O antigo líder do CDS-PP Paulo Portas considerou que as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à União Europeia são "um jogo muito duro", realçando que para Portugal são um "assunto sério".
No seu habitual espaço de comentário no jornal da TVI - que aconteceu excecionalmente no sábado -, Paulo Portas referiu que desde a tomada de posse de Trump já foram aplicadas "55 medidas tarifárias".
"De três em três dias, há uma nova tarifa ou uma novidade sobre as tarifas e isto não cria nem previsibilidade nem certeza. Começou a semana decretando uma tarifa altíssima sobre a terceira maior economia do mundo, o Japão, e o melhor aliados dos Estados Unidos na Ásia", começou por dizer, acrescentando que fez o mesmo com a Coreia do Sul, que é "uma das mais inovadoras economias do mundo".
E continuou: "Depois seguiu para mais 20 cartas a países vários concentrados na Ásia, alguns em África, com tarifas muito parecidas com aquelas que ele tinha lançado a 2 de abril e depois suspendeu. Decidiu dizer que ia tarifar os membros dos BRICS por serem membros dos BRICS. Sucede que estão lá amigos dos Estados Unidos, por exemplo, os Emirados e outros que os Estados Unidos querem conquistar, a Índia".
Paulo Portas destacou ainda que, depois, "seguiu-se o Brasil, que é a tarifa mais alta e a que menos explicação comercial tem, e, depois, México e Canadá, dois dos três maiores parceiros comerciais" do país e, no sábado, a União Europeia "com uma tarifa substancialmente mais alta do que aquela que vigorava desde 10 abril, ou seja, 10%, e mais alta do que aquela que ele tinha decretado a 2 de abril, ou seja, 20%, agora 30%".
O ex-líder do CDS notou ainda que Donald Trump decretou "uma tarifa num bem muito essencial que é o cobre e prometeu outra nos produtos farmacêuticos de 200%".
"Primeiro, trata os amigos igual ou pior que os inimigos. São puras relações de força. Depois, já nada tem qualquer racional em termos comerciais, ou seja, diferença entre a taxa comercial externa da América e de um outro país e as negociações de boa-fé parecem inúteis porque, antes de expirar o prazo, ou depois, ele decide arbitrariamente. São estas as matérias que é preciso ter presente", salientou.
E a Europa?
Paulo Portas sublinhou que "o jogo é muito duro com a União Europeia", acrescentando que "há três relações comerciais que têm impactos globais imediatamente": "a relação EUA e China, a relação entre Europa e EUA e a relação entre a Europa e a China".
"Se formos ver o peso que estes três grupos têm no comercio global e no PIB do mundo é um peso muito elevado e, portanto, tudo o que aconteça nessas relações tem impacto. O segundo ponto é a taxa comercial externa da Europa em relação aos Estados Unidos é cerca de 1,5% mais alta do que a dos americanos em relação à Europa", destaca.
Para o antigo líder do CDS e a seu "ver bem", a Comissão Europeia propôs um acordo 0-0. Zero tarifas de um lado, zero tarifas do outro. Ou alisar as taxas comerciais externas".
O antigo deputado considerou que "isto ainda seja um movimento tático, mas o cenário é pior do que na semana passada", notando que a Europa "fez várias propostas razoáveis e deu sinais de confiança", "acompanhou o discurso americano na NATO, facilitou a vida das grandes empresas americanas no quadro do G7, esteve disponível para não taxar o digital americano" e que a resposta dos Estados Unidos foi "esta brutalidade".
"Aquilo que a Europa tem de descobrir é o que é que, naquilo que a Europa produz e exporta para os Estados Unidos - nós somos um grande parceiro comercial dos americanos - faz dano aos setores americanos que apoiaram Donald Trump, por exemplo os líderes tecnológicos, e, que curiosamente, é no setor onde os americanos têm superavit maior em relação à Europa", disse.
E Portugal?
Paulo Portas salientou que, em relação a Portugal, "isto é assunto sério". "Os Estados Unidos são o nosso quarto maior parceiro. Nós exportamos para os EUA combustíveis minerais, óleos de petróleo, borracha, exportamos máquinas e equipamentos e também cortiça, produtos alimentar, exportamos uma grande variedade de bens e de serviços".
"A China pôs os americanos em sentido em termos comerciais porque tem dívida americana e terras raras, sem as quais a economia digital americana não funciona. A Europa tem de descobrir aquilo que a coloque numa posição mais balanceada ou então preparar-se um tempo hostil", afirmou.
De recordar que, no sábado, Donald Trump anunciou a imposição de tarifas de 30% sobre todos os produtos da União Europeia e do México, a partir do dia 1 de agosto, em cartas publicadas na plataforma Truth Social.
Posteriormente, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que Bruxelas continua disposta a negociar com os EUA para chegar a um acordo antes de 01 de agosto, após Donald Trump anunciar tarifas de 30%.
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