos", sugerindo que subornavam médicos para obter uma "certidão fraudulenta".

Entre as críticas feitas então destacou-se a de José Manuel Pureza, atualmente na bancada do Bloco de Esquerda, que afirmou na altura, na antena da RTP Informação, que o serviço público não estaria a ser salvaguardado e falou em "momentos de grande infelicidade [do pivot da RTP], para utilizar as palavras mais brandas". Em entrevista ao Diário de Notícias, José Rodrigues dos Santos respondeu às críticas que então ouviu dizendo que "não cabe aos jornalistas deixar de falar da grande ou da pequena corrupção (...). Azar, porque eu falo".