Em declarações aos jornalistas após uma reunião com a Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), em Lisboa, António Filipe considerou "muito justo" que se façam "homenagens e convocações" pelos bombeiros, mas considerou que não "basta o reconhecimento em palavras".
"Esse reconhecimento deve ser traduzido também em atos e designadamente no melhoramento do estatuto social do bombeiro, por forma a que mais jovens se possam sentir motivados para exercer a atividade de bombeiros. Nós precisamos disso, o país precisa disso", defendeu.
António Filipe recordou que, apesar de haver em Portugal várias categorias de bombeiros, como os bombeiros sapadores ou municipais, a "espinha dorsal" do sistema de proteção civil são as associações humanitárias de bombeiros voluntários.
"E entendo que deveriam ser dados mais incentivos para que os jovens possam ser atraídos e que a carreira de bombeiros seja mais valorizada, para além de que o Estado não pode regatear apoios materiais às associações de bombeiros", defendeu, frisando que os materiais utilizados pelos bombeiros, como as viaturas ou equipamentos de proteção individual, são "muito dispendiosos".
"Portanto, todo o apoio que o Estado possa dar às associações de bombeiros deve ser dado. Creio que os bombeiros deviam poder contar com o país como o país conta com os bombeiros", referiu, deixando ainda uma saudação à "dedicação, abnegação, até heroísmo" que os bombeiros têm demonstrado esta semana perante os "fogos de grande dimensão" em Portugal.
Questionado sobre o que é que acha que está a falhar na forma como se lida com os incêndios em Portugal, António Filipe disse que, sempre que há um ano "particularmente quente" e se assiste a incêndios com "consequências gravíssimas", criam-se comissões, que fazem "um relatório muito pormenorizado e muitas recomendações".
"Depois vamos ver se as recomendações foram cumpridas e concluímos que muitas não foram, designadamente naquilo que tem a ver com a prevenção dos incêndios que deve ser feita ao longo do ano. Ou seja, não é em agosto que se faz a prevenção dos incêndios rurais", salientou, defendendo que "o problema de fundo, mais estrutural, tem a ver com a falta de cumprimento das resoluções que diversas comissões, ao longo de décadas, têm vindo a fazer", disse.
Interrogado sobre o que é que um Presidente da República pode fazer sobre este assunto, António Filipe reconheceu que, além de "dever acompanhar naturalmente os problemas do país, deve também "ter uma voz ativa relativamente à resolução destas questões".
"Não apenas de solidariedade com as populações, não apenas de reconhecimento e solidariedade com os bombeiros -- tudo isso é importante e o Presidente da República não deve deixar de o fazer -- (...) mas creio que o Presidente da República pode ter iniciativa juntando entidades, procurando mobilizar vontade, inclusivamente dos governos que tiverem em funções", para garantir uma melhor prevenção dos incêndios florestais.
Por sua vez, o presidente da LBP, António Nunes, também afirmou que, perante os incêndios florestais, "há palavras de apreço e de reconhecimentos" para os bombeiros, mas é preciso que essas palavras passem a atos.
"Nós precisamos mais de atos que levem a que o voluntariado não morra, que os nossos bombeiros voluntários estejam dotados dos meios necessários para continuar a socorrer as populações e que, em momentos tão difíceis como o país está a atravessar, se saiba que pode contar com os seus bombeiros", disse, agradecendo a António Filipe pelo seu trabalho em defesa dos bombeiros, designadamente quando foi deputado.
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