Aproximando-se o debate do Estado da Nação, que acontece esta quinta-feira, chovem críticas dos partidos da oposição ao Governo, com todos a concordar que o estado do país não é o melhor. No topo da agenda parlamentar para este debate está a Saúde, a Habitação e as matérias fiscais.
Na ótica dos partidos que apoiam o executivo de Luís Montenegro o estado do país tem, naturalmente, vindo a melhorar. Hugo Soares salientou a ação do Governo a “todo o vapor”. "No curto espaço de um mês, este Governo demonstrou um grande impulso de trabalho e um grande impulso de transformação do país. E a análise do estado da nação não pode ser dissociada disso mesmo", afirmou em entrevista à Lusa.
Depois das férias parlamentares, Hugo Soares afirma que a bancada dos sociais-democratas vai lutar pela regulamentação do lóbi e pela resolução dos problemas da habitação e de mobilidade.
No CDS-PP mantém-se a mesma opinião, com o líder parlamentar do partido a defender que as últimas eleições deram uma “maior sustentabilidade” ao Governo para que continue um processo “relevante de desagravamento fiscal e de retribuição do rendimento dos portugueses".
O grande foco para o partido, depois das férias parlamentares, vai ser o próximo Orçamento do Estado. Nomeadamente para que o documento crie condições de desagravamento fiscal também para as empresas e ainda que contribua para um aumento da qualidade de vida e para a fixação dos jovens em Portugal.
O maior partido da oposição, pela voz de Pedro Pinto, admite que “o país não está bem” e que o “Governo tenta ir um pouco a reboque do Chega”. Em entrevista à Lusa, o líder parlamentar acrescenta que é “um bom sinal” porque mostra que as propostas do partido são “boas e válidas para o funcionamento e progresso do país”. Propostas essas que incluem “uma baixa radical de impostos” para todos os portugueses - mas não só.
O líder da bancada do Chega apontou também que as falhas no INEM e nos serviços de urgência têm de ser resolvidos, assim como, as questões na justiça, salientando que “tem de ser mais célere" e pedindo respostas para o combate à corrupção.
Do lado da bancada socialista, a voz não soa completamente dissonante - pelo menos, em relação aos problemas que é preciso resolver. Em particular, a Saúde.
Em entrevista à Lusa, o líder parlamentar do PS salientou que “há mais portugueses sem médico de família”, que existem “mais urgências fechadas e que os casos em torno do INEM da assistência de emergência não param de cessar".
Para os socialistas, as prioridades para depois das férias parlamentares vão ser o custo de vida e os rendimentos dos portugueses, com um acompanhamento minucioso do quadro da saúde e também do arranque do ano letivo.
O problema na área da Saúde é incontornável quando se questiona os partidos sobre o estado do país. A candidata à liderança da Iniciativa Liberal identifica o setor como um dos “mais críticos neste momento”.
“A dúvida que fica é se ano após ano vamos continuar aqui com a situação que temos em mãos: um país em degradação, os serviços públicos em degradação, a vida das pessoas a piorar, e sem vislumbre de soluções à vista", afirmou Mariana Leitão em declarações à Lusa no âmbito do debate do estado da nação.
Na agenda liberal, a habitação é também destacada como uma área prioritária e Mariana Leitão aproveita para criticar as medidas do Governo que promoveram a área da procura e esqueceram a oferta, causando uma subida ainda maior dos preços no imobiliário.
À esquerda, o Livre continua a onda de críticas ao Governo, acusando o executivo de governar de "forma populista, sem uma preocupação concreta com os problemas reais do país e das pessoas, sejam elas portuguesas ou estrangeiras". A porta-voz do partido afirma ainda que o executivo avança com "propostas que não são sobre os problemas efetivos do país, mas que fazem muito fogo-de-vista e que, no fundo, respondem à agenda da extrema-direita".
Em declarações à Lusa, Isabel Mendes Lopes defende que o partido está particularmente preocupado com o aumento do preço das casas em Portugal e a “situação bastante caótica” do SNS, nomeadamente nas urgências de obstetrícia e pediatria e no INEM.
Já o Partido Comunista Português considera que a situação do país "tem vindo a agravar-se" em várias áreas. Paula Santos lamenta os salários e pensões baixos, o aumento de preços de bens essenciais, a crise na Habitação e a situação na escola pública. Mas também não esquece o problema na Saúde “com a degradação dos serviços públicos” em especial nas urgências de ginecologia e de obstetrícia.
"Aquilo que vemos por parte deste Governo é um caminho de aprofundamento das desigualdades, das injustiças", criticou a líder parlamentar do PCP em entrevista à Lusa.
Os bloquistas mantém esta opinião do PCP e reiteram a ideia de que o Governo tenta “esconder-se atrás de uma agenda populista, de um mono tema” para “não ter que responder aos problemas do país”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda disse, em entrevista à Lusa, que a preocupação atual do partido é “recentrar o debate” em temas como os salários, a habitação e a saúde, um setor no qual Mariana Mortágua antecipa um agravamento dos problemas dado à que o Governo "já comprometeu fundos para mais despesa militar quando nem sequer tem helicópteros de resgate no INEM".
O PAN também faz um balanço negativo do atual estado do país. “Nós sabíamos ao que vinha, não só à direita, mas também aquilo que têm sido estas políticas de recuo do Governo de Luís Montenegro", afirmou Inês de Sousa Real à Lusa.
A deputada única salientou os tempos de espera nas urgências, com especial enfoque nos “recuos absolutamente inaceitáveis” na saúde materno-infantil, e mencionou ainda o “flagelo para as famílias” que é a crise na habitação.
A porta-voz do partido não deixou de fora também a causa animal, afirmando que é preciso ter “canis municipais em condições” ou de fornecer verbas a cuidadores e associações e afirma ainda que o executivo não prioriza o ‘dossier’ das alterações climáticas.
O recém-eleito JPP afirma que a "classe política está completamente alheada dos problemas reais do país", mas salientou que vê no atual executivo uma "vontade de chegar à resolução de diversos problemas”. Filipe Sousa disse, em entrevista à Lusa, ver “falhas clamorosas" na saúde, educação e segurança no país, e sublinhou ainda o “problema da imigração”.
Para o debate do estado da nação, o deputado único diz que vai confrontar o Governo sobre as questões das regiões autónomas, nomeadamente com o "reforço dos poderes autonómicos", a revisão da lei das finanças regionais e a valorização do Centro Internacional de Negócios da Madeira.
Esta quinta-feira o parlamento vai debater o Estado da Nação, naquele que será o primeiro da nova legislatura. Tudo indica que os problemas na Saúde vão ser um dos focos principais da sessão. O debate vai contar com a presença do primeiro-ministro e do restante Executivo.
Leia Também: Liderança de 27 municípios nunca mudou de cor política desde 1976